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Ministra: Esta é a hora de agir

JB, Cidade, p. A13
Autor: SILVA, Marina
28 de Fev de 2005

Ministra: ''Esta é a hora de agir''

Entrevista: Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente

Gustavo de Almeida

A internação da ministra do Meio Ambiente Marina Silva, no Instituto do Coração, em São Paulo, sexta-feira passada, com problemas na coluna foi mais um capítulo nos dias conturbados que a ministra está vivendo. A senadora acreana, que teve alta sábado, já tinha passado a semana com o coração partido, tomado pela tristeza da perda do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho, no Rio, e da freira americana Dorothy Stang. "O que as pessoas querem de mim é que eu esteja agindo. Tomar providências era minha obrigação de Estado", disse Marina, referindo-se à própria ausência nos enterros da freira americana e de Dionísio Júlio.

- Os acontecimentos no Pará e no Rio têm semelhanças. Houve reação de quem explorava de forma irregular os recursos naturais. No caso da Reserva Biológica do Tinguá, as irregularidades em uma área federal são em grande número. Como começa a reação do governo?
- Logo que soube do acontecido com Dionísio, conversei com o secretário nacional dos Direitos Humanos, Nilmário Miranda, com o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e com o secretário de Segurança do Rio, Marcelo Itagiba. Telefonei para a família de Dionísio e não fui neste enterro nem no da irmã Dorothy porque o que as pessoas querem é que eu esteja agindo. Tomar todas as providências era minha obrigação de Estado. Dionísio era um grande colaborador do que faço como ministra e do que farei a vida inteira. Tinha uma vida de luta contra criminosos, e de participação na criação da Reserva do Tinguá.

- O que será feito no Tinguá?
- Estávamos fazendo um trabalho de reestruturação, pois até 2002 nenhuma ação concreta havia sido feita. Demos ao local uma estrutura, ainda que mínima: quatro fiscais, uma linha telefônica, instalações para trabalho. Temos agora a parceria com a Prefeitura de Nova Iguaçu, e vamos tentar estender a política a municípios onde hajam outras reservas.

- A morte de Dionísio foi um sinal de que a luta ambiental está se tornando mais perigosa?
- Era uma pessoa com uma vida de militância, e que contrariou interesses espúrios. Quando isto começa a se traduzir em violência, o Estado tem que estar presente. Tem uma cultura que foi estabelecida de que ao criar estes espaços se perdia economicamente, se gerava menos empregos. Eu vejo que nós temos um avanço muito grande na consciência ambiental, desde a morte de Chico Mendes. A própria discussão das leis ambientais foi mais profunda após o episódio. Temos nos esforçado em abrir novas parcerias, como com as prefeituras e ONGs. Mas há um ranço que permanece, uma defesa do meio ambiente "desde que o dos outros". A consciência tem que se aprofundar. Nós, ambientalistas, não vamos engessar o país, esta imagem é antiga.

- É possível dizer que sua gestão encontra oposição destes que temem um país "engessado"?
- Nestes últimos dois anos as nossas ações têm contrariado estes interesses. Os que se opõem a estes processos são aqueles que desejam o lucro a qualquer preço. As reações precisam ser entendidas em um quadro amplo. De um lado, celebramos os avanços na questão ambiental, do outro, orientamos o processo de ordenamento fundiário. Meus antecessores trabalharam mais em uma agenda de formulações. A hora é de agir. Antes de estar no governo, debatia a Lei de Crimes Ambientais, participava de conversas sobre a Lei do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação). Estávamos fazendo resistência. Quem está aqui tem que implementar tudo.

- O que mudou na forma de gerir os conflitos?
- Os processos são mais transparentes, há menor interferência do Ministério Público. A maior parte dos Termos de Ajustamento de Conduta (TAC) são demandas judiciais. No caso do Tinguá, a disputa criminosa pelos recursos é preocupante por se tratar de uma reserva biológica. As investigacões sobre a morte de Dionísio têm que prosseguir. Há suspeitas de que havia possibilidade da participação de pessoas ligadas à extração ilegal de areia - além da presença de caçadores e exploradores do palmito. A forma de gerir os conflitos mudou, a partir do momento em que tivemos avanços como a consolidação de 27 delegacias especializadas em meio ambiente na Polícia Federal. Também com participação da PF, vamos trabalhar com a Infraero na repressão maior ao tráfico de animais silvestres.

JB, 28/02/2005, Cidade, p. A13

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