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Mais caminhos para o etanol brasileiro

O Globo, Economia, p. 46
05 de Dez de 2010

Mais caminhos para o etanol brasileiro
Criação de padrões para medir a qualidade do biocombustível incentivará produção e venda em todo o mundo

Gustavo Paul

BRASÍLIA. O Brasil deu um salto fundamental e inédito para transformar o etanol em commodity internacional e possibilitar a difusão do produto pelos principais mercados do mundo, como EUA e Europa. Em novembro, depois de dois anos de análises, 30 laboratórios internacionais deram o aval técnico a padrões de medição de etanol e biodiesel produzidos em conjunto pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e o National Institute of Standards and Technology (Nist), dos EUA. Essa espécie de "etanol universal" servirá de parâmetro para a comercialização do álcool combustível no mundo.
Trata-se de uma preocupação antiga do Brasil, líder no setor de biocombustíveis, que quer incentivar a produção e popularizar o etanol como combustível, mesmo misturado à gasolina. O etanol produzido em Caribe, África, EUA e Brasil, por exemplo, poderá ser analisado sob os mesmos padrões.
Tais padrões, os Materiais de Referência Certificados (MRCs), garantem que os resultados das análises químicas possam ser rastreados, assegurando a qualidade do biocombustível, fundamental para que o produto tenha credibilidade.
- O Brasil saiu na frente e tem liderança mundial em metrologia na área de biocombustíveis. Os MRCs auxiliam na melhoria e na qualidade do produto e servem de ferramenta em questões relativas ao comércio internacional. Mesmo que os biocombustíveis ainda não sejam reconhecidos como commodities, já são comercializados como tal - diz o presidente do Inmetro, João Jornada.
Ele lembra que uma montadora de automóveis na Alemanha ou nos EUA, por exemplo, poderá usar esse padrão para desenvolver motores confiáveis para seus mercados, que exigem qualidade. Ao longo dos últimos cem anos, diz Jornada, os motores a gasolina foram sendo melhorados.
No caso dos biocombustíveis, o prazo será mais curto. O próximo passo será produzir testes portáteis da qualidade do etanol, para serem feitos em usinas, distribuidoras e transportadoras.
Para o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, o reconhecimento internacional é um passo importante para as exportações do etanol, que já vêm crescendo nos últimos anos.
- Quando se quer transformar o produto em uma commodity internacional, é importante que ele siga o mesmo padrão em todo o mundo. As vendas podem dar um salto nos próximos anos e podemos atrair interesse de países africanos em produzir etanol - disse Barral.
Nos últimos dez anos, o interesse pelo biocombustível vem crescendo em todo mundo e tende a se fortalecer.
Esse fenômeno já se reflete na balança comercial: a receita com exportações de álcool deu um salto de 3.750% entre 2000 e 2009, passando de US$ 34 milhões para US$ 1,338 bilhão.
Para permitir as análises em qualquer laboratório do mundo, o Inmetro já tem prontas e em estoque cinco mil ampolas de dez mililitros desse "etanol universal", cujo kit de cinco unidades custa R$ 230. Segundo Romeu Daroda, coordenador de biocombustíveis da Diretoria de Metrologia Científica, a produção deverá ser elevada. Esse etanol universal poderá ser usado independentemente da origem do produto, como milho, celulose, beterraba ou cana de açúcar.
Os testes do etanol foram chamados de Projeto Biorema, que avaliou a capacidade de identificação de dez elementos presentes no etanol, como teor de água, presença de metanol, sódio e acidez. Afinal, diz Daroda, não existe etanol 100% puro. Alguns têm mais água que outros, por exemplo, o que pode prejudicar sua adição à gasolina:
- Os resultados foram lineares, mesmo utilizando metodologias diferentes para ensaios, e muito satisfatórios - diz ele.
A padronização do etanol também protegerá o Brasil de barreiras técnicas, usadas por determinados países, para impedir a comercialização e a competição. A indústria de açúcar e álcool brasileira garante que tem condições de atender a toda a demanda internacional.
Segundo José Felix, consultor de qualidade da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), essa definição do padrão do etanol é um passo importante, mas ainda é preciso que os principais mercados internacionais tenham padrões comuns de mistura do etanol na gasolina.
- O importante é que a indústria brasileira tem condições de atender a qualquer especificação de mistura exigida pelos mercados americano ou europeu.

O Globo, 05/12/2010, Economia, p. 46

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