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Mais um ponto para o meio ambiente

Valor Econômico, Agronegócios, p. B12
Autor: CHIARETTI, Daniela
10 de Set de 2008

Mais um ponto para o meio ambiente
Pecuarista conta com ajuda de ONG para reflorestar suas terras

Daniela Chiaretti escreve para o "Valor Econômico":

Em 2005, o produtor rural Luiz Castelo assinou um termo de ajustamento de conduta com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso. "Foi voluntário, eu queria resolver meu passivo ambiental", diz o pecuarista, dono da Fazenda Bang Bang, em São José do Xingu, no noroeste do Mato Grosso. "Tenho 350 hectares de área para recuperar", conta. Gastou R$ 140 mil na empreitada. "Não é investimento, é obrigação legal", reforça.

Castelo é pioneiro na região em se preocupar com a mata ciliar dos córregos de sua propriedade (que compõem a bacia do rio Xingu) ou em refazer a reserva legal de floresta nativa que foi desmatada. Tem 10 mil cabeças de gado em 13.500 hectares de terras. O fazendeiro parece ter tomado gosto pelo olhar ambiental nos negócios.

Ontem, ele circulava em Cuiabá, entre representantes de povos indígenas de cocar, pequenos agricultores, pesquisadores e ambientalistas no seminário "As mudanças no clima e a agricultura de Mato Grosso: impactos e oportunidades", que reúne 170 pessoas.

"Não tinha conhecimento ou tecnologia para isso e busquei o ISA", conta, citando a parceria com o Instituto Socioambiental, ONG com trajetória de atuação junto a povos indígenas e que há 4 anos lançou a campanha Y Ikatu Xingu, em defesa das cabeceiras do rio.

O primeiro contato, evidentemente, teve constrangimentos de ambas as partes. "Lembro da hora de pagar a conta do primeiro almoço entre a gente. Quatro pessoas, quatro cartões de crédito na mesa. Ninguém queria ser convidado do outro", diz Castelo.

Técnicos do ISA têm ajudado na escolha das espécies para plantar, em como e quando semear, e até onde buscar as sementes. "Por que onde se compram sementes de pequi e baru? Na loja da esquina não tem", diz Marcio Santili, coordenador do programa de mudanças climáticas do ISA. A ONG desencadeou o processo de coleta das sementes junto aos indígenas, por exemplo, ou anunciando o interesse em rádio locais.

"Estou me estruturando para começar a exportar", diz Castelo. Na iniciativa, teve o apoio do grupo Pão de Açúcar, para quem venderá a carne. A rede varejista incluiu o fazendeiro no Projeto Tear (Tecendo Redes Sustentáveis), que tem por objetivo estabelecer práticas de responsabilidade social, coordenado pelo Instituto Ethos.

A experiência de Castelo ainda é pouco comum em um Estado que apenas recentemente começa a se preocupar com o tema ambiental e costuma competir com o Pará no ranking dos campeões de desmatamento da Amazônia Legal. O Mato Grosso, segundo maior produtor de grãos do Brasil, tem poucas estações meteorológicas, lembrou Giampaolo Pellegrino, da Embrapa Informática Agropecuária - o que dificulta estudar as mudanças do clima.

O secretário do Meio Ambiente, Luis Henrique Daldegan disse que o Mato Grosso vem fazendo a sua parte. "A redução do desmatamento no Estado é sensível e visível, embora algumas pessoas não queiram enxergar", afirmou. "O céu está azul", disse, olhando para fora. Por aqui, céu sem fumaça em setembro pode ser sinal de que o plano de combate às queimadas está surtindo efeito.

"Juro zero" para plantar mato

"Recuperar áreas degradadas é muito mais caro que detonar", disse Marcio Santilli, coordenador da iniciativa de mudanças climáticas do Instituto Socioambiental (ISA), ao abrir ontem seminário sobre os efeitos das mudanças no clima na agricultura do Mato Grosso, em Cuiabá. "O cara nunca vai pagar para plantar mato o que ele vai pagar para plantar soja", disse. Santilli se referia à dificuldade de crédito existente para quem quer regularizar sua condição de passivo ambiental. "O juro tem que ser zero ou bem atraente", afirmou.

Valor Econômico, 10/09/2008, Agronegócios, p. B12

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