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Manifesto do Grupo de Mulheres da Escola Quilombola


28 de Jul de 2007

Manifesto do Grupo de Mulheres da Escola Quilombola

Nós, mulheres da escola quilombola de educação política e ambiental,
provenientes de diversas comunidades quilombolas do Sapê do Norte do estado
do Espírito Santo, convocamos as mulheres de nossas comunidades para a
tarefa histórica de retomada e reconversão do território quilombola de
Linharinho.

Em Linharinho, as famílias quilombolas ocupavam 9.542,57 hectares de terra.
Hoje, estamos reduzidas a 147 hectares. Desde 1970 que nossas famílias vêm
sendo expulsas, que nossos rios e córregos vêm desaparecendo, que nossa
cultura, pesca, nossas ervas e artesanatos vêm sendo destruídos. Nossa
natureza foi quase toda devastada. 82% da terra de nossos ancestrais está
coberta pelos eucaliptos da Aracruz Celulose. Nem o cemitério foi
respeitado.

A sabedoria de nossos avós, nossos deuses e cultos, foi tudo desacreditado.
Nossas irmãs e irmãos, nossos maridos, filhas e filhos, sem trabalho, sem a
mata e sem os rios, foram expulsos para as favelas das cidades. Para onde
foram Maria, Benedita, Joana, Domingas, e tantas outras? Onde estão nossas
sementes crioulas de milho, arroz, feijão? Onde estão nossas ervas, cipós e
pássaros?

O deserto verde cresceu e assolou sem limite. Passou correntes e tratores
por cima de nosso mundo, por cima de tudo. Das que resistimos na terra, os
plantios de eucalipto de rápido crescimento nos empurrou para dentro de
nossas casas e quintais.

Mas nós, mulheres quilombolas, guardiãs do saber tradicional e ecológico,
desde nossos quintais, resistimos à expansão do grande eucaliptal. E hoje,
convocamos todas nós, mulheres quilombolas do Sapê do Norte, para, junto à
Articulação Capixaba de Agroecologia, nos engajarmos na missão de reverter
este grande deserto verde para um novo território, de biodiversidade,
segurança alimentar, com equidade de gênero.

Conceição da Barra, 28 de julho de 2007.

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