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Lula protege mogno, parques e 'valores morais'

OESP
Autor: TÂNIA MONTEIRO
06 de Jun de 2003

Ao assinar decretos de preservação, ele criticou o domínio dos interesses de mercado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o discurso na cerimônia de comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente para dizer que, nos últimos anos, os brasileiros "foram submetidos a verdadeira lavagem mental", quando os "interesses do mercado ganharam legitimidade oficial para se sobrepor às demais instâncias da vida, seja a instância social ou a ambiental". Segundo ele, por isso, "inverteram-se os valores e decretou-se a primazia dos meios sobre os fins, do secundário sobre o principal e do especulativo sobre o produtivo". É preciso, disse, "recolocar o primado dos valores humanos acima do reinado das cifras".

Lula anunciou uma série de medidas para provar que é possível reverter a lógica da destruição, explorar os recursos naturais de forma sustentável e tornar o País um espaço de equilíbrio entre o homem e a natureza. Entre as medidas, destacam-se decreto proibindo o corte de mogno em áreas de desmatamento, durante cinco anos (só será permitida a exploração sob a forma de manejo florestal sustentável).

O ataque ao mercado foi feito justamente no momento em que Lula está sendo pressionado, até pelo vice-presidente, José Alencar, a mudar a política econômica, reduzindo os juros, e para permitir o crescimento da economia. No discurso, Lula lembrou que "ainda existe por parte de muita gente, uns por inocência e outros por má-fé, a vontade de passar a idéia de que quem defende o ambiente é contra o desenvolvimento, como se o desenvolvimento fosse apenas a destruição do que nós herdamos da natureza para colocar outra coisa no lugar".

Para ele, "é plenamente possível estabelecer uma boa política de desenvolvimento, sem destruir a natureza, sobretudo utilizando as riquezas" que dela podem ser extraídas.

Após defender a inclusão de matéria sobre ambiente no currículo escolar, o presidente se recordou do tempo em que era difícil ser ecologista. "Lembro o quanto o pessoal era achincalhado por este Brasil", disse. "Se quisermos fazer uma grande revolução neste país, sem precisar dar um único tiro ou ferir qualquer pessoa, a gente faz essa revolução a partir da família e do banco de escola".

Segundo ele, assim como a luta contra a fome requer parceria com a sociedade, um dos desafios do governo é promover uma "revolução mental" nas pessoas. "É superar o individualismo estéril que invadiu o imaginário brasileiro após uma década de pregação hostil contra tudo que fosse bem comum, contra o interesse coletivo, contra a soberania nacional, contra os valores da solidariedade e contra o patrimônio público."

Reservas - Lula anunciou a criação da reserva biológica Mata Escura (MG), da reserva extrativista do Batoque (CE), além da ampliação da estação ecológica do Taim (RS). Ressaltou que o governo liberou R$ 7 milhões para o programa Amazônia Sustentável, que passa a atuar com o Fome Zero.

A medida mais comemorada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi o combate ao comércio ilegal de mogno, que causou perdas de US$ 4 bilhões ao Brasil nos últimos 30 anos. Pelo decreto assinado ontem, salientou Lula, "os estoques apreendidos e que há anos se deterioram em portos e armazéns serão destinados a organizações sociais e ecológicas das áreas prejudicadas".

O primeiro termo de doação, assinado ontem, foi referente a 14.500 metros cúbicos de mogno apreendidos (no valor de US$ 2 milhões), que beneficiarão moradores Altamira (PA). As entidades da região poderão vender o produto.

Na cerimônia, cheia homenagens a Chico Mendes - a filha do seringalista morto em 1988 também discursou -, Lula defendeu "um novo padrão de preservação ambiental no País" ao lembrar que "a natureza é rica e bela, mas não é ela que vai salvar o Brasil".

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