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Menos árvores no chão

CB, Brasil, p.12
27 de Ago de 2005

Menos árvores no chão
Levantamento oficial feito por satélites indica queda de 50% no desmatamento na região amazônica brasileira, em relação a 2004. Mas Mato Grosso continua liderando o ranking de derrubada da mata

Municípios campeões do desmatamento* Juara (MT): 348 / Nova Ubiratã (MT): 332 / São Félix do Xingu (PA): 330 / Tapurah (MT): 316 / Nova Maringá (MT): 304 * Em quilômetros quadrados

André Carravilla

O desmatamento da Amazônia nos últimos 11 meses caiu 50% em relação ao mesmo período de 2003 e 2004. Dados preliminares divulgados ontem pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, apontam que, entre julho do ano passado e agosto deste ano, a área devastada foi de 9.106 quilômetros quadrados. O levantamento anterior indicava que foram derrubadas árvores de uma área equivalente a mais de 18 mil quilômetros quadrados. 0 governo torce para que os próximos números, que serão divulgados em dezembro, confirmem a redução.
Atualmente, existem dois sistemas de monitoramento para medir as taxas de desmatamento da região, ambos feitos por satélite. Os dados anunciados ontem são do Sistema de Detecção em Tempo Real de Desmatamento (Deter), que tira fotos diárias de uma área de 62,5 mil quilômetros quadrados e as envia semanalmente para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O segundo sistema é o Projeto de Estimativa do Desmatamento da Amazônia, que permite visualizar áreas de 900 quilômetros quadrados. Embora seja mais preciso, o sistema é tido como mais lento.
"O importante é que o Deter registrou uma queda grande nas taxas de desmatamento. Mesmo que o Prodes não registre uma redução tão acentuada, vai haver alguma, com certeza", aposta o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco. 0 Deter começou a ser utilizado há apenas dois anos e permite visualizar grandes desmatamentos nos momentos em que ocorrem. Dessa forma é possível informar as autoridades e tomar providências. "É só receber o comunicado que é enviada uma equipe da Polícia Federal (PF) e do Ibama para o local. É uma maneira de otimizar o trabalho das equipes, que não precisam procurar as áreas de desmatamento e vão direto para os locais certos", explica.
Operações
Para o governo, as ações da PF e do Ibama na região têm contribuído para diminuir as taxas de desmatamento. Nos últimos dois anos e meio foram realizadas quatro grandes operações, a maior delas a Curupira, em Mato Grosso. Realizada há dois meses, resultou na prisão de 126 pessoas, sendo 47 servidores do Ibama. Na opinião da ministra, a parceria de vários órgãos do governo com a PF tem sido um sucesso, prova disso é a apreensão de 93 mil metros cúbicos de madeira apenas este ano e o aprimoramento das ações de fiscalização que resultaram na aplicação de mais de 3 mil autos de infração nos primeiros oito meses de 2005.
0 governo considera ainda que a adoção de medidas para combater a grilagem de terras ajudou a fazer com que o desmatamento tenha diminuído. Marina Silva comemorou o fato do atual governo ter criado 82 mil quilômetros quadrados em unidades de conservação florestal. Ela explicou que nos momentos em que é detectada exploração imobiliária de uma área onde, por exemplo, será construída uma rodovia, o governo intervém criando uma dessas unidades.
No início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Pará liderava o ranking do desmatamento entre os nove estados que compõem a região amazônica. O último levantamento indica que o panorama mudou e que Mato Grosso é agora o estado mais problemático. "No Mato Grosso a situação é muito complexa porque há uma quantidade de terra desmatada e talvez a ausência de adesão ao plano de combate ao desmatamento, que está sendo recuperado agora porque estamos assinando vários convênios com o governo do estado", afirmou a ministra que aproveitou a ocasião para prometer providências.

Verde destruído

Área desmatada, segundo o Deter
2003/2004: 18.724km2
2004/2005: 9.106km2
O Deter realiza um monitoramento diário da devastação, mas registra apenas grandes desmatamentos.
Área desmatada, segundo o Prodes
2000/2001: 18.165km2
2001/2002: 23.143km2
2002/2003: 24.597km2
2003/2004: 26.130km2
2004/2005: serão divulgados em dezembro. O Prodes é responsável pelo relatório anual de desmatamento, e que inclui também pequenas áreas devastadas.

Fontes: Detecção em Tempo Real do Desflorestamento na Amazônia (Deter) e Projeto de Estimativa do Desflorestamento da Amazônia (Prodes)

"É a economia", dizem as ONGs
As organizações não-governamentais (ONGs) que se dedicam às causas ecológicas também comemoraram a redução das taxas de desmatamento. Contudo, desconfiam da tese de que o resultado é conseqüência das iniciativas governamentais. Preferem atribuir os bons números à conjuntura econômica. "0 preço da soja caiu, o dólar não vale tanto quanto no ano passado e os produtores rurais da região estão descapitalizados. Não tem como devastar sem dinheiro" , acredita Mauro Armelim, coordenador de Políticas Florestais da Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil).
Armelim afirma que, no último dia 16, a WWF enviou carta à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, para protestar contra a suposta ineficácia do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, coordenado por ela e do qual participam 13 ministérios. "Decorridos 17 meses de seu lançamento, é possível afirmar que o plano, formulado de acordo com uma estrutura que continha quatro componentes, está sendo implementado de forma tão limitada e parcial que acaba esvaziando seu desenho e estratégia originais", diz a WWF, na carta.
A ONG afirma que em 2004, dos R$ 82 milhões estimados para as ações, foram repassados ao Ibama apenas R$ 40 milhões em agosto daquele ano, já no fim da época do desmatamento na maior parte da região, e outros R$ 20 milhões em dezembro, apenas dois dias antes do fechamento do ano fiscal. "Isso faz com que dificilmente eles podem ter sido efetivamente destinados às ações previstas no plano", critica a WWF (AC)

CB, 27/08/2005, Brasil, p. 12

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