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Milton Nascimento retoma palco com turnê politizada

FSP, Ilustrada, p. C6
05 de Abr de 2017

Milton Nascimento retoma palco com turnê politizada
Após estrear em Belo Horizonte, Semente da Terra chega a São Paulo em 1o/7
De volta a minas Gerais, cantor e compositor quer levar 'mensagem de esperança todos os povos' com o novo show

Amanda Nogueira

Milton Nascimento cantava para milhares de pessoas na praça do Rádio, em Campo Grande (MS), enquanto 37 nhanderús, lideranças indígenas rezadoras devotas ao Deus da mitologia guarani, debatiam nos bastidores com uma foto do artista que não lhes era familiar.
Após quase duas horas de deliberação, subiram ao palco antes que o cantor pudesse arrematar o espetáculo com um bis. Um sacerdote tirou-lhe o microfone para que os outros pintassem de preto o seu rosto em um inesperado ritual de batismo.
Anunciaram-lhe que seu nome, a partir daquela noite, seria Ava Nheyeyru Iyi Yvy Renhoi, que em português significa semente da terra.
É sob a mesma alcunha que Milton, também conhecido como Bituca, nomeia sua nova turnê. Ela surge sete anos após a cerimônia que narra em detalhes à reportagem, e um ano depois de um período longe dos palcos "sem motivo específico".
"Eu mesmo já vinha há alguns anos querendo tirar um tempo pra mim. Achei que 2016 seria o ano ideal para fazê-lo, como realmente foi", diz. Ele aproveitou a temporada para deixar o Rio de Janeiro e se mudar para Juiz de Fora, onde seu filho Augusto Kesrouani estudava Direito.
Aos 74 anos, Milton se mantém como um dos artistas mais relevantes da música brasileira, celebrando uma trajetória de 50 anos, quando lançou o álbum de estreia, "Travessia". "É o mote fundamental da minha carreira", afirma. Para ele, o disco foi responsável por trazer tudo de bom naquele ano, inclusive amigos como Elis Regina e Eumir Deodato.
Inspirado pelos guaranis-kaiowás do Mato Grosso do Sul, ele estreou no último dia 25, em Belo Horizonte, a turnê Semente da Terra, que chega a São Paulo no dia 1o de julho com um show no Espaço das Américas.
O espetáculo, ele diz, é dedicado a todos os povos. "Viva para os guaranis-kaiowás, assim como um viva para todos os negros e pobres de todos os cantos do mundo".
No repertório, concebido pelo diretor artístico e assessor de imprensa Danilo Nuha, estão canções representativas das principais lutas do artista, como "Milagres dos Peixes", "Terceira Margem do Rio", "Sentinela" e "Lágrimas do Sul". A seleção também contempla seus principais parceiros, como Fernando Brant e Ronaldo Bastos.
"Todos os projetos sociais em que tomei parte ao longo da minha vida estão presentes de alguma maneira neste show", resume, esquivando-se de descrevê-lo como um ato panfletário.
"Existe algo mais político que juntar Dom Hélder Câmara, Zumbi, Marçal de Souza, Dom Pedro Casaldáliga, Silvio Rodríguez, Pedro Tierra, Caetano Veloso, Chico Buarque e Fernando Brant?".
Milton quer, em suma, evidenciar as minorias, mas também proporcionar ao público uma reflexão sobre os dias atuais. "Hoje o meu desejo mais simples é passar uma mensagem de esperança, o momento atual pede isso."

FSP, 05/04/2017, Ilustrada, p. C6

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/04/1872702-com-nova-turne-m…

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