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Lojas passam a testar sacolas biodegradáveis

FSP, Dinheiro, p. B16
06 de Mai de 2007

Lojas passam a testar sacolas biodegradáveis
Grandes redes varejistas começam a distribuir embalagens que se degradam ao entrar em contato com ar, luz e umidade
Especialistas na área do ambiente afirmam que produto pode agravar a poluição e contribuir para o efeito estufa

Cristiane Barbieri
Da reportagem local

Os consumidores que foram recentemente ao Wal-Mart de Tamboré, região metropolitana de São Paulo, empacotaram suas compras com uma novidade: sacolas plásticas biodegradáveis. Em fase de testes, as novas embalagens foram adotadas pela rede americana depois que uma lei do município de São Paulo, tornando obrigatória seu uso, foi aprovada em primeira votação.
Apesar de ainda precisar passar por uma segunda votação na Câmara de Vereadores e pela sanção do prefeito Gilberto Kassab, todas as grandes redes varejistas têm estudado sua adoção em escala nacional. O Wal-Mart deve oferecê-las em suas 302 lojas até o final deste ano. O Pão de Açúcar testou-as no ano passado em sua loja no Real Parque, bairro da zona oeste de São Paulo, e o Carrefour também está trabalhando no assunto.
Com um aditivo em sua composição, essas sacolas se degradam três meses após serem expostas à luz, ao calor e à umidade. O que poderia ser comemorado como um grande ganho contra a poluição, no entanto, vem sendo apontado por especialistas como a criação de um novo problema ambiental.

"Lobby irresponsável"
"Essa lei é um lobby irresponsável", afirma Eloísa Garcia, gerente do grupo de ambiente do Cetea (Centro de Tecnologia de Embalagem), do Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos), órgão ligado à Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. "Há um risco grande de contaminação dos alimentos embalados e muito maior ainda de poluição do ambiente."
Isso porque, explica Garcia, as micropartículas resultantes da degradação do plástico podem ser absorvidas por rios e por lençóis freáticos. Como recebem pigmentos e minerais pesados durante a impressão, contribuiriam de maneira agressiva para a poluição do ambiente. Em aterros, também produziriam gás metano, um dos maiores responsáveis pelo efeito estufa.
"O fato de um material ser biodegradável não quer dizer que ele seja bom para o ambiente", afirma Garcia. "O Tietê está cheio de líquidos biodegradáveis e é um rio morto."
Outro argumento usado por especialistas contra as sacolas é que o plástico biodegradável deseducaria a população. Ao saber que as sacolas se degradam, as pessoas não se preocupariam mais com a reciclagem e teriam de comprar mais plástico para usar como recipiente de lixo. Além disso, o plástico biodegradável teria o poder de "contaminar" outros plásticos destinados à recompostagem.
"Também há uma preocupação sobre a manutenção da propriedade dos alimentos", afirma Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Abre (Associação Brasileira de Embalagem). "As pessoas costumam reusar os saquinhos e podem contaminar os alimentos."

Preocupação da lei
O autor da lei, o vereador Arselino Tatto (PT), diz desconhecer estudos que comprovem os benefícios -ou malefícios- das sacolas biodegradáveis. Segundo ele, a preocupação da lei é tirar da natureza o plástico, que leva dezenas de anos para se degradar.
"A lei diz que a degradação não pode ser danosa ao ambiente", diz Tatto. "Se o plástico for mesmo danoso ao ambiente, a indústria que se vire para arrumar outra alternativa", afirma o vereador.
As redes varejistas afirmam que esperam os laudos das autoridades competentes antes de adotar o uso das sacolas.

FSP, 06/05/2007, Dinheiro, p. B16

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