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A luta da mulher indígena na política

Jornal do Tocantins-Palmas-TO
Autor: Samir Machado
21 de Abr de 2002

A mulher, o idoso, o negro, a criança, o adolescente e os deficientes muito já conquistaram ao longo da história do Brasil, muitas dessas conquistas só foram perceptíveis depois da Constituinte de 1988. Contudo, em pleno início do século 21, ao passarmos pelo Dia do Índio, dia 19 de abril, observamos que para esse grupo as lutas ainda não foram suficientes para alcançar o pleno exercício da democracia.

É justamente com o objetivo de lutar por um espaço mais democrático para as mulheres indígenas que a índia Berixa Karajá, residente no município de Luciara (MT), resolveu encarar as eleições e entrar na vida pública. Ela se elegeu nas eleições de 2000, pela média do PMDB, com 39 votos e hoje estuda a possibilidade de disputar uma cadeira na Assembléia Legislativa, ou em 2004 disputar a reeleição. No Tocantins, devemos ter o nome do Xerente Carlos Sopré disputando uma vaga no Legislativo Estadual.

Apesar das iniciativas, poucos são os indígenas que se arriscam à vida pública. No Estado, dos 6.935 índios espalhados nas 72 aldeias de seis etnias diferentes, estima-se que existam entre 2 e 3 mil eleitores. Desse total, o quadro é de apenas um vereador e um secretário municipal (ambos de Tocantínia).

Determinação
Berixa Karajá luta há pelo menos 15 anos para romper com todos os preconceitos e mostrar o caminho aos seus companheiros indígenas. Ela é casada, mãe de três filhos (16, 14 e 12 anos), tem 38 anos, fez o curso técnico de enfermagem, trabalhou na área da saúde, chegando a representar seu município, como conselheira, no Conselho Regional de Saúde. "Eu comecei a reparar que a mulher indígena não tem espaço na sociedade indígena e muito menos na branca. Foi em busca deste espaço que eu resolvi a entrar na política", explica Berixa. Ela lembra que a mulher branca lutou por muitos anos até conquistar seu espaço e ter direitos iguais aos dos homens na sociedade. "Por que a mulher indígena não pode ter o mesmo espaço que a mulher branca tem", questiona.

A vereadora lembra que nas aldeias Karajá a mulher é muito discriminada. "Não podemos ter amigos, conversar com homens, viajar, estudar e desenvolver outras atividades paralelas ao papel de mãe", sustenta. Ela mesma lembra que a primeira barreira que encontrou, quando se dispôs a concorrer ao cargo de vereadora, foi colocada por seu marido. "Ele chegou a falar em separação", destaca.

Muitas foram as críticas, mas Berixa recorda que sua determinação a fez perseverar com a idéia fazendo-a chegar à Câmara Municipal. "Me propus a servir como um ícone, um exemplo, para as outras índias entenderem que nós também temos que nos desenvolver na sociedade", justifica acrescentando: "eu tinha que sair do isolamento. Lutei e consegui!". Ela destaca que, além da mulher indígena, defende sua comunidade em geral. "Política é muito cheia de manipulação. Agora estou pegando mais o movimento político", destaca Berixa.

Berixa explica que conseguiu conciliar bem o papel de mãe e parlamentar. Ela se considera realizada por ter conseguido alcançar esse espaço no Legislativo. "Mas é preciso continuar com essa luta. Pretendo ir mais adiante", finaliza.

A vereadora Berixa tinha uma palestra sobre a Mulher Indígena na Política, agendada no último dia 12 no II Fórum de Cultura Indígena, realizado pelos alunos do curso de Comunicação Social da Unitins, em Palmas. Contudo, segundo ela, devido a problemas familiares ela não pôde comparecer.

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