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Luto da terra se torna doença na cidade

O Globo, País, p. 10
24 de Jun de 2018

Luto da terra se torna doença na cidade

POR ANA LUCIA AZEVEDO
24/06/2018 4:30 / ATUALIZADO 25/06/2018 15:52

MARIANA (MG) - A cada amanhecer em Mariana, Minas Gerais, Eliana da Silva se pergunta a mesma coisa. Vê o sol raiar e, como nos últimos dois anos e sete meses após o desastre que devastou sua vida, não enxerga uma luz para os filhos. Lorraine, de 17 anos, "perdeu a alegria de viver". João, de 9 anos, passou a não dormir e a chorar, "com medo de morrer". Eliana os acompanha as noites adentro, quase nunca dorme. "Será que alguma mãe sabe acabar com essa dor?".
A única certeza de Eliana, de 41 anos, é que será mais um dia de agonia. Sem data para terminar, sem prazos garantidos. Assim como o reassentamento e o pagamento das indenizações a Eliane, sua família e as demais vítimas do rompimento da barragem de rejeito de mineração da Samarco, em Mariana. Ocorrido em 5 de novembro de 2015, o maior desastre ambiental da história do Brasil permanece impune. E ela e os filhos estão entre os muitos casos de depressão entre as vítimas do desastre.
Um estudo da UFMG revelou este ano que 28,9% dos atingidos pela tragédia da Samarco sofrem de depressão, um percentual cerca de cinco vezes maior do que o da população brasileira, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Entre as crianças e jovens, o percentual sobe para 39%. "Um quadro pior do que o encontrado em Fukushima (a cidade do Japão, cujas vítimas foram atingidas por um terremoto seguido de tsunami e um vazamento nuclear). Isso aconteceu porque o desastre de Mariana não acabou. O fator agressor está em curso", afirma o psiquiatra Frederico Garcia, do Departamento de Saúde Mental da UFMG e um dos coordenadores do estudo.
Solidão e preconceito
Após o terror de fugirem da onda de lama e perderem tudo, os filhos de Eliana conheceram a solidão e o preconceito em Mariana. Na cidade, foram chamados de "pés de lama", forma como parte dos moradores da cidade passou a se referir aos atingidos, depois que a Samarco foi obrigada a paralisar suas atividades devido ao desastre causado por sua barragem de rejeito de minério de ferro. "Houve caso de abaixo-assinado para que os filhos dos atingidos fossem tirados de escolas de Mariana para onde foram transferidos após o desastre. Tudo isso prolonga o dano emocional e à saúde", observa Garcia.
- Lorraine perdeu o contato com todos os amigos. Foi xingada de pé de lama, não tinha como se defender. Com o João, foi ainda pior. Crianças disseram que iam jogar pedras nele. E jogaram. Jogaram pedra nele. Em Mariana, algumas pessoas colocam a culpa do desastre nos atingidos. Lorraine e eu já fomos discriminadas até no ponto do ônibus. Sofro, mas sou adulta. Meus filhos sofrem muito mais. Ainda vivemos sem justiça. Que mãe aguenta isso? - pergunta.
Eliana morava com os cinco filhos em Paracatu de Baixo, vilarejo rural de Mariana conhecido pelas festas, como a Folia de Reis. Hoje, como Bento Rodrigues, Paracatu está sob o literal mar de lama. Em Paracatu, "todo mundo se conhecia. De sangue ou de coração, todos eram uma família", lembra ela.
Em Mariana, na casa alugada pela Fundação Renova (criada para gerir o desastre), se viu sozinha com os filhos. Além de Lorraine e João Vitor, ela é mãe de Joyce, 21 anos; Hugo, de 14, e Marcela, de 11. Ajuda Joyce e o marido dela a cuidarem da neta Valentina, de 1 ano. As famílias atingidas foram dispersadas pela cidade, em casas alugadas, enquanto esperam por um reassentamento prometido para 2019 e agora sem prazo garantido para acontecer.
- Tem uma hora que basta. A gente fica doente de tanta injustiça. Não adianta só tomar remédio. Nos tiraram tudo, deixaram meus filhos doentes. Fazem reuniões, reuniões, reuniões. E não resolvem nada. Só enrolam. A justiça não anda. Mas o desespero, isso é todo dia. Conto o que estamos passando porque preciso desabafar, queria ter esperança que as coisas pudessem melhorar - diz Eliana.
Lorraine foi a primeira a adoecer. Ao ser separada da comunidade de Paracatu de Baixo, se viu sem laços de família e amizades. Os amigos que cresceram juntos não estavam mais "logo ali ao lado". Na rua, passou a encontrar gente que a olha de soslaio e a chama de "pé de lama". O carinho da família não está mais na vizinhança. Só por telefone. Ou indo de ônibus, e nem sempre havia dinheiro para a passagem.
O lugar para as conversas dos jovens deixou de ser a quadra da escola. Se reduziu a grupos de WhatsApp - corriqueiros no mundo digital urbano e o mesmo que nada para pessoas acostumadas ao convívio com gente de carne e osso. À medida que os meses em Mariana se passavam, Eliana conta que Lorraine passou a se isolar e a chorar pelos cantos. Desde pequena elogiada pela beleza, a menina emagreceu a ponto de assustar a mãe, ficou "com menos de 30 quilos". Os longos cabelos negros caíram em chumaços.
- Parei de dormir porque ela passava as noites em claro. Virei zumbi. Lorraine perdeu a vontade de viver, nunca mais foi a mesma. Ela era tão animada. Levei aos médicos, não melhorou quase nada. Já procurei um psicólogo particular, mas tive que desistir porque não posso pagar, fica caro - diz a mãe, que também passou a sofrer com sintomas de depressão, como pesadelos recorrentes e apatia.
Lorraine amava o cotidiano cercada por parentes e amigos de infância, das frutas colhidas no pé no quintal de casa. Preferiu ir cursar o Ensino Médio na cidade vizinha de Águas Claras, mesmo mais longe, para se sentir "um pouco mais em casa, na roça" e se livrar do preconceito.
A mãe se recorda que João Vítor não dormia nos meses seguintes ao desastre. Chorava e dizia que ia morrer. Mandaram-no para o psicólogo e deram-lhe remédios. "Mas os psicólogos fizeram uma coisa que não gostei. Ele perdeu a bicicleta na lama e os psicólogos, para que ele voltasse às consultas, disseram que ele ia ganhar uma bicicleta nova. Claro, não ganhou nada. Não precisavam tê-lo enganado", reclama.
Para os autores do estudo, uma das piores consequências do rompimento da Barragem de Fundão foi pulverizar as comunidades.
- A dispersão dos atingidos foi o segundo desastre para as vítimas da tragédia. A capacidade de resolver problemas tem um forte componente coletivo em comunidades rurais unidas, que são como família estendidas, como as de Paracatu e Bento Rodrigues. A resiliência é do grupo. Sozinhas, as pessoas se tornam vulneráveis. O meio urbano é individualista. O rural, coletivo - afirma Garcia.
Eliana se ressente da falta da rede comunitária. Na roça, sempre havia quem tomasse conta dos filhos menores enquanto ela trabalhava. Na cidade, ainda precisa gastar o dinheiro curto no supermercado. Em Paracatu, Eliana e os filhos iam à horta do quintal de casa. O que não tinham, os parentes e vizinhos davam. Agora, não sabe quando voltarão a morar na roça, num prometido reassentamento. Tampouco imagina quando os filhos voltarão a ter paz.
- Desde aquela noite do desastre, em que busquei, um a um, os meus filhos espalhados no mato escuro pela lama, não sei de mais nada. A partir daquele dia, foi só confusão, decepção, depressão, tudo junto. Me tiraram o controle da minha vida. Como vou saber lidar com isso?
Quando as rosas falam
Como na canção de Cartola, Marta se queixou às rosas. Ela as plantou num vaso, para "dar um pouco de alegria" a seu mundo literalmente coberto de lama. Acalentava a esperança de logo levá-las para casa. Mas já terminaram três verões, a roseira cresceu, quebrou o vaso e plantou raízes no chão. As rosas não falam. Mas lembram a Marta que muito se tempo passou, desde que elas as plantou em fins de 2015. A esperança virou tristeza e esta, depressão. Como outros atingidos pelo rompimento da barragem de mineração da Samarco, Marta de Jesus Arcanjo Peixoto, de 46 anos, adoeceu.
E Marta, que evita falar de esperança, vive a esperar. Espera que os pesadelos cessem à noite e que, ao acordar, não mergulhe em outro, na casa pequena, sem forro, chão de terra batida, paredes mal acabadas em que passou a morar desde que a lama destruiu seu sítio então recém-reformado, em Paracatu de Baixo. Tinha a entrada coberta por orquídeas e rosas, como as que agora arrebentam o vaso.
Ela espera se livrar da depressão. Esta começou seis meses depois da destruição de seu sítio e sua comunidade. Agora, consome sua energia, coisa que nunca havia lhe faltado e permitiu, que junto com o marido John, trabalhasse na roça e juntasse dinheiro para que os filhos chegassem à universidade. Hoje, o mais velho, Johne, de 27 anos, cursa doutorado em Engenharia. O mais novo, Darlei, ingressou na faculdade de Matemática. A filha Tatiane, de 24 anos, se mudou para Mariana e raramente pode visitar os pais porque a casa deles não é segura para seu filho de 3 anos. Falar do neto é uma das poucas coisas que ainda fazem sua mãe sorrir, diz Johne, que luta pelos direitos da família e passa os fins de semana ajudando os pais no trabalho pesado da roça.
Marta, que vive o desespero dos que têm a vida transformada numa espera sem fim, precisa aguardar até mesmo por tratamento. Há três meses está sem atendimento, por uma combinação de falta de transporte a médicos licenciados.
Principalmente, Marta espera a reconstrução de seu sítio em outro lugar que não seja em cima da própria lama - esta foi a única oferta feita pela Fundação Renova e que a família recusou. Esperam que a Renova reconstrua sua propriedade num terreno vizinho, mais elevado e a salvo da lama.
- Queriam que a gente morasse sobre rejeito, lama e a própria desgraça. Isso é falta de respeito - diz.
O sítio concretizava o sonho da vida de Marta, uma mulher nascida e criada na roça de Paracatu de Baixo, que se sentia mal só de pisar em cidade. "Desde que me casei, aos 18 anos, sonhava com um piso de cerâmica por toda casa e banheiro azulejado até o teto. Uns meses antes da lama, com os meninos criados, tínhamos terminado a reforma. A vida tinha ficado confortável. Não durou nada". O sítio virou um cemitério de rejeitos, escombros, animais e lembranças.
As seis lagoas onde a família nadava e criava peixes se tornaram poços de areia movediça, armadilhas em que animais ainda atolam. Fazem parte das dezenas espalhadas pelas margens do Rio Gualaxo do Norte citadas por relatórios do Ibama, que consideram imprescindível remover a lama delas por oferecerem risco de morte a pessoas e animais.
- A gente ficava a uma pinguela de distância de Paracatu de Baixo e ia para lá aos domingos. Era só atravessar o rio. Assistia à missa, encontrava com os amigos para um churrasco. Era bom demais, muita alegria. Os meninos faziam festa com o John, o chamavam de João Raio porque era forte na lida com o gado. Agora, estamos sós. Só nós e a lama. A solidão adoece a gente. A solidão, a injustiça, tudo isso dói de um jeito que não passa. A gente nem lembrava dessa barragem e ela acabou com a nossa vida numa noite. Quem causou isso não está nem aí para a gente. Eu não sei o que passa pela cabeça dessas pessoas - afirma Marta.
A gerente de reassentamento da Renova, Patrícia Lois, afirma que até fevereiro deste ano reconstrução no mesmo lugar - isto é, sobre a lama - era de fato a única oferta para alguns sitiantes, mas que agora a fundação oferecerá opções em outros locais.
Marta espera retomar o controle da própria vida e, então, voltar a sonhar. Só não pode, dia algum, se dar ao luxo de esperar o sol raiar. Seu trabalho e o do marido John Jesus Mol Peixoto, de 53 anos, começa às 4h, quando percorrem a pé os dois quilômetros da casa alugada até o curral do antigo sítio para ordenhar suas 30 vacas. Folgas nos domingos e feriados ficaram no passado, enterrados na lama junto com o sítio que construíram.
- Chegaram a nos oferecer morar numa casa alugada na cidade. Para nós, isso é impossível porque vivemos das nossas criações, são tudo o que nos restou. Nossas vacas que escaparam da onda de lama ficaram junto das ruínas do sítio e seriam levadas para o depósito da Renova. Também íamos entregar nossos animais para a Renova e viver na dependência de um cartão, um pagamento miserável? - revolta-se John, também acometido por depressão e cada vez mais calado e recluso em casa.
John passa o dia todo no campo. Precisa evitar que as vacas entrem na lama e atolem, como muitas vezes já aconteceu. Vez por outra, uma entra nas ruínas, pula restos de sofás ou o casaco enlameado do filho mais velho onde ainda se vê o emblema bordado da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Na parede que restou da sala, ficou grudado pela lama um relógio quebrado.
- Nosso tempo está parado como o dele, no dia em que nosso mundo acabou. Vem a barragem dos outros e destrói tudo. E ninguém paga. Não acontece nada - diz ele.
Nas poucas vezes em que vai a Mariana, Marta busca quem restaure seu retrato de casamento, que conseguiu encontrar nos destroços da casa. Ninguém lhe dá muita esperança. Ela então se volta às suas rosas, "a única coisa bonita que restou por aqui".
A terra é afeto
As rosas de Marta e as frutas no pé de Lorraine e Eliana representam mais do que plantas. São o que restou de uma forma de pertencimento destruída pelo desastre da barragem da Samarco. O psicólogo Sérgio Rossi, que coordenou a rede de assistência psicossocial aos atingidos até o ano passado, lembra que a depressão é resultado da combinação de uma perda enorme com a incerteza sobre o futuro.
- Essas pessoas foram arrancadas de seu território. Perderam seu modo de vida e vivem na incerteza, sem referências. Quando serão reassentadas? Haverá justiça? Elas não têm qualquer perspectiva. A impunidade e a morosidade da justiça também causam adoecimento - frisa.
Ser transferido da roça para a cidade pode alegrar a muita gente, inclusive vários dos atingidos, diz. Mas não a quem se sentia integrado à vida no campo. Para saber o que isso significa, basta imaginar uma pessoa completamente urbana, acostumada a comprar a comida pronta, depender de tecnologia e frequentar shoppings e cinemas, ser obrigada a revolver a terra, plantar e colher sua comida, ordenhar vacas, andar em estradas de terra desertas e quase nunca ter sinal de telefonia, quanto mais de internet. Paraíso e inferno podem ser relativos.
- Você dá remédios para um sitiante, o coloca numa terapia. E todos os dias ele volta para um mundo que não é o dele e que o hostiliza. Ele vive sob permanente sensação de estranheza e injustiça - observa Rossi.
O psiquiatra Frederico Garcia, da UFMG, destaca que a sociedade urbana é individualista, mas no campo as coisas são diferentes:
- Em Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e nos demais povoados existia o modo de vida tradicional, coletivista, em que a comunidade é parte da família. A relação com a terra é muito forte.
A psicóloga Maíra Almeida Carvalho, do grupo de apoio Conviver, que atende aos atingidos desde janeiro de 2016, diz que a depressão está ligada a "perder o pertencer e o direito de governar a própria vida".
- A terra é parte da família. Não se trata apenas de um espaço geográfico, mas afetivo.
Ela teme que a exposição da gravidade dos danos psicológicos acarrete ainda mais preconceito contra os atingidos.
- A depressão dos atingidos é como uma tristeza muito profunda, um sofrimento imenso, com causa social. É um cotidiano de desastre em curso e sem domínio sobre o próprio destino.
Para Garcia, são necessárias três coisas fundamentais. A primeira e mais urgente é a assistência, que "não pode ficar só a cargo do Estado." A segunda é o Brasil ter uma estratégia de saúde mental para as vítimas de desastres, pois "os dias seguintes podem ser tão devastadores quanto o da tragédia". A terceira é uma política de compensação de longo prazo para as crianças e jovens.
- Vítimas de estresse pós-traumático correm maior risco de complicações ao longo da vida. Eles não podem ser abandonados. Algo precisa ser feito por eles.
Tragédia sem fim
Dois anos e sete meses após a barragem de rejeito de minério de ferro de Fundão, da Samarco, romper e causar o maior desastre ambiental do Brasil, tudo o que as pessoas atingidas podem fazer é esperar. Sem prazo definido. O andamento da ação civil, adiado por quatro vezes, deveria ser retomado no próximo dia 25. Já para a construção dos reassentamentos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira, não há mais sequer prazo.
Em 5 de novembro de 2015, a onda de lama levou menos de meia hora para destruir Bento Rodrigues e no início da noite já engolia Paracatu de Baixo. Chegou para devastar Gesteira, em Barra Longa, de madrugada. Existia por parte da Fundação Renova um cronograma de que o novo Bento Rodrigues estivesse construído em março de 2019. Os outros reassentamentos, depois. Não mais.
- Não se pode falar de prazo agora - diz Patrícia Lois, gerente de reassentamento da Renova, a fundação criada a partir de acordo entre a Samarco, suas controladoras Vale e BHP Billinton, governos federal e estaduais de Minas Gerais e Espírito Santo para arcar com a reparação, a indenização e a compensação dos danos.
O pedido de licença ambiental para a propriedade de Lavoura, onde será construído o reassentamento de Bento Rodrigues, foi protocolado apenas no último dia 23 de maio. Sem licença, sem obras. Ainda assim, foi aberto um canteiro de obras. Mas lá só está em construção a infraestrutura _ banheiros, dormitórios etc. _ que os funcionários precisarão para fazer a obra, quando esta um dia começar.
- O atraso é relativo. O que está trazendo é o conhecimento do processo - diz a gerente.
Conhecimento do processo se traduz como novas reuniões com os atingidos para que eles digam mais uma vez o que querem. Aí, serão feitos projetos, segundo Lois, individualizados. "Cada um vai poder dizer como quer morar", afirma. Só não informa quando existirá o lugar para morarem. A Renova contratou 17 arquitetos e "os capacitou" com oficinas ministradas por antropólogos para que, de acordo com ela, entendam o que realmente desejam os moradores, de 225 famílias.
Enquanto isso, se espera o licenciamento. Para este também não existe prazo, reconhece a gerente. "Mas a previsão é que os órgãos vão ser céleres". Mas, diz ela, "as dificuldades trouxeram maturidade para todos".
A Renova também não sabe quantas casas vai construir porque isso depende do cadastro dos moradores, que também "não foi consolidado". Isto é, continua inacabado. E depois que terminar ainda será preciso fazer uma segunda fase, com levantamento de campo do que restou das propriedades. Das propriedades das quais nada restou ou foram submersas pelo dique que a Samarco construiu para conter a lama nos destroços de Bento Rodrigues, Lois explica que serão obtidas informações "por meio de entrevistas e autodeclaração".
Só depois de concluídas essas fases, sem garantias de prazos, é que as pessoas atingidas poderão dizer se preferem ir mesmo para o reassentamento ou se querem uma opção individual, em outro lugar. "As pessoas têm que ter conhecimento e maturidade para escolher", afirma a gerente da Renova.
Quem morava em Paracatu de Baixo terá que esperar ainda mais. Primeiro, a Renova precisa terminar de comprar as propriedades que comporão o reassentamento, uma área chamada de Lucila. Lois informa que 85% da área já foi comprada. Mas Paracatu precisa aguardar ainda a elaboração de uma legislação específica, pois, segundo a gerente, "não é rural nem urbano".
Por enquanto, a Renova faz mais oficinas. Desta vez para que as 140 famílias de Paracatu de Baixo "definam o conceito do projeto".
O reassentamento de Gesteira, bem menor, seria mais rápido. Já não é mais. A princípio, eram apenas 17 famílias. Agora, acrescenta Lois, com o reconhecimento e a inclusão de posseiros estabelecidos no distrito e afetados pelo desastre, o número de famílias poderá chegar a 37. "Com isso, o local de reassentamento passará de 6 para 39 hectares", explica.
- A gente reconhece que é difícil para quem está fora de casa. Mas é preciso construir todo esse processo - observa.
Prazo, não há.

O Globo, 24/06/2018, País, p. 10

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