VOLTAR

Mais um Cinta-Larga assassinado

Rondoniagora-Porto Velho-RO
Autor: FÁTIMA CLEIDE
24 de Mai de 2004

Enquanto o governador Ivo Cassol repetia no Senado que Rondônia "tem muita terra e muito diamante para pouco índio", mais um jovem indígena tombou com um tiro nas costas na última terça (18).

Há 40 anos, a sociedade rondoniense tem convivido com o genocídio dos Cintas-Largas, encurralados dentro de seus territórios, submetidos a insuportáveis condições de vida e integridade, calúnias e difamações diversas, mediante o esbulho de recursos naturais e a ascensão do crime organizado instalado em diversos níveis de governo local.

As empresas mineradoras que invadiram as terras indígenas dos Cintas-Largas na década de 60 voltam com força total, utilizando "exército" de garimpeiros "rodados" e outros que, financiados e iludidos por promessas feitas pelas empresas de mineração e pelos políticos locais de "liberação" da exploração para todos, se prestam ao combate direto com os índios.

O atual quadro de genocídio contra os Cintas-Largas foi denunciado em representação enviada ao Ministério da Justiça, ao Ministério Público Federal, à Procuradoria de Rondônia e Mato Grosso e a Secretaria Especial de Direitos Humanos, na reunião do Fórum Permanente dos Povos Indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque (EUA). Medidas judiciais e cautelares em favor da vida e integridade dos Cintas-Largas estão em andamento na Organização dos Estados Americanos (OEA) e na própria ONU, bem como em todas as instâncias de decisão administrativa e judicial no Brasil. Para além dos massacres coletivos que não faltaram aos Cinta-Larga, só no perímetro de Espigão do Oeste já ocorreram 6 assassinatos contra os Cintas-Largas entre 1999 e 2000:

1- Cassimiro, 4 tiros nas costas na praça de Espigão do Oeste (1999);
2- César, torturado, afogado, queimado e com a mão esquartejada. (março/2002);
3- Joaquim Ventinha, atropelado na estrada de acesso a aldeia (junho/2002);
4- Renatinho, esmagado por caminhão na praça de Espigão do Oeste (outubro/2002);
5- Moisés, menor 14 anos, 2 tiros nas costas na divisa da Terra Indígena Roosevelt /Aldeia 14 de abril (maio/2002);
6- Passa Wip (Passa Viva), índio Zoró assassinado na ponte do Ribeirão por jagunço armado de facão (1991).

Infelizmente o juiz de Espigão do Oeste está mal informado e só tinha conhecimento de dois inquéritos sobre assassinatos de índios em seu município.

Depois de reduzidos, em 40 anos, de 5.000 para 1.300 sobreviventes, os Cintas-Largas foram tema de mais uma audiência pública no Senado, no fim da tarde da última terça-feira (18). O depoente convidado mais ilustre era o governador de Rondônia, Ivo Cassol. O governador afirmou que nem ele nem sua polícia tiveram permissão para entrar na área dos Cintas-Largas, mas garante que os índios continuam garimpando e matando invasores, questiona os direitos indígenas ao usufruto dos recursos em seus territórios, não contabiliza os milhares de índios mortos e repete que "é muita terra e muito diamante para pouco índio".

Também na última terça-feira (18), o dia amanheceu com mais um capítulo do genocídio "invisível": um jovem Cinta Larga assassinado com um tiro nas costas, em Espigão do Oeste, quando voltava para casa na garupa de uma motocicleta. No momento do disparo, era anunciada mais uma nova invasão à área indígena por cerca de 500 garimpeiros fortemente armados.

Fátima Cleide é senadora da República pelo Partido dos Trabalhadores (PT) de Rondônia

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.