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Macacos em perigo

Agência FAPESP - www.agencia.fapesp.br
Autor: Alex Sander Alcântara
12 de Set de 2008

O cão é uma excelente companhia para moradores de áreas urbanas e um forte aliado dos proprietários rurais. Mas um estudo feito na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) alerta para o risco do animal de estimação em áreas de conservação ambiental.

O trabalho relata a predação de macaco-prego (Cebus nigritus) pelo cão doméstico no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, localizado em um remanescente de Mata Atlântica no sudeste de Minas Gerais.

"Nos últimos dez anos temos percebido que o cão doméstico tem entrado muito freqüentemente em unidades de conservação. O impacto disso na fauna nativa já é sério o bastante para sugerir o aumento de controle", disse Adriano Chiarello, professor do Programa de Pós-Graduação em Zoologia de Vertebrados da PUC-MG, à Agência FAPESP.

O novo estudo teve seus resultados publicados na Revista Brasileira de Zoologia, em artigo assinado por Chiarello e outros três pesquisadores da PUC-MG.

A proximidade com as áreas urbanas é um dos fatores que contribuem para a presença de cães nas unidades de preservação. "A entrada é facilitada na borda da mata mais próxima a núcleos urbanos ou mais próximas a áreas agrícolas. E ela é menos freqüente na borda que é protegida com floresta densa", explicou Chiarello.

"Com o crescimento das cidades, a fragmentação das florestas facilitou a entrada do homem. É difícil achar um fragmento de Mata Atlântica na região Sudeste que não tenha um núcleo urbano em 10 ou 20 quilômetros de distância. Trata-se de distância vencida facilmente por um cão doméstico", afirmou.

O desenvolvimento de tecnologias tem ajudado os pesquisadores a identificar sinais de predação. "As armadilhas fotográficas (camera trap study) permitem que se conheçam espécies que normalmente não são observadas por métodos convencionais de captura de mamíferos", disse.

O impacto da invasão de espécies domésticas é considerado a terceira maior ameaça às espécies nativas, depois da superexploração e da destruição do hábitat. Segundo dados do estudo, o Brasil tinha cerca de 25 milhões de cães domésticos em 2006.

De acordo com o pesquisador, não se sabe ainda o impacto da presença do cão nessas áreas. Em outra pesquisa realizada em Caratinga, também na zona da mata mineira e famosa pela presença dos macacos muriquis, o cão doméstico foi a espécie de mamífero mais registrada pelas armadilhas fotográficas.

"Jaguatirica, onça-parda e o cão doméstico são possíveis predadores do macaco. Enquanto em Caratinga registramos 17 casos de cão doméstico, identificamos apenas três de jaguatirica e um de onça-parda", diz.

Transmissão de doenças

Outra grande preocupação é que os cães podem levar a raiva, leishmaniose e outras zoonoses que tenham potencial de impacto na fauna. Segundo Chiarello, a situação de controle é complexa e envolve um trabalho junto à vigilância sanitária, às prefeituras locais e também ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

"Esse assunto deve fazer parte da agenda das políticas ambientais no Brasil. A presença do cão em áreas de conservação precisa ser monitorada e controlada", disse. Segundo ele, os cães entram nessas áreas teoricamente protegidas de duas formas: acompanhados de um adulto ou sozinhos. "Depois de aprender o caminho, o cão retorna sozinho."

O professor da PUC-MG conta que há dois tipos de cães, um que tem residência fixa e outro mais selvagem. O segundo é potencialmente mais perigoso, uma vez que entra em busca de alimento. "O animal asselvajado, que não tem a suplementação alimentar pelo seu dono, busca o alimento no meio natural. Potencialmente, ele é mais perigoso do que o cão que tem residência fixa", disse.

Chiarello ressalta que o cão é um forte aliado do proprietário rural e defende uma política de controle, que passe principalmente pela educação. "O passo inicial é de alerta. Os proprietários de fazendas próximas às unidades de conservação precisam saber que seus cães têm impacto negativo na fauna. Eles precisam ser alertados do problema. Um segundo passo é cadastrar os cães, vaciná-los e colocar coleira de identificação. Com isso, poderemos separar aqueles com residência dos que não a têm", defendeu.

"Vamos ampliar o estudo em mais seis reservas. Monitorar com câmaras de modo a tentar entender quais são as razões e os fatores que estão facilitando ou dificultando a entrada do cão nas reservas", disse.

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