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Lula promete enfrentar violência em RR

Diário do Amazonas-Manaus-AM
20 de Abr de 2005

Diante de ameaças de produtores de arroz contrários à demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, o presidente Lula assegurou ontem a 27 lideranças indígenas que não vai permitir a violência e a afronta de fazendeiros a índios de reservas reconhecidas. Ele prometeu, em solenidade no Palácio do Planalto, energia elétrica e direitos básicos, como saúde, educação e alimentação, nas aldeias.

Mas pediu paciência para implantar as medidas. "Essas coisas não acontecem do dia para a noite", disse o presidente aos índios. "Vai levar muitos anos para que a gente consiga devolver aquilo que um dia foi tirado de vocês."

A homologação da demarcação da reserva em Roraima, na semana passada, foi o único fato comemorado no Dia do Índio pelos caciques. Entidades que atuam na área lembraram a morte de 15 crianças guaranis por desnutrição nas aldeias de Dourados, Mato Grosso do Sul, em janeiro e fevereiro. O índice de crianças mortas no ano passado na região foi de 64 por mil. A média nacional é de 25 mortes por mil nascidas. As entidades também recordaram 19 assassinatos de índios ocorridos no Estado.

Lula assinou, durante a solenidade, a homologação de cinco reservas indígenas na Amazônia, com um total de 599 mil hectares. As terras são ocupadas pelos índios wapixanas e macuxis (Roraima), koixanas e koikamas (Amazonas), karajás, avá-canoeiros e javaés (Pará e Tocantins). "Temos que cuidar para não permitir que depois de demarcada uma terra os índios sejam afrontados por fazendeiros que poluem rios e derrubam matas."

O presidente comentou o preconceito contra os índios. "Durante muitos anos, na escola brasileira, se falou que o índio era preguiçoso, por isso o Brasil tinha de importar, trazer escravos da África", disse. "Na verdade, vocês querem a oportunidade de provar que são capazes de viver por conta própria". O cacique Jacir Macuxi, um dos que lutaram pela demarcação de Raposa Serra do Sol, deu a Lula uma peça de cerâmica e um boné de fibra de buriti. A solenidade no Planalto mostrou divergências entre as etnias. Ao ganhar uma bandeira do Brasil do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, uma líder da tribo Pankararu, do Nordeste, reclamou que os índios de grandes centros podem parecer com os brancos, mas são índios, numa crítica aos caciques da Amazônia que não vêem semelhanças entre eles. "A gente pode até ser igual a branco, mas sabe dançar toré muito bem", disse a índia.

Prefeito prepara reação armada

A reação mais radical à homologação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, está sendo articulada por um grupo de plantadores de arroz liderado pelo prefeito de Pacaraima, Paulo César Justo Quartieiro (PDT). Ele defende abertamente uma resistência armada. Desde que o governo anunciou o decreto que homologou a demarcação de 1,7 milhão de hectares, Quartieiro vem estimulando a desobediência e o enfrentamento às forças federais, se necessário.

Quartieiro tem pretensão de estender o movimento à Venezuela. "A nós, brasileiros de Pacaraima, resta duas opções: reagir ou aceitar o aniquilamento. Optamos pela reação", diz um dos trechos da carta que ele enviou ao prefeito de Santa Elena, na Venezuela, Manuel de Jesus Vallez. Na carta, ele reclama que Pacaraima está sitiada por forças federais e afirma que a decisão acaba com o sonho da integração e do mercado comum entre Brasil e Venezuela.

Associação mostra artesanato

A Associação dos Artesãos Indígenas do Amazonas realizou ontem à tarde, na praça Tenreiro Aranha, Centro, um evento com a demonstração de artesanato, dança e culinária indígenas para marcar o Dia Nacional de Luta em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas. Uma passeata organizada pela Pastoral Indigenista da Arquidiocese de Manaus, que também iria ser realizada ontem, foi cancelada devido à chuva. A presidente da Associação das Mulheres Indígenas Sateré-mawé (AMISM), Zenilda da Silva, afirma que não gosta quando a palavra índio é usada de forma pejorativa, como sinônimo de pessoa preguiçosa. "O índio ainda é visto como incapaz, preguiçoso, há uma discriminação muito grande, mas tem que ser respeitado pelo seu conhecimento, cultura e tradição", disse.

Ontem, juntamente com mais dez indígenas de várias etnias, a representante da AMISM levou as suas reivindicações ao prefeito Serafim Corrêa. "Pedimos mais trabalho para os indígenas aqui em Manaus, precisamos de trabalho. Também pedi pela saúde, que está ruim, e pela educação". A dificuldades dos indígenas de conseguir sobreviver de artesanato hoje é grande, ressaltou Zenilda.

Segundo a presidente da Manaustur, Arminda Mendonça, que juntamente com a Coordenadoria das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) apoiava o evento, afirmou que ontem foi uma oportunidade do público conhecer um pouco mais dos costumes que, segundo ela, representam hoje a base da nossa cultura e tradições, de grande importância cultural.

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