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Madeira reflorestada: estimular o uso racional

JT, Artigos, p.A2
Autor: LIMA, Lupercio Barros
16 de Mar de 2004

Madeira reflorestada: estimular o uso racional
Lupércio Barros Lima
Grande produtor de madeira reflorestada, o Brasil luta contra a exploração da mata nativa. Desenvolver tecnologias, implementar reformas governamentais e fomentar a educação ambiental são formas de difundir a cultura da madeira.
Certa vez ouvi uma frase que "colou" na minha cabeça: "Madeira é bom, mas ninguém sabe." Eu, como produtor de casas, perfis e móveis de madeira, e tendo vivido anos no Japão, país que reúne tecnologia e respeito pelo uso da madeira, admito que sou um entusiasta dessa matéria-prima. Entendo que a madeira tem inúmeros benefícios, inclusive para o meio ambiente, desde a prática do plantio até o uso adequado do material reflorestado, pois minimiza a exploração da mata nativa, escassa e cara. Talvez, por isso mesmo, a minha estranheza.
Mas os fatos são evidentes: apesar de o Brasil ser um país com vocação florestal, das potencialidades de reflorestamento e de uma crescente demanda por moradias, a tradição construtiva em alvenaria de tijolos, introduzida pelos portugueses na época da colonização do País, ainda é a mais utilizada.
Entre nós, o uso da madeira ainda está restrito aos produtos de acabamento como pisos, rodapés, estrutura do telhado e esquadrias.
A madeira é o único material construtivo que pode ser reposto pela própria natureza e, por ser biodegradável, os resíduos são totalmente aproveitados.
Numa época de crise energética e de preocupação com o meio ambiente é de se esperar um maior interesse por este material, cujo beneficiamento requer pouco consumo de energia. Outros materiais estruturais, como o aço e o concreto armado, são produzidos por processos altamente poluentes, antecedidos por agressões ambientais consideráveis para a obtenção de matéria-prima. Os referidos processos requerem alto consumo energético e a matéria-prima retirada da natureza jamais será reposta. Já a madeira, se renova mesmo sob rigorosas condições climáticas.
O Brasil possui a maior e a mais diversificada floresta do mundo, nosso clima e solo são apropriados ao plantio de espécies de rápido crescimento, especialmente eucalipto e pinus. Fruto de suas condições privilegiadas, o Brasil é hoje um recordista em produtividade: espécies que demandam 80 anos para o adequado beneficiamento nos países produtores, em território nacional precisam de apenas 25 anos. A área cultivada com eucalipto e pinus, com o grande impulso de incentivos fiscais das décadas de 70 e 80, passou de 4 mil hectares para 4,8 milhões de hectares. O Brasil é hoje o quarto maior produtor mundial de produtos florestais, mas no ramo das exportações ainda é apenas o 14o.
Historicamente, nossas riquezas têm sido exploradas no sentido negativo, extrativista apenas, sendo levadas de nosso território para gerar divisas e desenvolvimento em outros países. Fruto dessa cultura é que temos tão pouca expressividade mundial na exportação de produtos de madeira.
Está na hora de o Brasil prestar atenção à produção e uso da madeira. Em vez de vender a matéria-prima, entregando nosso "ouro verde", temos de gerar riqueza a partir desse ativo, investindo em tecnologia, qualidade e produtividade, gerando diferenciais competitivos que agregam valor ao material.
Para que tudo isso aconteça é fundamental que esteja presente na pauta estratégica do governo um programa florestal consistente onde o setor produtivo esteja incluído. Ações de incentivo do plantio e a produção sustentável de madeira são indispensáveis, mas devem ser acompanhadas de estímulo à agregação de valor, gerando empregos e inclusão social. Além de políticas de redução de alíquotas de importação de equipamentos e tecnologia e ampliação das restrições de exportação de produtos sem valor agregado (toras brutas, por exemplo).
Dadas as vantagens comparativas que o País possui, a participação de apenas 4% no PIB nacional parece muito pequena. Se for considerada uma área plantada de 4,8 milhões e os 500 mil empregos gerados, pode-se concluir que o setor florestal ainda pode expandir significativamente. Se o País caminha para ser o "celeiro do mundo", que o seja também na produção de madeira, fonte de riqueza cada vez mais valiosa. Está mais do que na hora de todo mundo saber que a madeira é ótima, sim, e, o seu uso racional, melhor ainda.
Lupércio Barros Lima é membro do Conselho Florestal do Movimento Espírito Santo em Ação e-mail: lupercio@tora.ind.br

JT, 16/03/2004, p. A2

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