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Mensaleiros ficaram no fundo do palco

O Globo, O País, p. 4
21 de Fev de 2010

Mensaleiros ficaram no fundo do palco
Na plateia, torcida da ala feminina, petistas polêmicos e até índios

Maria Lima, Diana Fernandes e Cristiane Jungblut

O vermelhão do PT, ontem, foi quebrado pelas bandeiras lilases da ala das mulheres petistas, que viam na ministra Dilma Rousseff a primeira oportunidade concreta de chegarem à Presidência. Citada muitas vezes no discurso da ministra, a ala feminina ajudou a levantar a militância na apresentação da pré-candidata, que, mesmo treinada em palanques e por marqueteiros, manteve-se como é, num estilo ainda muito distante do de Lula, mais popular e emocionante.

O painel selo da campanha, com foto de Lula e Dilma de braços levantados, dá o mote da continuidade: "Com Dilma, pelo caminho que Lula nos ensinou".

Para quebrar o ar sisudo de Dilma, o marqueteiro João Santana e sua equipe trabalham para tentar dar mais leveza à imagem da ministra, adotando figurino mais jovial, mas comportado.

Como a candidata a presidente Heloísa Helena em 2006, que naquela campanha adotou como uniforme uma blusa branca com gola de padre, Dilma parece que terá um modelo preferencial: blusa com decote desestruturado, gola meio plissada do lado, deixando braços e colo à mostra, adornada de corrente dourada e pingente de brilhantes.

No primeiro dia do encontro, ela foi com um modelo azulpiscina.

Ontem, o mesmo modelo foi repetido em vermelho.

Apesar de todo o esforço de Lula em apresentar sua candidata como a melhor de todos, desfiando suas qualidades, a militância se empolgou mesmo foi com a simples citação do polêmico ex-ministro José Dirceu.

Excluídos do palanque, Dirceu e um grupo de parlamentares mensaleiros ficaram num canto, ao fundo do palco. Lá estavam José Genoino (PT-SP), José Mentor (PT-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), Professor Luizinho (PT-SP) e o próprio Dirceu, abraçado por quem passava.

Mas de nada adiantou a tentativa de tirá-los dos holofotes do palanque de Dilma. Bastou Lula fazer uma menção a Dirceu em seu discurso e o plenário quase veio abaixo - foi o segundo mais aplaudido, em intensidade, depois de Lula.

Mas os militantes petistas se divertiram mesmo foi com os jingles que vão animar a campanha de Dilma. Um é uma releitura do "olê, olê, olá, Lula lá", substituindo o nome do presidente pelo da candidata. O que embalou o plenário, ministros e até Lula foi o jingle com ritmo de velha marchinha de carnaval, que diz: "Depois do Cara, vem a Coroa... O povo quer, é gente boa... Deixa o Lulinha sair, deixa a Dilminha entrar". No final, Dilma comentou, sorrindo: - De um determinado ponto de vista, é muito bom ser coroa, viu gente? A ministra admitiu que ficou "emocionada" e "ner vosa" com a festa petista.

- É emocionante, mais emocionante, impossível. É uma grande honra, foi um momento...

A gente fica (nervosa), mas é um nervoso bom.

A entrada triunfal da candidata e do presidente Lula no auditório lotado por mais de duas mil pessoas foi ao som do trio Os Misturalistas, que tocaram "Aquarela do Brasil", enquanto mulheres montavam um enorme painel de Ikebana, com flores do Cerrado e estrelas vermelhas.

Quando Dilma foi chamada para fazer seu discurso de estreia , recebeu um buquê de rosas vermelhas.

Na plateia, um grupo de integrantes de várias comunidades indígenas quase tira o brilho da festa. Tão logo Lula começou a discursar, eles foram para o meio do plenário e desfraldaram faixas pedindo a demissão do presidente da Funai, Márcio Meira.

- Lula! Lula! Índio quer falar - gritavam, com estardalhaço.

Lula ouviu o apelo e prometeu reabrir a discussão sobre o decreto que muda regras de funcionamento da Funai nos estados.

O Globo, 21/02/2010, O País, p. 4

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