VOLTAR

Meio ambiente do Rio

O Globo, Tema em Discussão, p. 6
Autor: BARROS, Reynaldo de
19 de Mai de 2005

Meio ambiente do Rio

Abrir o foco

Os graves problemas ambientais do Rio de Janeiro são em alguns casos antigos - como acontece com a poluição da Baía de Guanabara e da Lagoa Rodrigo de Freitas - mas sem dúvida agravados pela urbanização desenfreada e sem planejamento.
A Barra da Tijuca, que se tornou bairro sem dispor de infra-estrutura de saneamento, é o exemplo mais flagrante. Mas está longe de ser o único, nesta cidade que não consegue evitar a crescente favelização, cujo avanço traz sempre uma inevitável degradação ambiental.
De fato, será inútil tentar recuperar o meio ambiente no Rio a partir de uma visão puramente ecológica. Não há aqui paradoxo, apenas o necessário reconhecimento de que equivale a enxugar gelo tentar despoluir quando fatores poluidores continuam a proliferar descontroladamente.
Os desastres ambientais que periodicamente acontecem são justamente o resultado desse descontrole - no caso, a falta de fiscalização da atividade de indústrias. Mas empreendimentos imobiliários de grande porte que recebem o habite-se sem que disponham de uma rede adequada de saneamento e esgotamento sanitário; a expansão incontida das favelas; o contínuo despejo de rejeitos industriais; o assoreamento de lagoas; e a poluição atmosférica que resulta de cotidianos congestionamentos do trânsito não são questões puramente ambientais, mas sim urbanas no seu sentido mais amplo.
A resposta a todos esses problemas está no âmbito do planejamento administrativo. Eles só serão resolvidos ou minorados por uma ação vigorosa e de longo prazo do poder público.

Uma nova gestão
Reynaldo Barros
O Rio de Janeiro, um dos cartões-postais mais bonitos do mundo, pede socorro. A degradação ambiental permanente da Baía de Guanabara, da Lagoa Rodrigo de Freitas, do Complexo Lagunar da Tijuca e de Jacarepaguá e de outros paraísos ecológicos está pondo em risco o equilíbrio dos ecossistemas naturais e, conseqüentemente, prejudicando a pesca, o lazer, a saúde da população, o turismo e a socioeconomia locais.
As intervenções e atuações dos órgãos gestores não vêm surtindo efeito ao longo do tempo, e as soluções aplicadas têm sido ineficientes e, muitas vezes, prejudiciais a esses ecossistemas naturais. A efetiva recuperação ambiental só será possível com uma nova postura na gestão ambiental, em que prevaleça o senso de urgência nas ações. É imprescindível a adoção de um modelo político de governo com sustentabilidade ambiental. Técnica e vontade política precisam andar juntas para que este resgate se torne realidade.
A gestão sustentável inclui investimentos, normalmente de menor monta, em obras e atuações preventivas, como monitoramento e fiscalização ambientais; criação de programas de educação ambiental; implantação de uma política de coleta seletiva e reciclagem do lixo; uso e ocupação ordenados do solo; preservação das faixas marginais; reflorestamento de nascentes dos rios nas bacias hidrográficas; controle de erosão do solo; obras para regularização do regime fluvial que escoa em direção às lagoas e à Baía de Guanabara; e reuso dos esgotos sanitários.
O esgoto tratado pode se transformar em biogás para produção de energia, adubo, recarga de água subterrânea, irrigação, lavagem de logradouros públicos etc., evitando a poluição ambiental e gerando benefícios econômicos.
As tecnologias das soluções sustentáveis vêm sendo cada vez mais aplicadas em várias partes do mundo, havendo realmente "uma luz no fim do túnel" para os problemas ambientais nas grandes cidades. Por que não adotar esses conceitos modernos, como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, e que permitem o desenvolvimento do ser humano com valorização da Natureza?
Com soluções científicas e tecnológicas sustentáveis, os cartões-postais do Rio de Janeiro voltarão a brilhar. As autoridades devem se associar à boa técnica para que a política traga resultados de fato para a sociedade.

Reynaldo Barros é presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ).

O Globo, 19/05/2005, Tema em Discussão, p. 6

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.