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Marido suspeita que índia foi vítima de infecção hospitalar

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
04 de Jul de 2003

O marido da indígena Rosália dos Santos, 36 anos, Valmir Simão Lima, denunciou suspeitar que a morte da mulher dele pode ter sido provocada por infecção hospitalar. A índia morreu terça-feira, às 8h30, no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth (HMINSN), seis dias após estar internada depois de ter dado luz a um bebê prematuro.

A denúncia da família abriu precedente para outras, alegando a mesma suspeita. Uma delas registrou queixa na polícia. No total, de domingo a terça-feira, morreram quatro pessoas, sendo três crianças e uma adulta. O Conselho Indígena de Roraima (CIR) disse que vai formalizar denúncia ao Ministério Público Federal (MPF), por suspeitar de negligência médica, que pode ter resultado na infecção hospitalar.

O corpo da índia está na geladeira do Instituto Médico Legal (IML) para necropsia. O atestado de óbito da Maternidade, assinado pela médica Noeli Aparecida Faria Ferreira, atesta morte por "causa indeterminada". Esse motivo não foi aceito pelo marido que pediu ajuda ao CIR para que o corpo fosse submetido ao exame. Valmir Lima disse não aceitar a justificativa alegando que a morte foi rápida.

"Minha esposa estava bem nos dois dias seguintes ao parto. Nós até andamos do quarto da Maternidade até a incubadora para ver nosso bebê. Ela recebeu alta, mas ficou no hospital para cuidar da criança", alegou o índio. Ele contou que Rosália fez uma cesárea e uma laqueadura tubária bilateral no dia 25 de junho.

Quatro dias após, o quadro dela se agravou e na manhã de segunda-feira, a indígena foi encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ela morreu logo após dar entrada nessa unidade, depois de uma parada cárdio-respiratória.

Delegacia determina que IML faça autopsia

O corpo seria enviado para a maloca, quando o marido resolveu junto com o representante do Conselho Indígena de Roraima (CIR), registrar queixa no 1o Distrito Policial e pedir o exame cadavérico. É que Valmir Lima estranhou o fato do corpo estar envolto em faixas e com um saco na cabeça.

O corpo, segundo eles, ficou cerca de três horas em frente ao IML aguardando uma determinação que foi levada por um agente de polícia. O pedido da necropsia é por não aceitarem a justificativa do atestado de óbito dado pela maternidade, até porque surgiram boatos de que a médica que assinou o atestado de óbito, não estaria presente na hora da morte.

Diante do laudo emitido pelo IML sobre a causa da morte do índio Aldo Mota, morto a tiros no início do ano, o CIR vai designar um médico da entidade para acompanhar a autopsia. Além disso, a entidade relembrou o escândalo denunciado pela Folha em outubro de 1996, quando morreram na Maternidade Nossa Senhora de Nazaré, 37 bebês, vítimas de infecção hospitalar.

SESAU - A reportagem não pode comparecer na entrevista agendada para as 13h, com o secretário de Saúde, Altamir Lago, por não estar com todas as informações dos denunciantes. Por volta das 16 horas, entrou em contato com o assessor de comunicação da maternidade, Leandro Freitas. Ele informou que o secretário não poderia atender, porque estava despachando com o governador.

IML - O diretor do IML, Claude Vasconcelos, confirmou que o cadáver foi recebido pelo Instituto depois que chegou a determinação da delegacia. Explicou que o corpo é recebido de imediato quando a morte tem causa violenta.

Segundo ele, o corpo do bebê recém-nascido já havia sido liberado e o IML vai enviar amostra de alguns órgãos para exame fora do Estado. O mesmo procedimento será adotado com relação ao corpo da índia.

Indagado o motivo de amostras serem enviadas para outro Estado, Vasconcelos informou que para esse serviço, tem que haver um patologista e um laboratório especializados para expedir os laudos, o que não existe no Estado.
"No IML não existe. Aqui só se analisa morte violenta, coisa que pode ser vista a olho nu. Quando é exigido um laudo dessa maneira, somos obrigados a retirar fragmentos do corpo e mandar para o laboratório", afirmou.

CRM - A Folha entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina. A presidenta, Zita Cruz, disse que ainda não tinha conhecimento dos fatos. Indagada se outro profissional da área poderia assinar um atestado de óbito sem estar presente na hora morte, informou que o atestado deve ser assinado pelo médico plantonista que presenciou o caso, conforme determina o Código de Ética.

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