CB, Brasil, p. 13
10 de Jun de 2005
Mais três estados na mira da PF
Além do Mato Grosso, esquema de venda ilegal de madeira pode atingir Rondônia, Pará e Amazonas
O esquema de venda ilegal de madeira no estado do Mato Grosso, descoberto na última semana na Operação Curupira, pode atingir outros estados da região Norte. O diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, afirmou ontem que a fraude também está sendo investigada em Rondônia, no Pará e no Amazonas. "Resta saber se é um braço da quadrilha do Mato Grosso ou se apenas o esquema é o mesmo", disse.
Lacerda afirmou também que outras quadrilhas atuam nestas regiões, com mecanismos distintos de ação. Tal afirmação foi feita ao justificar o fato de que o nome do diretor de Florestas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Antonio Carlos Hummel, não ter aparecido durante a investigação da PF. "Nós preferimos centrar nossas investigações na quadrilha especializada na falsificação de ATPFs (Autorizações de Transporte de Produtos da Floresta)", disse. Hummel e os outros 39 nomes incluídos pelo Ministério Público Federal (MPF) estariam ligados a outro tipo de fraude.
As investigações da Operação Curupira começaram em setembro. Além da Polícia Federal, o MPF e integrantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA) participaram das investigações, que levaram à descoberta de um sistema de fraude para esquentar madeira extraída ilegalmente da Amazônia.
O esquema, que contava com participação de funcionários do Ibama, despachantes, empresários, tinha como ponto de partida a falsificação das ATPFs, um documento fornecido a quem tem direito de extrair madeira. Integrantes do esquema criavam empresas fantasmas para conseguir maior número de ATPFs e corrompiam funcionários para conseguir irregularmente o documento.
Um dia antes de a operação ser deflagrada, o MPF acrescentou mais 40 mandados de prisão e outros 72 de busca e apreensão. Entre eles, o do diretor de florestas do Ibama, Antonio Hummel, liberado na última terça-feira. Dos 124 pedidos de prisão, sete ainda não foram cumpridos.
Desmatamento
Um dos estados citados por Lacerda como alvo da investigação da PF na Operação Curupira, o Amazonas foi a segunda unidade da federação que mais reduziu o desmatamento entre agosto de 2003 e agosto de 2004, cerca de 39%, e ocupa o quarto lugar no país entre os que aplicaram mais multas. Segundo o gerente-executivo do Ibama, em 2004, foram lavrados no estado 790 autos de infração (o equivalente a mais de R$ 80 milhões em multas). Este número é inferior apenas ao de Rondônia (1.587 multas), Mato Grosso (1.470 multas) e Pará (1.395 multas). Juntos, os três estados são responsáveis por 89,6% de toda a área desmatada na Amazônia.
"É difícil explicar as causas do desmatamento e os motivos de sua diminuição, mas certamente elas passam pelo fator econômico. Neste sentido, as multas realmente inibem a ilegalidade", avalia Henrique. As multas aplicadas pelo Ibama no Amazonas, em 2003 e 2004, tratam de uma área de 1.180 quilômetros quadrados, valor próximo aos 1.054 quilômetros quadrados de área desmatada medidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A pressão econômica é o principal fator de destruição da floresta, segundo Henrique. "Até me arrisco a dizer, em uma análise bem pessoal, que a febre aftosa contribui para diminuir o desmatamento no Amazonas. Sem poder vender carne, ninguém vai derrubar a floresta para criar gado. Antes nosso guardião era o mosquito da malária, agora pode ser o vírus da febre aftosa", brincou ele. Em 2004, foi identificado um foco de febre aftosa no município do Careiro da Várzea, no Amazonas, o que gerou uma barreira sanitária no estado.
CB, 10/06/2005, Brasil, p. 13
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