VOLTAR

Maués investe em negócios sustentáveis

OESP
13 de Nov de 2002

Maior produtor de guaraná do Amazonas cria unidades de conservação municipais e quer diversificar mercado de produtos florestais
Campinas - Apesar de ter 34,7% do território municipal inserido em parques e reservas e 3,3% em terras indígenas, o prefeito de Maués, Sidney Leite (PTB), não integra o coro de autoridades amazonenses avessas ao estabelecimento de mais unidades de conservação. Preocupado em promover o desenvolvimento sócio-econômico do município sem descuidar da preservação ambiental, ele convocou pesquisadores, ambientalistas, comunidades e representantes de órgãos estaduais e federais para um seminário, que se realiza nestes dias 14 e 15 de novembro, no qual pretende discutir ações locais para conservação e uso sustentável da biodiversidade.

"Nossa comunicação, acesso e referencial, no interior do Amazonas, são os rios, então fizemos um primeiro zoneamento a partir da calha dos rios, que gerou dados técnicos e nos permitiu identificar 12 pólos de desenvolvimento sustentável na área rural do município", diz o prefeito, que criou uma Floresta Municipal, de 400 mil hectares, para exploração racional de madeira e essências florestais, e a Reserva Municipal de Desenvolvimento Sustentável Urariá, ambas no primeiro semestre de 2002. "Agora queremos aprofundar o zoneamento e discutir o potencial econômico destes 12 pólos: que tipo de negócios sustentáveis podem ser incentivados, que recursos podem ser explorados, como potencializar o ecoturismo e o artesanato único, produzido aqui na região, além de revitalizar a produção do guaraná, principal produto do município".

Maués é o maior produtor de guaraná do Amazonas e comercializa de 250 a 300 toneladas por ano. A intenção é ampliar a produção, de terra firme, e agregar valor ao artesanato feito com partes da planta, típico das comunidades locais. A pesca e a aqüicultura também deverão receber atenção. "E temos outros recursos que podem ser valorizados, sobretudo para ecoturismo, como sítios arqueológicos, cachoeiras, serras, praias fluviais, lagos, pássaros", acrescenta o prefeito Sidney Leite. "Pretendemos discutir as formas de promover este desenvolvimento sustentável a partir do seminário".

Com 39.675 km2 e uma população estimada em 40 mil habitantes, o município ainda tem duas unidades de conservação federais - a Floresta Nacional Pau Rosa e o Parque Nacional da Amazônia - e a terra indígena Andira-Marau, reserva da etnia Saterê-maué. Estimativas recentes da entidade ambientalista Conservation International (CI) indicam que ali existem cerca de 600 espécies de aves e 13 espécies de primatas, um dos quais é endêmico (exclusivo daquela região) e leva o nome do município: sauim-de-maués ou Mico mauesi. Uma espécie de borboleta, descrita em 2002 por pesquisadores norte americanos, também está sendo considerada endêmica, a Charis maues.

"A região é fantástica para pesquisas sobre biodiversidade amazônica, pois abriga uma biota rica e única, com um grande número de espécies a serem descobertas e descritas", diz José Maria Cardoso da Silva, da CI. "Apesar de Maués ser um dos poucos municípios amazônicos, que possui unidades municipais de conservação, sabemos que elas não são suficientes para garantir a conservação de todas as espécies de animais e plantas, por isso a realização de um macrozoneamento ambiental deve identificar as áreas importantes para complementar o atual conjunto de unidades de conservação", enfatiza Wagner Cardoso, diretor-executivo do Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Maués (IDS-Maués), uma organização ambientalista local.

A prefeitura, a CI e o IDS-Maués já estabeleceram uma parceria para realizar este macrozoneamento ambiental do município, a partir de 2003. O estudo inclui o mapeamento da vegetação, uso da terra e distribuições de aves e mamíferos e será discutido em seminários participativos, com as comunidades das áreas eventualmente escolhidas como as mais importantes para a conservação da biodiversidade.
(-Estado de S. Paulo-São Paulo-SP-13/11/02)

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.