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Minc propõe imposto verde

O Globo, O País, p. 3
20 de Mai de 2008

Minc propõe imposto verde
Novo ministro afirma que Lula aceitou suas condições e apoiou punição a desmatadores

Bernardo Mello Franco

O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem, após encontro no Palácio do Planalto, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou suas precondições para assumir o cargo, entre elas a de que não vai se dobrar às pressões para rever as regras rígidas contra o desmatamento na Amazônia, que levaram sua antecessora, Marina Silva, a pedir demissão. Lula ficou ao lado de Minc na queda-de-braço pela não-concessão de créditos agrícolas a desmatadores. A suspensão dessa medida é uma das principais reivindicações dos governadores Blairo Maggi (Mato Grosso) e Ivo Cassol (Rondônia). Segundo Minc, Lula prometeu manter os principais pontos da política ambiental de Marina. De acordo com o ambientalista, que será empossado na próxima terça-feira, Lula afirmou também que aumentará os recursos destinados à pasta.

- Perguntei o que ele esperava de mim. Depois, disse todas as condições de trabalho mínimas para eu atender às expectativas dele e da sociedade. Não fui convidado para ser um anti-Marina ou um biombo verde para esconder a destruição da floresta - afirmou Minc.

O novo ministro disse ter ouvido do presidente a promessa de que o Conselho Monetário Nacional não reverá a norma que impediu os bancos oficiais de emprestarem dinheiro a proprietários que desmatam a Amazônia. Lula também teria acenado com a liberação progressiva de parte dos cerca de R$ 850 milhões que seriam destinados ao ministério e estão contingenciados para garantir o superávit primário.

- Isso é bom para as contas do governo e ruim para o meio-ambiente - disse.

Em seu primeiro encontro com Lula após o convite para integrar o governo - que também teve a participação da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff - Minc apresentou uma lista de dez idéias para melhorar os mecanismos de proteção ambiental do país. Entre elas, a criação de um modelo de incentivos fiscais para os estados que respeitarem o meio ambiente, batizado por ele de Imposto de Renda Verde. O sistema seria inspirado no ICMS Verde, que Minc implantou no Rio como secretário estadual do Ambiente.

- O presidente Lula e a ministra Dilma gostaram muito da idéia - afirmou.

Minc anunciou que Isabela Teixeira, sua subsecretária no Rio, será a secretária-executiva do ministério. A posse estava marcada para amanhã, mas ele pediu para assumir dia 27, com o objetivo de garantir a presença do governador Sérgio Cabral, que está em viagem ao exterior.

"Seja criativo, não se furte, não se acanhe"
Minc também disse que o presidente o incentivou a manter o estilo polêmico, que provocou em Brasília reações atravessadas às suas primeiras entrevistas após o convite para o ministério. Afirmou que Lula não manifestou qualquer insatisfação com a lista de exigências que ele vem desfiando desde que foi mencionado como o sucessor de Marina Silva:

- O presidente me falou o seguinte: "A única coisa que você não pode fazer é não ter idéias. Seja criativo. Não se furte, não se acanhe".

Antes de chegar ao Planalto, Minc avisou que só aceitaria o cargo com a promessa de ser um ministro forte e com recursos para implementar os principais programas da pasta.

- A pior coisa que poderia acontecer para o presidente Lula e para o país depois da saída da Marina seria ter um ministro fraco. Um ministro que não se impusesse, que não tivesse recursos para trabalhar, que não tivesse condições de participar da política tecnológica e da política industrial - argumentou.

Com o mesmo tom afirmativo usado nos últimos dias, Minc prometeu apresentar um pacote para tornar mais rígidas as leis ambientais.

- Ser ministro do diálogo não significa que não vou ser duro com o crime ambiental. Pelo contrário, vou criar uma coordenação integrada de combate aos crimes ambientais, inteligência verde, banco de dados verde. Tremei poluidores. Os criminosos ambientais vão para a prisão - prometeu.

Minc também prometeu que as ações da Polícia Federal na Operação Arco de Fogo, contra o desmatamento da Amazônia, serão intensificadas:
- As operações não podem parar agora, quando a estiagem se aproxima. A causa ambiental no Brasil não pode ser descontinuada.

No entanto, Carlos Minc deixou claro que a floresta não será sua única prioridade no governo. Ele quer reproduzir, agora em escala federal, as ações contra a poluição de rios e lagoas que o notabilizaram, em suas palavras, como "o ambientalista mais xiita do RJ nos últimos 15 anos".

Outra proposta apresentada por Minc a Lula foi a criação de um plano para ampliar as redes de coleta de esgoto, que hoje chegam a 35% dos domicílios no país.

O Globo, 20/05/2008, O País, p. 3

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