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Marina espera queda no desmatamento

FSP, Ciência, p. A15
Autor: LEITE, Marcelo
15 de Jul de 2006

Marina espera queda no desmatamento
Ministra do Meio Ambiente diz que devastação da floresta deve diminuir na Amazônia pelo segundo ano consecutivo
Em encontro organizado pela Igreja Ortodoxa Grega, Marina afirmou que dados definitivos sobre a queda só devem sair em agosto

Marcelo Leite

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, levou ontem a boa nova a Manaus, na abertura do Simpósio "Amazonas, Fonte de Vida", patrocinado pela Igreja Ortodoxa Grega: ela espera que a taxa de desmatamento na região volte a cair neste ano. Em 2005, o governo federal havia comemorado uma queda de 31%, de 27.364 km2 em 2004 para 18.900 km2.
Marina disse que ainda não foi concluída a análise das imagens fornecidas pelo sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), operado pelo Inpe, e que a informação estará disponível apenas em agosto. "Só recentemente conseguimos imagens completas da Amazônia", explicou a ministra (ou seja, sem nuvens que impeçam a visão do solo para sensores de satélite capazes de distinguir terra nua de florestada). "O que eu posso dizer é que temos uma expectativa de queda. "Trabalhamos todo o ano de 2005 e o início de 2006 exatamente para continuar esse processo de queda", afirmou a ministra. Ressalvou, porém, que preferia não falar "por hipótese" e que era preciso aguardar a análise completa dos dados.
O simpósio a que Marina Silva compareceu é o sexto de cunho ambiental organizado pelo patriarca ecumênico Bartolomeu, uma das autoridades máximas da Igreja Ortodoxa Grega, que fica baseado em Istambul (com anuência do governo da Turquia). Conhecido como "patriarca verde", Bartolomeu organizou todos os simpósios anteriores, desde 1995, em torno do tema "água, fonte de vida". Todos haviam sido realizados na Europa até agora.
Participam do evento, cujas sessões plenárias são realizadas a bordo do navio Grand Amazon, cerca de 200 pessoas, entre religiosos de várias confissões, pesquisadores, líderes indígenas e de movimentos sociais, além de jornalistas. Estavam presentes à abertura os cardeais Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador, e Roger Etchegaray, que representava o papa Bento 16.
Após um vídeo de cerca de um minuto com uma saudação em italiano de Bento 16, uma mensagem sua mais longa foi lida em inglês. O papa disse que cristãos de todas as confissões devem empenhar-se na proteção da Criação (referindo-se à natureza) e que a magnificência da Amazônia era um "livro aberto" em que se pode ler a manifestação de Deus.
O programa do simpósio foi montado pela ONG Religião, Ciência e Ambiente, com sede em Atenas. Na primeira mesa da sessão plenária, integrada por religiosos, a ministra e o governador do Amazonas, Eduardo Braga, esse cruzamento de temas predominou. Marina Silva, por exemplo, agradeceu a Deus pela oportunidade de sediar o simpósio no Brasil. Citou a passagem do Gênese (21, 33) em que se narra que o centenário Abraão plantou um bosque, que não chegaria a ver maduro. Referindo-se à Amazônia, Marina disse: "Somos agradecidos a Deus, porque não precisamos plantar o bosque -ele já foi plantado".
A ministra também disse que o simpósio representava, na prática, a possibilidade de reunir ciência e religião: "A ciência tem alma e a fé tem cabeça".

O colunista MARCELO LEITE está em Manaus a convite dos organizadores do Simpósio "Amazonas, Fonte de Vida" e do governo da Grécia

Teólogo ataca visão platônica sobre ambiente

DO ENVIADO ESPECIAL A MANAUS

Já era meio-dia quando o metropolita (bispo da igreja ortodoxa) João de Pérgamo começou a falar. O tom de voz prometia um discurso cansativo, mas, 43 minutos depois, a audiência aplaudia muito.
Pérgamo fez um longo ataque ao domínio da natureza almejado por Descartes e Bacon. O núcleo da "crise ecológica", disse, é a definição "platônica" do humano como entidade puramente espiritual, em detrimento do corpo e sua inserção na natureza.
Pérgamo disse que estava na Amazônia para aprender com os índios sua relação de respeito com o mundo vivo. Não seria porém o caso de um conversão ao "paganismo", que implicaria também um temor desnecessário diante da natureza. A ciência ocidental eliminou esse medo, argumentou, mas trouxe com ela o desrespeito. (ML)

FSP, 15/07/2006, Ciência, p. A15

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