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Mancha de óleo causa falta d'água

O Globo, Rio, p. 18
09 de Mai de 2013

Mancha de óleo causa falta d'água
Inea descarta riscos ao Guandu. Cidades retomam captação do Rio Paraíba do Sul

DICLER DE MELLO E SOUZA
granderio@oglobo.com.br
RAFAEL GALDO
rafael.galdo@oglobo.com.br

A mancha de óleo diesel que atingiu o Rio Paraíba do Sul se dissipou, e as cidades do Sul Fluminense afetadas começaram a normalizar o tratamento de água ontem. A primeira a retomar a captação do rio foi Porto Real, ainda de madrugada. No fim da manhã, foi reaberto o bombeamento de água do Paraíba do Sul para o Rio Guandu, que abastece cerca de nove milhões de pessoas na capital e na Região Metropolitana. À tarde, depois de o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) autorizar que todos os municípios reiniciassem as operações de suas estações, foi a vez de Volta Redonda e Barra Mansa. Mas, até o início da noite, Quatis, Pinheiral e Barra do Piraí ainda não tinham retomado a captação. E a previsão era que, em algumas regiões, a água só voltasse em até três dias. Os seis municípios afetados sofreram com a falta d'água, e cerca de 50 mil alunos de escolas municipais ficaram sem aulas.
- O óleo agora está muito disperso e em fase de degradação. Não há mais uma mancha contínua como a de ontem (terça-feira), de 30 quilômetros de extensão, apenas bolsões de óleo, sobretudo nas margens e no trecho do rio entre Volta Redonda e Floriano (distrito de Barra Mansa). Por isso, os municípios foram autorizados a retomar a captação. Mas vamos manter o monitoramento do Paraíba do Sul para avaliar a necessidade de novas suspensões - afirmou Marilene Ramos, presidente do Inea.
Ela explicou que, ontem, o instituto ainda não tinha uma estimativa da quantidade de óleo que vazou. Mas afirmou acreditar que tenha sido mais que os oito mil litros divulgados anteriormente. Já a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), ligada à Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, informou que, de acordo com dados da Transpetro, a estimativa era que cerca de 49 mil litros tenham escorrido do duto da empresa na cidade paulista de São José do Barreiro no último domingo. Ou seja, seis vezes mais do que o informado antes.

BARRA MANSA: POSTO DE SAÚDE AFETADO

Depois de vazar do duto, supostamente devido a danos provocados por ladrões de combustível, o material atingiu o Rio Formoso, até desaguar no Rio Sesmaria, em Resende, e atingir o Paraíba do Sul, na última segunda-feira. Uma das maiores preocupações era que o óleo atingisse o reservatório de Santa Cecília, em Barra do Piraí, onde parte do Paraíba do Sul é desviada para o Guandu. Esse bombeamento chegou a ficar sem funcionar por cerca de 12 horas ontem. Mas a presidente do Inea descartou qualquer risco de contaminação do sistema Guandu, ratificando o que a Cedae já havia informado na terça-feira.
No entanto, nos seis municípios afetados, com uma população de cerca de 600 mil habitantes, houve muitos transtornos. Em todos houve falta d'água, e cerca de 50 mil alunos ficaram sem aulas nas escolas municipais. Só em Volta Redonda, a maior cidade atingida, 20 mil estudantes foram prejudicados ontem. No município, já começavam a faltar galões e garrafas d'água nos supermercados. E chegou-se a temer que até as unidades de saúde, que estavam sendo abastecidas com carros-pipa, ficassem sem água.
O reinício da operação da estação de tratamento de água de Volta Redonda só ocorreu por volta das 15h. O abastecimento nas partes mais altas do município, porém, só deve ser normalizado nos próximos três dias. Mesmo em Porto Real, primeira cidade a retomar a captação, os efeitos da interrupção ainda devem ser sentidos pelo menos até amanhã. Já em Barra Mansa, o prefeito Jonas Marins reuniu seu secretariado ontem para debater as ações emergenciais visando a diminuir os impactos causados pela falta d'água. Mas a secretária de Saúde, Amélia Feitosa, informou, no início da tarde, que alguns postos de saúde já tinham suspendido o atendimento à população em decorrência da falta d'água.
- As unidades que têm água estão abertas normalmente. Mas, conforme forem ficando desabastecidas, vão suspender os trabalhos - disse Amélia.

Números

49 MIL LITROS DE ÓLEO
Vazaram do duto da Transpetro em São José do Barreiro (SP)

50 MIL ALUNOS
Ficaram sem aulas nas cidades do Sul Fluminense afetadas pela falta d'água

600 MIL HABITANTES
É a população aproximada dos municípios atingidos

Empresa já retirou 40 mil litros de diesel que vazaram de duto
Especialista da Coppe defende maior monitoramento no local

Até o início da noite de ontem, a Transpetro informou haver retirado 40,1 mil litros de óleo diesel infiltrado no solo ou nos rios atingidos após o vazamento num duto da empresa em São José do Barreiro, na divisa de São Paulo com o Rio. A companhia reafirmou que o derramamento foi consequência da ação de criminosos, que danificaram uma válvula do duto para furtar combustível. E confirmou a estimativa de que vazaram 49 mil litros de óleo.
A Transpetro informou ainda ter instalado ontem novos pontos de observação e barreiras de contenção nas áreas de captação de água dos municípios que margeiam o Paraíba do Sul. Mas, segundo o diretor-executivo do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Volta Redonda, Silvino Gandos Bouzan, o óleo, por ser muito fino e se espalhar pela superfície, é difícil de ser retirado da água. Ele disse, porém, acreditar que os resquícios do produto evaporem ou se acumulem nas margens.
Já Paulo Carneiro, professor do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ, ressaltou que, mesmo dissipada a mancha, o óleo deve permanecer no rio por um tempo e será necessário monitorar danos ambientais.
Ele lembrou que o Rio Paraíba do Sul é vital para o Estado do Rio, sendo a única fonte de água para 80% da Região Metropolitana. Por isso, afirmou que é preciso reforçar a fiscalização:
- O próprio fato de ladrões roubarem combustível num duto da Transpetro demonstra que a vigilância é falha e as instalações, frágeis. Tem que haver mecanismos de controle para tornar esse lugar mais seguro.
Até ontem, não fora registrada mortandade de peixes. A procuradora Izabella Marinho Brant instaurou inquérito civil público, requisitando explicações sobre o acidente em 15 dias. O Inea deve decidir na segunda-feira sobre a aplicação ou não de multa contra a Transpetro.

O Globo, 09/05/2013, Rio, p. 18

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