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13 de Fev de 2025
Mais de 90% do desmatamento na Amazônia ocorreu de maneira ilegal, aponta estudo
No Cerrado, parcela do desmate sem autorização foi de 51% entre agosto de 2023 e julho de 2024
Michael Esquer
13/02/2025
Nove de cada dez quilômetros quadrados desmatados na Amazônia entre agosto de 2023 e julho de 2024 aconteceram sem autorização. No Cerrado, a proporção foi de cinco em cada dez. Os dados são de levantamento do Instituto Centro de Vida (ICV), divulgado nesta quinta-feira (13).
A análise mostra que dos 5,7 mil quilômetros quadrados desmatados na Amazônia no período, 90,8% não continham autorização, enquanto que no Cerrado o índice foi de 51,1% para os 8,1 mil quilômetros quadrados desmatados. Somando a área desmatada nos dois biomas, 13,8 mil quilômetros quadrados, constata-se que, ao todo, 67,5% não continham autorização.
O estudo considerou dados de monitoramento do Prodes, sistema mais completo de monitoramento via satélite utilizado pelo governo, cruzados com informações de autorizações de desmate do Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) e de bases dos estados compostos pela Amazônia e pelo Cerrado.
Coordenador do núcleo de inteligência territorial do ICV, Vinicius Silgueiro disse que os números revelam um cenário de alta pressão sobre a Amazônia, apesar da queda de 30,6% na taxa de desmatamento registrado no período.
Considerando os dados dos dois biomas, a Amazônia concentra os dez municípios mais desmatados de forma ilegal, enquanto que o Cerrado reúne os dez mais desmatados de forma legal, majoritariamente localizados na fronteira agrícola conhecida como Matopiba, que compreende áreas do bioma no Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Para a situação da Amazônia, disse Silgueiro, são necessários mecanismos que inviabilizem economicamente as áreas desmatadas ilegalmente, "para acabar com a lógica que aparentemente vigora de que o desmatamento ilegal compensa".
No caso do Cerrado, segundo ele, o controle e condições das autorizações de desmate emitidas é que requer especial atenção, "visto a pressão que a região sofre com o avanço das áreas de produção agrícola".
O levantamento, segundo o ICV, revela a ausência de uma unificação do método de emissão de autorizações de desmatamento nas unidades federativas compostas pelos dois biomas. Amazonas, Pará, Mato Grosso, Bahia, Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Rondônia, por exemplo, fazem o uso conjunto de sistemas estaduais e do Sinaflor. Enquanto que Acre, Piauí, Roraima, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Paraná, Maranhão e Distrito Federal utilizam exclusivamente o Sinaflor.
A recente decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, que em janeiro determinou um prazo de 60 dias para que Estados e municípios da Amazônia e do Pantanal adotassem o Sinaflor como única forma de emitir autorizações de desmatamento, disse Marcondes Coelho, coordenador do programa de transparência e justiça climática do ICV, representa um avanço no tema.
"Ao centralizar esses registros em um sistema único, a medida reduz a fragmentação dos dados entre diferentes órgãos estaduais e municipais, dificultando fraudes e aumentando a rastreabilidade das autorizações. Se bem implementada, essa decisão pode se tornar um marco no combate ao desmatamento ilegal no Brasil", disse Coelho.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2025/02/13/mais-de-90percent-do-…
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