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Mais um líder ambientalista é morto no Norte

O Globo, O País, p. 10
28 de Mai de 2011

Mais um líder ambientalista é morto no Norte
Adelino Ramos, sobrevivente do Massacre de Corumbiara e ameaçado por madeireiros, foi assassinado em Rondônia

Evandro Éboli

BRASÍLIA. O agricultor Adelino Ramos, presidente do Movimento Camponeses Corumbiara (RO) e da Associação dos Camponeses do Amazonas, foi assassinado na manhã de ontem em Vista Alegre do Abunã, em Rondônia. Uma liderança no campo em toda a Região Norte, Adelino recebia ameaças de morte de madeireiros e era um sobrevivente do Massacre de Corumbiara, ocorrido em 9 de agosto de 1995, que resultou na morte de 13 pessoas.
Adelino morava em um assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) com outras famílias. Em nota conjunta divulgada pelos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência da República) e Maria do Rosário (Direitos Humanos), o governo condenou o atentado contra o agricultor.
"O assassinato de Adelino Ramos merece o nosso total repúdio e indignação. Há três dias, o Brasil se chocou com a execução de duas lideranças em circunstâncias semelhantes, no Pará. Hoje, mais uma morte provavelmente provocada pela perseguição aos movimentos sociais. Essas práticas não podem ser rotina em nosso país e precisam de um basta imediato", declararam os ministros, na nota. Esta semana, foram mortos o casal José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, no Pará.
O governo informou que a Polícia Federal vai atuar no caso para ajudar a identificar os mandantes. "Imediatamente ao recebimento da notícia, entramos em contato com a Polícia Civil, com o governador do estado de Rondônia e com a Polícia Federal, exigindo a mais rigorosa atitude para investigar o caso e punir os criminosos, tanto os executores como os possíveis mandantes. É necessária uma ação enérgica e exemplar. Só coibiremos essa violência absurda quando acabarmos com a impunidade", afirmaram Maria do Rosário e Gilberto Carvalho.
O governo informou ainda que, segundo líderes da região, Dinho, como Adelino era conhecido, tentava regularizar sua produção. Ele foi morto na presença de sua família, na feira onde vende os produtos que planta. Vista Alegre do Abunã é localizada na divisa dos estados de Rondônia, Acre e Amazonas.
Os ministros disseram ainda que o governo não tolera que crimes como esses aconteçam e fiquem impunes. Nesta semana, a presidenta Dilma Rousseff já determinou que a Polícia Federal acompanhe as investigações no Pará, "numa atitude enérgica e clara de que crimes como esses não podem se tornar uma prática rotineira em nosso país".
A Presidência da República informou que quer acompanhar de perto os desdobramentos para garantir justiça. "É isso que se espera de um estado democrático de direito e é assim que o governo procederá".
Um levantamento da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e da Ouvidoria Agrária Nacional registra que, desde 2001, já foram registrados 71 assassinatos em Rondônia motivados por questões agrárias. Mais de 90% dos casos ficaram sem punição.

CNA refuta acusações a ruralistas

Em nota assinada pela senadora Kátia Abreu, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) refutou, ontem à noite, acusações de ambientalistas de que o assassinato do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santos, em Nova Ipixuna, no Pará, teria sido obra de ruralistas. Para a entidade, presidida por Kátia Abreu, a aprovação do Código Florestal, na última terça-feira, fez com que "fundamentalistas ambientais, vinculados a ONGs internacionais, assacassem contra os produtores rurais brasileiros mais uma calúnia (o assassinato dos extrativistas)".
Também no texto, a CNA critica a atitude de quem se valeu da mídia e das redes sociais para divulgar a denúncia contra ruralistas, considerando que não há "indícios concretos que a justifiquem".
"Valeram-se, assim, de calúnia, injúria e difamação, mostrando do que são capazes quando lhes faltam argumentos para defender suas teses", diz a nota.
A entidade conclui o texto afirmando que "tão grave quanto o homicídio em pauta é sua exploração imoral".

O Globo, 28/05/2011, O País, p. 10

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