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Menos carne para salvar o planeta

O Globo, Sociedade, p. 22
12 de Out de 2018

Menos carne para salvar o planeta

ANA PAULA BLOWER E PAULA FERREIRA
sociedade@oglobo.com.br

O mundo poderia alimentar sua crescente população sem causar danos irreparáveis ao meio ambiente se as pessoas consumissem menos carne, cortassem pela metade o desperdício de comida e adotassem melhores práticas agrícolas. Não implementar uma dessas ações pode intensificar as mudanças climáticas, aumentar a poluição e esgotar os recursos naturais. O alerta é de um estudo feito por uma equipe internacional de pesquisadores, divulgado ontem.
De acordo com a pesquisa, reduzir 90% do consumo de carnes em países ocidentais é necessário para conter o aquecimento global e evitar que o planeta entre em colapso. A produção de alimentos gera gases do efeito estufa na criação de gado, destrói florestas e usa quantidades insustentáveis de água. O estudo é o mais amplo já realizado sobre como hábitos alimentares afetam o meio ambiente.
No caso do Brasil, especialistas indicam que para promover essa redução de danos é necessário melhorar a eficiência da produção agropecuária e impulsionar políticas públicas que mudem os hábitos de consumo da população.
Seguindo as atuais circunstâncias, segundo a ONU, o mundo precisará produzir 50% a mais de alimentos para sustentar quase 10 bilhões de pessoas até 2050. Se nada for feito, isso pode aumentar o impacto da produção no ambiente em até 90% até 2050, para um nível em que o planeta não seja mais um "espaço seguro para a humanidade", diz o estudo. Diante disso, os pesquisadores concluem que uma solução única não evitará os perigos e, portanto, é necessária uma abordagem combinada.
-Podemos optar por uma variedade de dietas saudáveis, mas o que todas elas têm em comum, segundo as evidências científicas recentes, é que são relativamente vegetais - aponta o principal autor do estudo, Marco Springmann, da Universidade de Oxford.
A pecuária é responsável pela produção de 14,5% do total de gases do efeito estufa, além de impulsionar o desmatamento para a criação de pasto e consumir cerca de 7 mil litros de água para a produção de 500 gramas de carne. O estudo ressalta que o uso excessivo de nitrogênio e fósforo no sistema de produção alimentar impulsiona mudanças climáticas, aumenta a poluição e esgota a água doce.
Diante disso, os autores defendem uma alimentação com ampla base vegetal. Se o mundo adotasse esse tipo de dieta, diz a pesquisa, as emissões de gases de efeito estufa provenientes da agricultura seriam reduzidas em mais da metade.
Para Bernardo Strassburg, professor da PUCRio e diretor-executivo do Instituto Internacional para Sustentabilidade, uma mudança drástica nos hábitos alimentares em larga escala é muito difícil, mas é possível colocar em prática uma redução gradual.
- Então a gente tem que virar vegetariano? Não precisa ser um extremo ou outro, continuar consumindo como hoje ou parar totalmente de consumir. São poucas as pessoas que no curto prazo vão querer fazer uma mudança radical. Mas, se a população passa a consumir metade do que consome hoje, já há um impacto grande - argumenta, defendendo ainda que o governo pode promover essa mudança taxando alimentos produzidos a partir de uma alta demanda ambiental.
Com relação à quantidade de comida descartada - atualmente um terço do total -, esta também precisaria ser reduzida pela metade. Além dos hábitos alimentares, outro problema latente apontado pelo relatório são as práticas agrícolas ineficientes ou danosas. Os autores do estudo argumentam que é preciso, por exemplo, melhorar o gerenciamento da água e restringir o uso de fertilizantes. Nesse sentido, o Brasil é um péssimo exemplo. O secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, diz que o país faz uma ocupação prejudicial do solo e que é necessária uma política eficiente para mudar o cenário.
-A média de ocupação de pastagem é de menos de um animal para cada 10 mil m². O gado torna o solo cada vez mais frágil, aí o dono muda para outra área e desmata, e assim sucessivamente. Há milhares de pequenas fazendas, que utilizam práticas seculares, esses produtores requerem assistência técnica - argumenta. - Em relação aos grandes produtores, é preciso dar incentivo para aqueles que adotam boas práticas.

O Globo, 12/10/2018, Sociedade, p. 22

https://oglobo.globo.com/sociedade/reduzir-consumo-de-carne-necessario-…

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