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Missão da ONU analisa as condições de índios gaúchos

Zero Hora-Porto Alegre-RS
Autor: CARLOS WAGNER
19 de Nov de 2002

Técnicos chegam hoje e vão visitar três comunidades

As condições de vida dos índios gaúchos serão analisadas a partir de hoje por uma comissão da Organização das Nações Unidas (ONU).

Técnicos farão um relatório sobre a situação das comunidades indígenas em Ronda Alta, Estrela e Barra do Ribeiro.

Um drama provavelmente não será visto pelos visitantes: a história de crianças como a pequena índia Clarisse Benítez, 10 meses, que morreu de desnutrição antes de cumprir o ritual de ouvir do seu pai, Nicanor Benítez, 30 anos, a história do seu povo, os guaranis. Os seus antepassados construíram os Sete Povos das Missões, comunidades erguidas a partir de 1682 pelos índios e jesuítas.

A menina Clarisse vivia na reserva indígena de Inhacapetum, em São Miguel das Missões, cidade que surgiu ao redor das ruínas, tombadas como Patrimônio da Humanidade. Outras duas crianças, Márcia Paredes, de um ano e meio, e Patrícia Romeu, oito meses, também sucumbiram a doenças trazidas pela fome, mal que está minando a saúde de outros 31 meninos e meninas da tribo. Entre os 111 habitantes da reserva, outras 30 crianças de zero a cinco anos sofrem com sérios problemas de verminose.

A reserva Inhacapetum tem 231 hectares, mata nativa e água farta. O que era para ser um cartão-postal se tornou um pesadelo, compara o secretário municipal da saúde, Carlos Alberto Soares da Silva. A prefeitura recebe mensalmente R$ 3,6 mil da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para cuidar da saúde da tribo.

Silva enumera várias causas para explicar o problema de saúde da reserva. A primeira é a falta de apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai). Lembra que a fundação não faz as obras de infra-estrutura necessárias, como casas e auxílio na alimentação. A segunda é a imigração das famílias guaranis. Eles perambulam entre Brasil, Argentina e Paraguai em busca de empregos e para vender artesanato.

- No ano passado, tínhamos 43 pessoas na reserva. Hoje, depois da crise na Argentina, temos 111, a maioria vinda do território argentino. Na época que eram 43, já faltava infra-estrutura. Imagine agora - diz Silva.

Outra dificuldade são os hábitos culturais da comunidade. Os indígenas têm como regra primeiro tentar curar as doenças com ajuda do curandeiro, só depois procuram o médico.

CONTRAPONTO
O diz Neri Ribeiro, administrador executivo gaúcho da Fundação Nacional do Índio (Funai):
"O problema existe e estamos tentando resolvê-lo. Sabemos das boas intenções da prefeitura com a questão da desnutrição e da falta de infra-estrutura. Implantamos duas lavouras na reserva, que não irão resolver o problema, mas irão auxiliar. Os guaranis têm um cultura muito forte. O ritmo de vida deles é diferente do branco ou de outras tribos. Se fizermos as obras sem seguir o ritmo deles, podemos estar criando um problema, e não uma solução".

O ROTEIRO DA MISSÃO
HOJE
o Comunidade caingangue, Serrinha, em Ronda Alta
o Famílias: 250
o Área: 12 mil hectares
AMANHÃ
o Glória, em Estrela
o Famílias: 26
o Área: reivindicam 10 hectares
SEXTA
o Comunidade guarani, em Barra do Ribeiro
o Área: 202 hectares em regularização

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