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Lula contesta críticas sobre biocombustíveis

O Globo, Economia, p. 23
06 de Jul de 2007

Lula contesta críticas sobre biocombustíveis
Presidente diz que produção não ameaça agricultura e que países desenvolvidos
não podem dificultar exportações

Vivian Oswald

O presidente Lula rebateu ontem as principais críticas dos países ricos ao aumento da produção de biocombustíveis nas nações em desenvolvimento e cobrou do mundo desenvolvido o compromisso de impedir que sejam impostas barreiras às exportações desses produtos. Convidado de honra da Conferência Internacional de Biocombustíveis, organizada pela Comissão Européia, Lula garantiu que o maior consumo de etanol e biocombustíveis não representa ameaça para produção agrícola mundial.

- A experiência brasileira mostra ser incorreta a oposição entre uma agricultura voltada para a produção de alimentos e outra para a produção de energia. A fome no país diminuiu no mesmo período em que aumentou o uso dos biocombustíveis. O plantio da cana-de-açúcar não comprometeu ou deslocou a produção de alimentos - disse.

Segundo o presidente, o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil ocupa menos de 10% da área cultivada do país, ou seja, menos de 0,4% do território:
- Essa área, é bom que se diga, fica muito distante da Amazônia, região que não se presta à cultura da cana.

Em discurso destinado às principais autoridades européias, cientistas e empresários, Lula aproveitou para pedir aos países ricos que não imponham obstáculos à comercialização dos biocombustíveis:
- Não podemos emitir sinais contraditórios. Os mesmos governos que reiteram seus compromissos com o desenvolvimento sustentável e com a redução do efeito estufa não podem criar empecilhos para que os biocombustíveis se transformem em commodities internacionais. Não podem gravar suas importações com pesadas alíquotas, que não aplicam ao petróleo e ao gás.

Antecipando-se às exigências que podem vir a ser feitas pelos países desenvolvidos para importar biocombustíveis, Lula anunciou a criação do Programa Brasileiro de Certificação Técnica, Ambiental e Social dos biocombustíveis, que deverá estar pronto até o fim do ano.

A idéia é garantir que toda a cadeia de produção no país siga critérios ambientais, sociais e trabalhistas. Essa é uma das principais cobranças dos europeus, que pretendem introduzir um mecanismo de sustentabilidade na nova lei de biocombustíveis que a comissão deve propor este ano.

Lula também criticou o estudo divulgado ontem pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que prevê o aumento dos preços dos alimentos em virtude do crescimento da demanda por biocombustíveis:
- Esse estudo deveria apresentar quanto os preços dos alimentos subiram depois que o barril de petróleo passou de US$ 28 para US$ 70.

Lula se diz otimista sobre acordo na OMC
Sobre a Rodada de Doha, no âmbito da Organização Mundial de Comércio (OMC), Lula se disse mais otimista e confiante de que os países chegarão a um acordo.

- Volto ao Brasil depois desses dois dias com a convicção de que será possível fechar um acordo. Já tivemos muitos problemas, mas hoje, com o clima tão positivo de que é necessário encontrar um entendimento, estou muito otimista.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, que se reúne hoje em Genebra com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, além de representantes europeus, americanos e indianos, também se disse mais otimista.

Sem falar em números, afirmou que as faixas negociadas já estão mais próximas do que se quer.

Apesar do fracasso da reunião de Potsdam, na Alemanha, em que o Brasil e a Índia se retiraram das negociações atribuindo aos EUA e à UE a culpa por não se chegar a um acordo, Amorim dá a entender que o clima das negociações melhorou e afirma que não se pode fazer "o jogo das culpabilidades".

- O que estamos fazendo na OMC é um exercício da democracia comercial. E é normal que todos queiram ganhar alguma coisa. É normal que não seja um processo fácil - disse Lula.

O Globo, 06/07/2007, Economia, p. 23

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