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Marina recorre contra algodao transgenico

OESP, Nacional, p.A10
30 de Nov de 2004

Marina recorre contra algodão transgênico
Ministra do Meio Ambiente quer evitar comercialização de algodão modificado geneticamente em até 1%
Gilse Guedes
Numa reação às pressões pela venda de produtos transgênicos em larga escala, o Ministério do Meio Ambiente recorreu da decisão da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) de liberar a comercialização de sementes convencionais de algodão com até 1% de "contaminação" por organismos geneticamente modificados (OGMs).
Os possíveis danos à saúde pública, ao meio ambiente e ao agronegócio foram os argumentos usados para o questionamento da decisão. Segundo o ministério, não foi feito estudo de impacto ambiental para a verificação das eventuais conseqüências com a liberação desse tipo de algodão.
A decisão da CTNBio vem no momento em que os ruralistas no Congresso se articulam para aprovar, no plenário da Câmara, o projeto de biossegurança que dá mais poderes à comissão para decidir sobre a necessidade de realização de estudos de impacto ambiental para a produção de OGMs. Com apoio da liderança do governo, a proposta foi aprovada no Senado e em uma comissão especial da Câmara, atropelando a posição da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que pretende impor limites à produção de transgênicos no País.
O plantio de algodão transgênico é ilegal no Brasil, mas, a pedido da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), a CTNBio autorizou a venda desse tipo de algodão no País na safra 2004/2005, desde que os lotes apresentem no máximo 1% de sementes transgênicas. A comissão acolheu o argumento, fundamentado com cartas de empresas, de que parte das sementes estão "contaminadas" com OGMs e que não possuem sementes convencionais com 100% de pureza para atender às necessidades da safra atual.
O Ministério do Meio Ambiente informou que no País há 50 espécies de algodão, das quais quatro são cultivadas por apresentarem fibras de valor comercial. Argumentou que o governo deve ser cauteloso com relação ao algodão, porque o País é um centro de diversificação por causa dos registros de variedades silvestres das espécies em território brasileiro. Ainda segundo o ministério, o algodão é uma espécie de polinização cruzada, ou seja, polinizada por meio de insetos e pássaros. A polinização do algodão pode chegar a 70%, o que pode levar a um alto índice da chamada "contaminação" com OGMs.
Conforme o recurso do ministério, o porcentual de sementes transgênicas pode ser bem superior a 1%, comprometendo o patrimônio genético de espécies silvestres de origem brasileira. De acordo com o ministério, a CTNBio não analisou a suspeita sobre os possíveis riscos dos genes de sementes de algodão serem resistentes a antibióticos. Além disso, classifica de "flagrante ilegalidade" o fato de a decisão ter sido aprovada por apenas sete dos 13 membros presentes à reunião. O recurso será analisado no prazo de 30 dias.

OESP, 30/11/2004, p. A10 (Nacional)

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