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Madeireiros peruanos ameaçam invadir o Brasil para roubar mogno

A Tribuna-Rio Branco-AC
18 de Abr de 2002

Madeireiros peruanos já retiraram todas as 246 toras de mogno que haviam sido derrubadas na área indígena de Sawawo, e já visaram que só estão esperando o verão para buscar as toras que derrubaram na área indígena do Amônea, no Acre, há quase dois anos. As áreas indígenas Kampa de Sawawo e do Amônea localizam-se exatamente na fronteira entre o Brasil e Peru, no município de Marechal Thaumaturgo Azevedo, a 810 quilômetros de Rio Branco.

A área é uma das passagens obrigatórias da maior parte da pasta-base de cocaína produzida no Peru e que passa pelo Brasil antes de ser levada para a Europa e Estados Unidos. Assim, os conflitos entre índios Kampas, madeireiros e traficantes, além de caçadores profissionais, já se tornou rotina na área.

Prova disso, é que em 20 de dezembro passado o índio Maldete da Silva Piãnko, cujo nome tribal é Benke Piãnko, foi cercado por um grupo de traficantes armados com pistolas, metralhadoras e fuzis, quando saia de sua aldeia para ir à cidade de Marechal Thaumaturgo.

Eles queriam matá-lo por conta das constantes denúncias dele e de sua família contra a passagem de traficantes por suas terras. Benke só não foi assassinado porque um grupo de índios da nação Arara e brancos que vivem naquela região meterem-se entre eles, impedindo-os de atirarem.

O fato levou o exército e polícia federal a realizarem uma operação de varredura e a expulsão de todos os peruanos que haviam migrado ilegalmente para aquela região. "Agora os traficantes estão mais calmos e evitam invadir nossa área", reconhece o líder indígena, que é um dos integrantes do grupo que se apresentou no Rock in Rio do ano passado.

MADEIREIROS NA ESPREITA Os 35 mil hectares da área indígena Kampa do Amônea abrigam uma das maiores ou, talvez, a maior concentração de árvores de mogno do mundo. Por conta disso, eles têm sofrido constantes invasões tanto por parte de madeireiros peruanos quanto brasileiros.

No Peru, onde o mogno é conhecido como caôba, embora sua exploração seja proibida em lei, na prática ela é livre, o que os leva a invadirem constantemente o lado brasileiro da fronteira para roubar a madeira.

"A gente faz o que pode para manter nossa área fiscalizada, mas os madeireiros continuam entrando, inclusive já avisaram que no verão virão buscar as madeiras que nós não deixamos que tirassem antes.

Outro problema sério são as invasões de caçadores que entram pelo Rio Arara, contando com o apoio de pessoas que vivem na área da Reserva Extrativista do Alto Juruá", denunciou.

APELO À JUSTIÇA No final da década de 80, homens e máquinas a serviço do empresário Orleir Cameli, eleito depois governador do Acre, invadiram a área indígena Kampa, onde derrubaram 15 mil metros cúbicos de mogno, cerejeira, cedro e copaíba.

O ex-governador foi condenado pela Justiça Federal a pagar indenização de R$ 12 milhões aos índios por conta dos prejuízos causados. Em valores atuais isso atinge mais de R$ 48 milhões, e o Ministério Público Federal não consegue encontrar bens em nome do ex-governador para leiloar e quitar o débito.

"Nós queremos o dinheiro, ele é nosso, já que vai servir para pagar os prejuízos que ele nos causou quando derrubou a mata e espantou a caça com o barulho de suas máquinas. Com esse dinheiro nós vamos terminar de recuperar a floresta que foi destruída nas fazendas antigas dentro de nossa área e também criar condições para melhorar a vida

de toda a nossa gente", garante Benke que está colocando essa e outras reivindicações de seu povo, na internet para que o nível de impunidade dos crimes contra comunidades indígenas seja mais amplamente conhecido no Brasil e no mundo.

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