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Milhares de pessoas saem às ruas do Rio contra negociações da conferência da ONU

ISA - http://www.socioambiental.org
Autor: Oswaldo Braga de Souza
21 de Jun de 2012

Marcha de cerca de 60 mil pessoas parou ontem o centro do Rio de Janeiro para criticar negociações e propostas da Rio+20. Política ambiental do governo Dilma Rousseff voltou a ser alvo de manifestantes. Indígenas liderados por Raoni Kayapó fazem protesto a cerca de um quilômetro da conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável

Milhares de pessoas saíram às ruas do Rio de Janeiro para protestar contra a forma como estão sendo conduzidas as negociações na Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

De manhã, uma mobilização aconteceu a menos de um quilômetro do pavilhão do Rio Centro, onde está acontecendo a conferência (leia mais abaixo). À tarde, cerca de 60 mil pessoas atravessaram boa parte da Avenida Rio Branco, uma das principais do centro da cidade.

As mudanças na legislação ambiental, em especial no Código Florestal, entre outros retrocessos na área ambiental impostos pelo governo de Dilma Rousseff, foram criticados nos protestos.

A falta de transparência, participação e legitimidade das negociações diplomáticas, as grandes corporações e o mercado financeiro internacionais também foram alvo dos manifestantes. Nas faixas e palavras de ordem, as propostas relacionadas à economia verde e governança global - os dois temas principais da Rio+20 - foram consideradas formas de mercantilizar e privatizar os recursos naturais.

As mobilizações foram organizadas pela coordenação da Cúpula dos Povos, que acontece no Aterro do Flamengo e é um contraponto às propostas negociadas da Rio+20.

Teatro da diplomacia

"A reunião oficial dos chefes de Estado é um teatro, o teatro da diplomacia", criticou João Pedro Stédile, da direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

"O documento que está sendo discutido[na Rio+20] é pior do que o de 1992. Isso deve servir como uma contradição positiva, para que a população se dê conta e não espere nada dos governos e empresas. Nós, o povo, é que temos de nos conscientizar e nos organizar para lutar por uma melhor qualidade de vida em equilíbrio com a natureza", afirmou Stédile.

Ele avaliou a marcha no centro do Rio como uma das maiores manifestações populares dos últimos 20 anos e que ela "demonstra que há energias na sociedade que querem se mobilizar para fazer mudanças reais".

"A conferência fala para si mesma. Entre um fracasso geral e um fracasso com documento, a Rio+20 optou por um fracasso com documento", afirmou Nilo D'ávila, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace.

Ele considerou surpreendente a receptividade da discussão sobre os retrocessos ambientais do governo Dilma entre movimentos e organizações não ambientalistas na Cúpula dos Povos. "Em todos os eventos onde o assunto foi tocado, houve repercussão."

Diversidade

Como em outras manifestações da Cúpula dos Povos, chamou a atenção mais uma vez a diversidade de organizações e bandeiras nas mobilizações de ontem.

Estavam lá desde as organizações não governamentais ambientalistas e ecologistas, que acompanham mais de perto as negociações que envolvem a Rio+20, até feministas, movimento negro, camponeses, povos indígenas e tradicionais, passando por partidos, sindicatos e coletivos dos mais variados matizes ideológicos e formas de atuação.

"A marcha concentra vários temas dos grupos aqui representados, mas que convergem para os temas da Rio+20. A questão comum é que não acreditamos no modelo de discussão da ONU", apontou Ivy Wiens, do ISA e da coordenação da Rede Mata Atlântica.

Ela defendeu que, apesar de ainda não haver grandes consensos sobre as alternativas às propostas discutidas na Rio+20, já há soluções viáveis desenvolvidas em experiências da sociedade civil, muitas das quais apresentadas na Cúpula dos Povos, como iniciativas de economia solidária e a agroecologia.

Vila Autódromo

Pela manhã, índios que queriam falar aos chefes de Estado ficaram frente a frente com o cordão de isolamento da tropa de choque, a cerca de um quilômetro do Rio Centro, onde está acontecendo a Rio+20. O grupo foi liderado por Raoni Kayapó, que protestava contra as hidrelétricas e especialmente contra a hidrelétrica de Belo Monte, em construção no Pará.

O secretário geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, foi ao local e comprometeu-se a negociar a ida de uma comissão de indígenas à conferência até amanhã, quando ela termina. Depois da promessa, os manifestantes retiraram-se.

O grupo estava num protesto na Vila do Autódromo, comunidade que fica ao lado do Rio Centro e está sendo ameaçada de despejo por causa de obras da Copa do Mundo de 2014 e da especulação imobiliária. A mobilização era contra a tentativa de expulsão dos moradores da vila e de dezenas de outras comunidades pobres ameaçadas por obras da Copa em todo o Brasil. Depois do protesto, os índios resolveram tentar aproximar-se do Rio Centro para realizar outro, na conferência da ONU.

A comunidade fica bem ao lado do Rio Centro, em Jacarepaguá, próximo à Barra da Tijuca, uma das áreas nobres do Rio de Janeiro. Apesar de ter sido fundada em 1967, a favela tem condições precárias e é cercada por um canal de esgoto. Os moradores vêm sendo ameaçados de expulsão desde 1992, quando aconteceu no mesmo Rio Centro a Rio-92.

http://www.socioambiental.org/noticias/nsa/detalhe?id=3594

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