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Mestre em geografia, indígena palestra, conta histórias e canta para conscientizar mulheres na Amazônia

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Autor: Flávio Lacerda
25 de Jan de 2018

Conscientizar mulheres indígenas sobre a força feminina e luta pela terra está entre em as missões de vida da mestre em geografia Márcia Wayna, de 39 anos da etnia Omágua Kambeba. Ela nasceu na Aldeia Belém de Solimões, do povo Ticuna, no interior do Amazonas, onde morou até os oito anos de idade. Atualmente, vive em Castanhal, a 70 km de Belém. Desde 2008, ela percorre comunidades indígenas no Amazonas, no Pará e em outras regiões do país.

O trabalho dela é voltado para a valorização da cultura indígena e também luta por melhores condições de vida nas aldeias. A ideia é fazer com que as novas gerações não esqueçam os costumes dos povos tradicionais, por isso ela percorre as aldeias realizando palestras, rodas de conversa, entre outras ações. Ela também participa de eventos ligados à luta indígena, onde expõe os anseios dos povos que vivem na floresta e também luta pela valorização da mulher indígena, inclusive contra a violência que elas até hoje enfrentam. Ela publicou o livro "Ay Kakyri Tama" (Eu moro na cidade).

Formada em Geografia pela Universidade do Estado do Amazonas, com mestrado em Geografia Cultural pela Universidade Federal do Amazonas. Márcia também é escritora, fotógrafa, cantora e compõe em Tupi. O trabalho militante dela começou ainda durante a graduação e foi se intensificando com o passar dos anos. Sua avó, antes de falecer, pediu para que ela continuasse o trabalho desenvolvido nas aldeias. E o pedido foi atendido, Márcia é hoje uma das lideranças indígenas mais atuantes na Amazônia.

A proximidade dos indígenas com a cidade, muitas vezes os afastam do território sagrado, prejudicando a relação com a espiritualidade ancestral, por isso o trabalho que ela desenvolve resgata os valores ancestrais e reaproximam os indígenas de suas culturas. Nas aldeias, ela desenvolve um trabalho de motivação e valorização da cultura dos povos tradicionais, baseado na sabedoria dos mais velhos, por meio de conversas, rituais e danças. "Meu trabalho é levar o descolonialismo, relembrando a eles quem somos, povos originários, doutores por excelência de saberes que a natureza nos ensinou e a vida conservou", disse.

Através de poesias, cantos e palestras, Márcia chama a atenção para vários temas ligados à cultura indígena, entre eles a valorização da força da mulher nas aldeias. "Meu trabalho cultural luta pela terra, resistência, força da mulher indígena e sua importância dentro e fora da aldeia", disse. Segundo ela, ainda hoje os indígenas são agredidos diariamente e sofrem preconceito, principalmente nas universidades, fazendo com que os indígenas desistam de estudar. "Não queremos briga, desavença. O mundo está cheio de violência, então para quê gerar mais violência? Hoje, os indígenas buscam informar até seu agressor", afirmou.

O que motiva ela a continuar com a militância não é ganhar nada, muitas vezes ela gasta dinheiro do próprio bolso para chegas nas aldeias. Dar continuidade ao trabalho que sua avó desenvolvia em uma de suas motivações. "Vejo que nossa cultura está sendo assassinada por uma parcela do povo brasileiro que nos quer dizimados ou fora de áreas que para eles é produtiva ou rica em minério e para nós é território ancestral".

O trabalho não é restrito aos povos da Amazônia, logo após concluir o mestrado ela passou a viajar para outras regiões do Brasil, participando de palestras onde fala sobre territorialidade, cultura e identidade indígena. "Faço disso uma missão até quando meus braços e pernas permitirem, quero para meu filho e meus netos e para as crianças nas aldeias uma cultura rica e resistente, então escrevo, componho, fotografo e sigo informando o agressor", disse. Ainda segundo ela, os desafios são muitos, mas é preciso lutar. São várias demandas: melhorias na educação, saúde, saneamento básico nas aldeias, proteção das terras e riquezas naturais e, sobretudo, respeito a cultura e história dos povos indígenas. "Eu resisto, existindo".

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