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Médico diz que Funasa loteada afeta índios

OESP, Nacional, p. A14
12 de Mar de 2005

Médico diz que Funasa loteada afeta índios
Morais, que trabalha com tribos de RR, acusa governo Lula de lotear fundação

Roldão Arruda

Os problemas de funcionamento da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que ganharam evidência com as recentes mortes de crianças indígenas por desnutrição, poderiam ser menores se o governo tivesse sido mais criterioso na escolha de diretores e coordenadores. Para o médico Paulo Daniel Morais, que trabalha com comunidades indígenas de Roraima e integra o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), maior entidade do setor no País, o loteamento político dos cargos pelo governo Lula só agravou os problemas.
"As coordenações estaduais e chefias distritais foram entregues a políticos, que às vezes se preocupam mais em agradar os padrinhos políticos que as comunidades indígenas", disse o médico. "Em Roraima, quem influenciou a escolha do coordenador estadual foi o senador Romero Jucá, que historicamente não é bem visto pelos índios."
Jucá, do PMDB, é cotado para ocupar o Ministério da Previdência. O coordenador que teria sido indicado por ele é o médico Ramiro Teixeira, candidato a deputado estadual derrotado nas eleições passadas. Não é o único caso de político derrotado nas urnas que acabou indo para a Funasa. A coordenadora de Sergipe, Lourdes Goretti Reis, também caiu na disputa eleitoral, concorrendo pelo PT.

DEFESA
O presidente da Funasa, o médico e professor universitário Valdi Camarcio Bezerra, rebateu a afirmação de que os políticos definiram as escolhas. Também rejeita a vinculação das mortes em Mato Grosso do Sul com os critérios de nomeação. "Pode ter havido indicações. Mas só foram escolhidos nomes de pessoas que atendiam aos critérios técnicos para as missões da Funasa nas áreas de saúde indígena e saneamento ambiental nas pequenas cidades. Em nenhum lugar a questão política ficou acima do critério técnico."
Sobre a possibilidade de terem sido escolhidas pessoas sem experiência na área indígena, respondeu: "Pode ter sido o caso de um outro técnico, mas é certo que ele logo buscou aprender." Bezerra também rebateu a afirmação de que os serviços pioraram: "Ainda temos problemas graves, mas a situação era muito pior."
Bezerra é um petista histórico. Ajudou a fundar o partido em Goiás e já foi vereador e deputado federal. Desde o início do atual governo tem sido discutido o uso de cargos da Funasa para acomodar políticos petistas e de partidos aliados. Das 34 diretorias estaduais, 13 estariam nas mãos do PT, 4 nas do PMDB e 4 com o PTB.

EXONERAÇÃO
A discussão ganhou evidência já no primeiro ano do governo, quando o diretor-executivo da Funasa, Antonio Carlos Andrade, foi exonerado pouco depois de assumir o cargo. O fato foi visto como represália à sua mulher, a deputada Maninha (PT-DF), que se absteve na votação da reforma da Previdência. Na época, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse: "Ou o PT o nomeou de forma politiqueira para um cargo público de grande importância por ser marido da deputada ou o demitiu também de forma mesquinha."
Para Morais, que não fala em nome do Cimi, mas representa uma das correntes de pensamento no interior da entidade, o governo está colhendo agora o que plantou há dois anos. "Sou petista, mas acho que nesta questão o governo agiu errado", disse. "Deveria ter seguido os critérios de nomeação deixados pelo seu antecessor."

Ministro terá de explicar despesas com viagens

Rosa Costa

Se ainda estiver no cargo, o ministro da Saúde, Humberto Costa, pode ter de comparecer à Comissão de Assuntos Sociais do Senado para prestar esclarecimento sobre os gastos com viagens realizados por pessoal da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no ano passado. Segundo o líder do PFL na Casa, José Agripino (RN), esses gastos foram muito superiores ao que foi aplicado, no mesmo período, na compra de remédios para índios.
O requerimento de convocação do ministro foi apresentado ontem por Agripino, que se baseou em dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) do governo. No pedido entregue à comissão, o senador quer saber por que a fundação gastou R$ 28 milhões em passagens e diárias e apenas R$ 8 milhões em medicamentos para os índios.

OESP, 12/03/2005, Nacional, p. A14

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