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Minc propõe controle de fornecedores

O Globo, O País, p. 3
30 de Mai de 2008

Minc propõe controle de fornecedores
Ministro diz em Bonn que exigirá de siderúrgicas e madeireiras lista de fontes de matéria-prima

Graça Magalhães-Ruether
Correspondente

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem, pouco depois de discursar na Conferência da ONU sobre Biodiversidade, que as madeireiras e as siderúrgicas da Amazônia que usarem madeira serão obrigadas a apresentar ao governo as listas de todos os seus fornecedores de matéria-prima, a fim de aumentar a transparência e tentar dificultar o uso de material de desmatamento ilegal.
Na visita de menos de um dia à Alemanha, Minc reiterou que a proteção da Amazônia é prioridade e garantiu a representantes de governos estrangeiros, de ONGs e da imprensa internacional que, a partir de 1o de junho, as empresas agrícolas responsáveis pelo desmatamento ilegal, que trabalhem sem licença ambiental ou que não tenham a posse legal das terras, sofrerão um bloqueio radical de financiamento, sem direito a créditos públicos ou privados.
- A Amazônia não vai virar carvão -- disse Minc.
O Brasil vai tomar a iniciativa de criar um plano que defina os critérios da repartição dos lucros obtidos pelas empresas estrangeiras que exploram a biodiversidade das regiões florestais brasileiras. Durante a conferência de duas semanas, que termina hoje, os 190 países participantes resolveram dar início à negociação sobre esse projeto, mas o ministro manifestou a desconfiança de que o projeto não vá à frente pela falta de interesse dos países industrializados em pagar, no que ele chamou de a "teoria do farol":
- Muitas nações ricas negam recursos para implementar o projeto, como se não quisessem pagar pelo que já lucraram com a biopirataria.
Antes de as multinacionais precisarem pagar royalties, o Brasil já introduziu uma lista de preços mínimos para os produtos da Amazônia, como lembrou Minc em Bonn. A demanda por esses produtos -- das ervas medicinais aos óleos de plantas amazônicas usadas na produção de cosméticos -- é grande, e uma garantia de preços ajudaria na arrecadação de mais recursos.
No pronunciamento realizado no plenário do antigo parlamento alemão, Minc também defendeu o programa dos biocombustíveis. Ele lembrou que o governo brasileiro não foge de nenhuma discussão aberta sobre os possíveis impactos ecológicos causados pelos biocombustíveis.
No dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, o ministério deverá lançar, segundo Minc, a segunda fase d o Plano d e Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa ) , englobando uma área de até 60 milhões de hectares que será protegida ate 2012. Na primeira fase, serão 20 milhões de hectares, sendo que dez milhões serão de reserva florestal e os outros dez, área de uso sustentável. As reservas da Amazônia - no Xingu, em Ituxi e em Mapingari - deverão ser demarcadas exatamente numa região hoje ameaçada por desmatamentos, formando uma espécie de "cinturão verde".
O anúncio do projeto causou entusiasmo internacional, a julgar pelos organismos que já entram na lista de doadores: WWF, Kredit für Wiederaubau (banco alemão de desenvolvimento) e Banco Mundial.
O ministro se referiu à reunião que terá hoje de manhã em Belém com cinco governadores da Região Amazônica e ainda o presidente Lula como a sua "segunda prova de fogo" apenas três dias depois da posse.
Ele já advertiu os governadores, por telefone, que só receberão recursos do seu ministério os que trabalharem respeitando a biodiversidade.
Aos povos indígenas, o Ministério do Meio Ambiente pretende liberar R$ 136 milhões. Ao ouvirem a promessa, os índios presentes à conferencia aplaudiram.
No próximo dia 5, o presidente Lula lançará o Fundo Nacional de Proteção à Amazônia, que já tem oferta de recursos de US$ 100 milhões da Noruega e 500 milhões de euros da Alemanha.

O Globo, 30/05/2008, O País, p. 3

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