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Lula quer rever fundo internacional

O Globo, O País, p. 3
02 de Jun de 2008

Lula quer rever fundo internacional
Temor é que estrangeiros achem que poderão interferir na Amazônia

Rodrigo Taves e Vera G. de Araújo

O ministro Carlos Minc disse ontem que o presidente Lula quer rediscutir a criação do Fundo Internacional da Amazônia, que poderá receber recursos da Noruega, de outros países e de empresas privadas, para a proteção da floresta. Segundo ele, Lula manifestou o temor de que a criação do fundo passe a impressão de que o governo brasileiro precisa do dinheiro de estrangeiros para defender a Amazônia e, por isso, estaria disposto a aceitar a interferência internacional na região, o que contraria todo o discurso oficial.
- Não é isso. Eles não têm interferência sobre onde o dinheiro será aplicado. A Amazônia é nossa e vamos cuidar dela - disse Minc, explicando que um decreto do presidente vai designar o comitê gestor com governos da Amazônia e fundações científicas nacionais.
O ministro acha que o Fundo pode arrecadar US$ 1 bilhão em três anos. O dinheiro seria usado em projetos de reflorestamento e para manter a floresta em pé. O assunto voltará a ser discutido com Lula quarta-feira.
Em Roma, o presidente rebateu ontem as críticas de ativistas no exterior à política ambiental brasileira, que, segundo eles, poderia levar a um desmatamento ainda mais acelerado da Amazônia.
- Ninguém no mundo tem autoridade moral de falar na questão ambiental sobre o Brasil. Ninguém! - disse Lula.
Lula disse que o Brasil tem 69% de sua mata virgem de pé, e que o governo está fazendo levantamento agroecológico para determinar o que se pode plantar e onde. Descartou riscos de a Amazônia ser desmatada para plantio de cana-de-açúcar para produção de etanol, como temem ambientalistas europeus:
- Sabemos que a terra na Amazônia não é produtiva para cana.
Também não é preciso plantar soja na Amazônia, segundo o presidente, porque há muita terra degradada de pasto que pode ser recuperada e, disse, com satélites e outros recursos, "ninguém pode esconder mais" as queimadas. Em mais uma alfinetada na Europa, afirmou que não vai admitir que "os países que depenaram seus países venham agora dar palpite na nossa Amazônia".
- Ela é nossa, vamos cuidar dela com a responsabilidade de quem sabe que lá tem 25 milhões de almas que precisam trabalhar, que precisam viver e que precisamos encontrar o jeito correto de fazê-los viver, ter uma vida digna sem precisar ter a motosserra como instrumento de desenvolvimento.

O Globo, 02/06/2008, O País, p. 3

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