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A madeira vai virar ouro

GM, Opinião, p. A3
Autor: AMOROSO, Sergio
30 de Mar de 2004

A madeira vai virar ouro

O cultivo de eucalipto e pinus, tachado como principal motivo de devastação de áreas, é hoje apenas motivo de debates e projetos de lei que proíbem a plantação dessas espécies em locais de preservação permanente ou em mananciais. É ideal e extremamente importante que essa postura ambientalmente correta venha à tona. O "réu das matas" nunca é visto, pelo valor social e econômico, como principal matéria-prima de setor que emprega 100 mil pessoas no Brasil. Essa realidade parece estar apenas no contexto das indústrias de papel e celulose, que sofrem com a falta de políticas a longo prazo, transversais aos programas de desenvolvimento regional e local. Como o setor já alertou, há risco, a curto prazo, de escassez na oferta brasileira de madeira de florestas plantadas, o chamado "apagão da madeira", problema que já foi levado ao conhecimento do presidente Lula e dos seus ministros. O setor de papel e celulose, que exportou US$ 2,8 bilhões em 2003, padece com o desabastecimento de fibras virgens e opera no limite de sua capacidade produtiva. Sem uma política definida - não apenas financeira, mas de desenvolvimento -, quem vai querer atirar no escuro, investindo para esperar até 7 anos (eucalipto) ou 20 anos (pinus) num país que, só como exemplo, tem suas taxas de juros entre as mais altas do mundo? Há de se perguntar por que, diante das dificuldades, as indústrias brasileiras não importam madeira. Fica como resposta o cálculo do preço do transporte e da logística, visto que são usados 4 mil quilos de madeira na fabricação de uma tonelada de papel. Mesmo assim, correm o risco de ter de fazê-lo, trazendo a matéria-prima de países do Mercosul, que já possuem planos de reflorestamento. Segundo a Sociedade Brasileira de Silvicultura, para suprir a demanda de madeira nos próximos dez anos, o Brasil precisa plantar mais de 600 mil hectares/ano. Somente em 2004 projeta-se que o País necessite de 135 milhões de m3 de floresta plantada, e as previsões de mercado apontam que a oferta atingirá cerca de 125 milhões. Para rebater a fama de vilão, cabe esclarecer que o cultivo do eucalipto e pinus no País é realizado somente em áreas sem cobertura florestal ou degradadas, e não em florestas nativas. A idéia de devastação já é remota: hoje, o que se pratica é o desenvolvimento sustentável. Ao contrário de países da Europa, Ásia e América do Norte, o Brasil produz celulose e papel exclusivamente a partir de florestas plantadas de eucalipto e pinus, sendo até objeto de estudo por não utilizar uma única árvore nativa para fabricar seus produtos.O Brasil também é invejado pelas imensas vantagens competitivas para a fabricação de celulose e papel. Solo e clima tropical favorecem o cultivo do eucalipto e pinus, que crescem aqui muito mais rapidamente que nos países do Hemisfério Norte, líderes na produção mundial, utilizando uma área significativamente menor para plantio. Enquanto aqui a árvore de pinus leva a média de 14 anos para chegar à idade de corte, lá demora no mínimo 40 anos. Mas, modesto, o Brasil responde por apenas 1,5% do mercado mundial. Mesmo com a falta de incentivo, as indústrias de papel e celulose arcam com custos absurdos e investem em tecnologia de ponta para oferecer produtos cada vez mais competitivos. Além disso, algumas empresas do setor, a exemplo da Orsa Celulose, apostam em programas de fomento florestal a fim de incentivar pequenos e médios produtores rurais a plantarem eucalipto e pinus em áreas não utilizadas pela agricultura e pecuária. Esse incentivo inclui toda a assistência técnica, fornecimento de mudas e insumos necessários ao plantio. O fomento contempla o desenvolvimento de potencialidades humanas e do meio ambiente, além de promover forte aproximação da empresa com a comunidade. Além de contribuir efetivamente para a reativação da economia, uma política pública voltada para a expansão florestal planejada, com legislação compatível e taxas de financiamento acessíveis, será muito significativa para o desenvolvimento do País, uma vez que é capaz de gerar outros milhões de empregos. Em tempo, representantes do setor, fazendo a sua parte, já apresentaram ao presidente da República o Programa de Investimento para o período 2003 a 2012, orçado em US$ 14,4 bilhões, o que ampliará a capacidade produtiva e aumentará as exportações, gerando também novas oportunidades de trabalho. O Brasil tem enormes potencialidades que permitem ao segmento industrial de base florestal uma vantagem competitiva importante dentro das principais cadeias produtivas. Mas só com um planejamento concreto os produtores de papel e celulose voltarão a confiar no governo e otimizarão as vantagens competitivas do País com relação às florestas. Enquanto isso não ocorre, a indústria de base florestal vai trabalhando no limite da capacidade produtiva, o Brasil perde oportunidades de mercado e a madeira vai "virando ouro". kicker: O Brasil produz celulose e papel exclusivamente a partir de florestas plantadas de eucalipto e pinus (Gazeta Mercantil/Caderno A3)(Sergio Amoroso - Presidente do Grupo Orsa, que engloba as organizações Orsa Celulose Papel e Embalagens, Orsa Florestal, Jari Celulose e Fundação Orsa.)

GM, 30/03/2004, Opinião, p. A3

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