VOLTAR

Ministério da Defesa suspende ações de combate aos garimpos ilegais em terra indígena no Pará

G1, Jornal Nacional - https://g1.globo.com/jornal-nacional/
06 de Ago de 2020

Ministério da Defesa suspende ações de combate aos garimpos ilegais em terra indígena no Pará
A suspensão foi anunciada um dia depois do ministro de o Meio Ambiente, Ricardo Salles, se encontrar com garimpeiros e indígenas favoráveis ao garimpo, que pediram que a operação fosse suspensa.

06/08/2020 21h06 Atualizado há 17 horas

O Ministério da Defesa suspendeu, nesta quinta-feira (6) uma operação de combate a garimpos ilegais na terra indígena Munduruku, no Pará. Na quarta-feira (5), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, se encontrou com garimpeiros e índios favoráveis ao garimpo.

Fiscais do Ibama gravaram a operação no oeste do Pará. Imagens mostram a devastação provocada pelo garimpo na floresta, que avança por uma grande área e deixa para trás piscinas de água barrenta contaminada. Na operação, os fiscais atearam fogo a equipamentos como pás-carregadeiras, que chegam a custar R$ 500 mil cada. O clima ficou tenso. Em áudios obtidos pelo Jornal Nacional, garimpeiros falam em derrubar o helicóptero usado na operação.

"Pois é, amigo. isso aí era para ter reunido a moçada tudinho. Aí o cara prefere perder uma PC, quatro, cinco PCs do que... Moço, mete bala para cima, meu amigo, e joga um helicóptero desse no chão, moço. Joga um helicóptero desse no chão. É mil 'vez', aí eles 'vai' pensar duas vezes de encostar num garimpeiro", afirma um homem no áudio. PC é uma forma de referir às máquinas pesadas usadas no garimpo.

Garimpeiros e indígenas que trabalham com eles chegaram a invadir, nesta quarta (5), a pista do aeroporto de Jacareacanga para protestar contra a operação, e impediram a decolagem de um avião que dava apoio à operação.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que estava em viagem nesta quarta à região, conversou antes com o grupo, que pediu que a operação fosse interrompida. Ricardo Salles defendeu uma negociação com eles.

"O Brasil vive esse dilema, de reconhecer, afinal de contas, depois de tanto tempo, que os indígenas têm o direito de escolher como querem viver. Têm o direito de escolher que atividade econômica querem fazer. Pare de fazer de conta que essa história de que os indígenas não querem garimpar ou não querem produzir lavoura ou não querem, em certos casos, ter atividades ligadas ao setor madeireiro florestal, como se isso fosse uma verdade absoluta", afirmou Salles.

Depois da conversa de Ricardo Salles com os garimpeiros, a operação de fiscalização foi suspensa, os helicópteros do Ibama não decolaram nesta quinta (6), e uma comitiva de representantes da região que defendem o garimpo em terras indígenas embarcou para Brasília para se reunir com autoridades do governo.

Em nota, o Ministério da Defesa disse que "reitera que a Operação Verde Brasil 2, de combate a delitos ambientais na Amazônia Legal, continua em andamento. Contudo, as ações na terra indígena Munduruku, no estado do Pará, foram interrompidas para reavaliação". Mas não deu mais detalhes do motivo que levou à suspensão da fiscalização contra o garimpo.

O Ministério do Meio Ambiente disse, em nota, que não houve "nenhuma reunião com garimpeiros, mas protesto dos indígenas inconformados com a fiscalização sobre o garimpo que eles mesmos realizam."

Imagens de satélite mostram a evolução da destruição provocada pelo garimpo em apenas um ano na terra indígena - de julho de 2019, até agora.

Adriana Ramos, coordenadora do Instituto Socioambiental, disse que essa atividade tem ser coibida, porque é ilegal.

"Preciso que sejam feitas consultas e um amplo debate pra isso. Por enquanto, garimpo em terra indígena é ilegal. Ontem mesmo o Supremo Tribunal reafirmou que é dever do poder público fazer a retirada desses garimpeiros e que só não determinaria que fosse feito imediatamente em função da pandemia. Mas não é aceitável que o ministro vá lá, conversar com aqueles que estão ocupando ilegalmente e que seja suspenso as ações de fiscalização", afirmou.

Na noite desta quinta-feira (6), o Ministério da Defesa declarou que suspendeu as operações na terras Munduruku à pedido dos indígenas.

https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/08/06/ministerio-da-d…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.