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Madeira ilegal tem métodos iguais aos do tráfico

Estado de S.Paulo-São Paulo-SP
Autor: EDSON LUIZ
06 de Out de 2002

Polícia Federal alerta para a necessidade de cooperação internacional

Investigações feitas pela Polícia Federal comprovaram que os grupos que atuam na comercialização ilegal de mogno na Amazônia empregam os mesmos métodos utilizados pelo narcotráfico. Além disso, a movimentação financeira é superior a do tráfico de drogas em algumas regiões e o custo operacional, inferior ao do crime organizado. "Não estamos tratando com pequenos infratores, mas com uma máfia", afirma o coordenador da área de crimes ambientais da PF, delegado Jorge Barbosa Pontes.

O problema ganhou maior proporção a partir da decisão do governo de impedir a extração, exportação e transporte de mogno, a chamada moratória, renovada há um mês pelo Ministério do Meio Ambiente, que organizou uma comissão para estudar a regulamentação de uma nova lei sobre o assunto. Atualmente, a madeira só pode ser explorada nos projetos de manejo autorizados pelo Ibama.

Mas foi a partir do ano passado, com a proibição, que a PF e o Ibama registraram um aumento na extração ilegal, principalmente no sul e no sudeste do Pará, onde está formado o que fiscais e policiais passaram a chamar de "Região do Meio", e onde há uma grande concentração da madeira. É justamente aí, entre as cidades de Uruará, Altamira, São Félix do Xingu, Redenção e Tucumã, que a máfia está agindo, conforme levantamento do serviço de inteligência da PF.

"A máfia está muito organizada, mas são poucos os grupos que estão atuando", afirma o delegado Pontes. Pelas investigações feitas até agora pela PF, são cinco pessoas que comandam toda a extração ilegal, principalmente no Pará, com métodos semelhantes aos do crime organizado. "Eles usam laranjas, costumam também utilizar a violência, movimentam grandes fortunas e coagem os pequenos. Na verdade, são barões que estão encastelados e protegidos por uma sucessão de pessoas."

Repasse - Segundo o trabalho feito pela coordenação de repressão aos crimes ambientais da PF, tudo começa nas aldeias e pequenas propriedades na floresta. Os madeireiros entram na região, trocam as árvores de mogno por produtos de primeira necessidade ou pagam um preço irrisório. Em seguida, a madeira é repassada para outra pessoa, normalmente um sitiante que fica encarregado de tirar as toras até o igarapé ou rio mais próximo.

"Normalmente, os integrantes desses grupos não se conhecem, apesar de alguns morarem próximos. Esta é uma regra entre eles", afirma Pontes. A partir da retirada da madeira, elas são marcadas em lotes. "Eles usam o que chamamos de pool, que são os sinais feitos pelos traficantes nas embalagens das drogas para identificar a qualidade e a procedência do produto." As investigações também mostraram que índios, seringueiros e ribeirinhos estão sendo hoje o principal alvo da máfia. "A alegação é de que não existem alternativas para essas pessoas, o que não é verdade. Apenas meia dúzia de pessoas se beneficiam."

A partir do momento em que a madeira sai da floresta, outro grupo é encarregado de levá-la até as serrarias, muitas vezes escoltado por homens fortemente armados. Há um mês, a PF conseguiu apreender quase 7 mil metros cúbicos de mogno em uma madeireira clandestina, às margens do Rio Xingu, em São Félix do Xingu. Somente este ano, o Ibama encontrou 13 mil metros cúbicos na região do sul e do sudeste do Pará.

Das serrarias, de onde sai acobertada com notas frias, a madeira processada é levada de caminhão para os portos de Belém, Barcarena, Santarém e Vigia, no Pará, e Paranaguá, no Paraná, onde conseguem guias de importação e seguem para o exterior. "Apesar de atuar como uma máfia, os grupos de traficantes de madeira não têm a mesma punição que os integrantes do narcotráfico. A lei para eles é branda, absolutamente ridícula", afirma o delegado Pontes. "Além de aprimorar e tornar a lei mais dura, é necessário que os países importadores se conscientizem da necessidade de verificar a origem do mogno.

Somente assim acabaremos com a máfia."

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