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Mar de controversia

FSP, Editorial, p.A2
08 de Out de 2005

Mar de controvérsia
O projeto de transposição de águas do rio São Francisco suscita cada vez mais controvérsia. Há argumentos defensáveis apresentados pelas duas partes em conflito.
A julgar pelos estudos realizados pelo governo federal, o processo de transposição seria forma segura de garantir recursos hídricos à maior parte da região do semi-árido. A idéia é desviar água do São Francisco, redistribuí-la por canais e, dessa forma, transformar os rios sazonais da região em rios perenes.
O sistema seria mais eficiente que o armazenamento de água e evitaria o desperdício desse bem -decorrente de processos como a evaporação, que durante o período de seca levam quase 80% do que foi estocado. Além disso, para sua implantação seria necessário desviar apenas 1,4% do volume hídrico do rio, para benefício de cerca de 12 milhões de pessoas.
Por melhores que sejam esses argumentos, críticas feitas ao projeto são inquietantes. Especialistas dizem que os estudos para a obra privilegiaram a questão da quantidade de água a ser desviada do rio, mas teriam negligenciado a avaliação do impacto socioeconômico da transposição sobre a região. O que fazer, por exemplo, com comunidades que vivem da sazonalidade das águas quando essa sazonalidade acabar?
Como se não bastasse a suspeita dessas lacunas, o projeto enfrenta ainda um obstáculo jurídico. A Justiça Federal da Bahia suspendeu em liminar a licença ambiental necessária para o inicio das obras devido a deficiências no diagnóstico da flora e da fauna da área e na precariedade do levantamento dos sítios arqueológicos que podem ser afetados. Além disso, teria havido irregularidades nas audiências públicas que deveriam informar e consultar a população local a respeito do empreendimento.
Diante de tamanho impasse, seria desejável que o governo adiasse o início da obra e prolongasse o debate acerca do projeto. Essa seria a atitude mais prudente. À véspera das eleições, a execução de uma obra, sem um mínimo de consenso, que deverá custar R$ 4,2 bilhões e afetará a vida de milhões de pessoas, soa como um indesejável açodamento.

FSP, 08/10/2005, p. A2

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