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Mercados - Índios beneficiados pela doença

A Tarde - Salvador - BA
08 de Mar de 2001

Não queríamos vassoura-de-bruxa. Nós queríamos nossas terras de volta, mas não posso negar que a vassoura trouxe benefícios para nós. Facilitou as negociações para a devolução das terras e os fazendeiros ficaram sem dinheiro, não podem mais contratar pistoleiros para nos matar. Quem fala é o cacique Gerson, do povo pataxó hã-hã-hãe, da reserva Caramuru-Paraguaçu, em Pau Brasil, a tribo que ficou famosa no Brasil porque o índio Galdino morreu queimado por estudantes em Brasília justamente quando tentava mais uma audiência na Funai para resolver o conflito.

O cacique fala que o problema ainda não está resolvido, mas admite que a crise do cacau acabou sendo benéfica. São mais de duas décadas de conflitos, que resultaram em 12 mortes de companheiros nossos. Antigamente pistoleiro aqui era mato. Matar índio e delegado era normal. A doença do cacau acabou esse tempo, diz ele, fazendo a ressalva de que atualmente a tática dos fazendeiros é derrubar o que resta de floresta. Já chamamos o Ibama mais de 20 vezes e até agora não adiantou nada. Quando chegarem, a terra vai estar acabada. Por que é que é assim? Por que não atendem? É só porque somos índios?.

A reserva engloba os municípios de Pau Brasil, Itaju do Colonia, Camacã e Potiraguá, tem 53.425 hectares, conforme perícia realizada pela Funai em 1998, abrigando 435 fazendas, cujos títulos foram distribuídos pelo governo estadual, segundo os índios, principalmente nos governos de ACM (o primeiro mandato), Roberto Santos e João Durval Carneiro. Historicamente os fazendeiros, todos cacaicultores, sempre reagiram à idéia de devolvê-las, às vezes violentamente. Hoje, a situação é outra. Quarenta e três já encaminharam pedidos de vistoria para fins de indenização (das benfeitorias) e aguardam resposta.

Alberto Pereira, um dos fazendeiros, foi indenizado, recebeu R$ 306 mil e reconheceu publicamente que a terra é nossa. Duas das 43 já foram pagas e duas estão com os recursos empenhados. Queremos nossas terras de volta e agora a situação só depende do governo, diz o cacique Gerson Souza Melo, assinalando que apesar dos ventos favoráveis ainda enfrenta muitos problemas. O processo está no Supremo Tribunal há mais de 20 anos. Por que eles não julgam? Nem agora que a vassoura-de-bruxa facilitou as negociações eles julgam, observa, fazendo a ressalva. Mas nós ainda estamos abandonados pelo governo.

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