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Mais uma criança morre de subnutrição em Dourados

OESP, Nacional, p. A9
27 de Fev de 2007

Mais uma criança morre de subnutrição em Dourados

João Naves

A subnutrição matou mais uma criança guarani-caiová da Reserva Indígena de Dourados, a 220 quilômetros de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. É a terceira ocorrência do tipo registrada neste ano nas aldeias Jaguapirú e Bororó, onde vivem as famílias mais pobres da reserva. No dia 10 deste mês, um índio de dois anos da Jaguapirú morreu por causa da fome, a exemplo de outro de nove meses, em 24 de janeiro.

No domingo à tarde, morreu Cleison Benites Lopes, de dez meses, vítima de 'complicações provenientes de uma desnutrição grave', segundo o atestado de óbito. Ele estava doente em casa e morreu após passar pelo posto de saúde da reserva. A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) instaurou procedimento para apurar o caso.

Segundo nota da Funasa, a família da vítima recebe três cestas básicas por mês, o que é desmentido pela mãe do menor, Salete Benites. 'Quando as cestas chegam não dá para alimentar todos, somos 14 pessoas', disse ela, acrescentando que não recebe alimentos há um mês. O pai, Brasil Lopes, afirmou que a situação fica pior com a falta de água potável.

A Funasa ressalta que entrega 3.000 cestas básicas por mês nas aldeias em Dourados, além de sopões com compostos nutritivos que ajudam no reforço alimentar infantil. 'Existem cinco poços de água, dois deles sendo perfurados, e ligações domiciliares para mais de mil famílias nas duas aldeias', afirma a nota.

SUSPENSÃO

Ao menos 80% dos 800 servidores da Funasa cuidam da saúde indígena e distribuição de cestas na Reserva de Dourados, onde vivem cerca 11 mil índios em quase 3 mil hectares. O programa estadual de Segurança Alimentar completava a ação, mas foi suspenso pelo governador André Puccinelli (PMDB).

'A retomada dos programas depende da União. Se o governo federal não aceitar, vamos ter o nosso programa social a partir de outubro', disse o governador, que propõe ainda que os programas sociais mantidos pela gestão anterior sejam substituídos por um único, que dará R$ 100 ao mês por família.

Há quase dois anos, foi formada comissão multidisciplinar para resolver os problemas. O principal deles - a falta de espaço - seria solucionado com ampliação ou transferência da reserva. Segundo o superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Luís Carlos Bonelli, nada foi feito. 'Nossa participação é no tocante à delimitação, demarcação, legalização e custo da área. Até hoje ninguém me procurou.'

OESP, 27/02/2007, Nacional, p. A9

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