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Mar de cinzas

CB, Cidades, p. 25
25 de Ago de 2007

Mar de cinzas
No quarto dia de destruição da maior reserva florestal do DF, as chamas ainda desafiavam, ontem à noite, o esforço de mil homens para salvar o que restou. Estima-se que mais de 10 mil hectares foram destruídos

Pablo Rebello
Da equipe do Correio

O Corpo de Bombeiros espera controlar hoje o incêndio que há quatro dias devasta o Parque Nacional de Brasília. Dos cinco principais pontos de combate ao fogo, apenas dois ainda representam ameaça. O foco mais crítico tem 4,5km de extensão e se aproxima da DF-001, que dá acesso ao Lago Oeste e segue até Brazlândia. As chamas também se aproximam com perigo de chácaras próximas à Granja do Torto. Além dos dois focos mais graves, outros oito pontos de queimadas preocupam os bombeiros. Eles pretendem controlar o avanço das labaredas para determinar até qual ponto as chamas podem chegar.
Levantamentos feitos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontam que de 10 mil a 15 mil hectares do Parque Nacional de Brasília já foram afetados pelo fogo. Bombeiros avaliam que cerca de 10 mil hectares de vegetação foram destruídos até as 18h de ontem. Mas uma dimensão exata da devastação só será divulgada após o término dos trabalhos. A estratégia no momento é impedir que as chamas avancem para os 15 mil hectares ainda não atingidos da reserva ecológica. Mesmo com as labaredas distantes, o acesso à Água Mineral, que fica dentro do parque, está proibido a partir de hoje.
"Trata-se de uma questão de segurança. O fogo avança com muita velocidade e não teríamos como tirar os usuários do local com rapidez", explicou o chefe do Parque Nacional, Darlan Pádua.
Apoio de fora
O combate ao incêndio recebeu o reforço ontem de dois aviões modelo Air Tractors. O Ibama conseguiu contratar as aeronaves para o serviço em estados diferentes. Uma veio de Goiás e outra de Minas Gerais. Juntas, elas conseguem transportar até 3,3 mil litros de água. Uma pista de pouso com 1,7 mil metros de extensão foi preparada próximo a Sobradinho.
Caminhões-pipas cedidos pela Defesa Civil ficaram responsáveis pelo abastecimento dos aviões. Os vôos, coordenados pelo Comando do Corpo de Bombeiros do DF, começaram a contribuir no combate às chamas por volta das 17h. Depois de receberem as coordenadas, os pilotos despejavam a água sobre os pontos críticos e retornavam à base para reabastecer e fazer mais um vôo. Os aviões devem retornar ao combate ao incêndio hoje.
Na base montada pelo Corpo de Bombeiros, na barragem Santa Maria, dentro do Parque Nacional, os seis helicópteros cedidos pelo governo local passaram o dia inteiro no transporte de homens para as áreas queimadas. Um contingente de aproximadamente mil bombeiros chegou para combater o fogo à tarde e pela noite adentro. Toda equipe da Defesa Civil do Distrito Federal também se mobilizou para auxiliar na infra-estrutura do local e analisar a área queimada.
O subsecretário da Defesa Civil, coronel Luiz Ribeiro, explicou que eles terão cinco dias após o término do incêndio para produzir um relatório com a avaliação dos danos causados pelo fogo ao meio ambiente. A análise da devastação começou ontem, com um sobrevôo em toda a extensão do Parque Nacional.
"A área queimada é muito grande. Sem dúvida, os danos causados aos animais que habitam a reserva e a vegetação foram extensos", afirmou o coronel ao desembarcar do helicóptero (leia texto abaixo). A Defesa Civil faz o fornecimento de alimentação, energia, iluminação, transporte e recursos, como carros-pipas, para os combatentes do fogo.
Investigação
A perícia das causas do incêndio continua na segunda-feira, segundo o delegado-adjunto da 2ª DP, Rogério Borges Cunha. Os resultados das investigações sobre a origem do incêndio devem sair em 40 a 45 dias. Por enquanto, a polícia está ouvindo chacareiros das áreas próximas ao local onde o fogo começou.
Ontem mais duas pessoas foram ouvidas. Depois de pegarem os depoimentos dos caseiros de uma das chácaras, os policiais ouviram dois proprietários.
Os nomes dos suspeitos não foram divulgados porque ninguém chegou a ser acusado pelo crime ambiental, até o momento.
Outras pessoas devem ser ouvidas ao longo da próxima semana.

Fogo ameaça os animais

A barragem Santa Maria, no interior do Parque Nacional de Brasília, não serve só para abastecer a cidade de água potável.
O local também é procurado por centenas de animais silvestres, que matam a sede em suas margens e habitam as cercanias. O incêndio atingiu os bichos desde a última quarta-feira, quando o fogo alcançou as redondezas do lago. Na quinta-feira, carcaças carbonizadas de um tamanduá-bandeira e duas antas foram encontradas próximas da barragem.
Ontem a presença de duas antas, uma adulta e um filhote, nas margens da represa, chamou a atenção. Os animais refrescaram-se na água e voltaram correndo para dentro da mata, em um dos poucos pontos não atingidos pelo fogo.
Carcarás acompanharam o movimento dos bichos. As aves de rapina parecem saber que logo terão mais fontes de alimentos, além das criaturas queimadas que têm encontrado nas cinzas, avaliam técnicos do Ibama.
As antas são uma das espécies que se encontram mais ameaçadas devido ao incêndio. Por serem herbívoras, elas perderam a maior parte da sua fonte de alimento. A situação não é diferente para outros animais que se alimentam de folhas e frutos.
Veados-campeiros que habitavam uma das margens da barragem, por exemplo, devem procurar novas paragens depois da queimada. Inclusive fora do Parque. A reserva ecológica também é lar de espécies ameaçadas de extinção, como o lobo-guará e a onça-sussuarana. O Ibama deve realizar um estudo dos danos causados à fauna quando o incêndio terminar.
Até o momento, esse é o terceiro pior incêndio que ocorreu no Parque Nacional. Fica atrás apenas das queimadas que ocorreram em 1994, que deixou em cinzas 70% do Parque, e do mais grave de todos, em 1985, que consumiu 27 mil dos 30 mil hectares pertencentes à reserva. (PR)

CB, 25/08/2007, Cidades, p. 25

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