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Limite ecológico para a expansão

Valor Econômico, Especial, p. F4
02 de Set de 2013

Limite ecológico para a expansão

Por De São Paulo

O setor energético responde por cerca de 16,5% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil, um percentual muito abaixo do verificado no mundo, onde a energia é o principal setor poluidor, respondendo por 65% das emissões de dióxido de carbono. Com o etanol abastecendo boa parte da frota de veículos e a matriz elétrica baseada em hidrelétricas, o Brasil tem uma posição de destaque tanto na comparação com países desenvolvidos quanto com economias emergentes. Na China, 74% das emissões de poluentes globais estão relacionadas ao setor energético, na Índia, o percentual chega a 67%, nos EUA a 89% e na União Europeia a 79%.
Manter a matriz limpa dependerá de alguns esforços ao longo das próximas décadas, diante de vários desafios que se apresentam. Hoje a matriz elétrica nacional é baseada em hidrelétricas, que respondem por pouco mais de 80% da eletricidade gerada no Brasil. Contabilizada apenas a geração de energia elétrica, estima-se que o setor elétrico represente 2% das emissões de dióxido de carbono no Brasil, onde a maior fonte de emissão de poluentes globais vem das queimadas de florestas. Mas as dificuldades na obtenção de licenciamento de novos empreendimentos e limites físicos e econômicos para a expansão da hidreletricidade na região Norte poderão reduzir a fatia dessa fonte na matriz elétrica ao longo das próximas quatro décadas.
Estudo publicado em julho pela FGV Projetos sobre o cenário do setor elétrico até 2040 aponta os obstáculos que poderão surgir. "Começamos a viver uma transição na matriz de energia elétrica, o custo marginal de expansão hidrelétrica será crescente e a fronteira de expansão, no Cerrado e na Amazônia, trará uma grande sensibilidade ambiental. Portanto deveremos ver mais limites à expansão da hidreletricidade e deveremos ver uma diversificação maior de fontes", afirma Otavio Mielnik, coordenador do estudo. Com base em três cenários e em projeções de crescimento da demanda até 2040 em cada um deles, a participação das hidrelétricas, hoje em cerca de 80%, poderá cair para 57% a 46% da geração de energia elétrica.
"A energia de usinas eólicas, de biomassa de cana e nucleares deverá ganhar espaço", ressalta. No caso das usinas nucleares, cuja presença na matriz elétrica está em 3%, a participação, dependendo dos três cenários de demanda e de custo nivelado de energia, poderá pular para 5% a 15% até 2040. O gás natural, responsável por 5% da geração de energia elétrica, poderá ver sua presença elevada para 17% a 23%. Já a energia eólica, hoje com 1%, deverá saltar para 3% a 7%.
O próprio governo já está olhando a opção nuclear. A usina Angra III deverá entrar em operação no fim da década. Duas centrais no Nordeste e outras duas na região Sudeste estão no planejamento ao longo das duas próximas décadas. "Temos uma das maiores reservas de urânio do mundo. É uma energia limpa, firme e boa. Nossas usinas passam por revisões todos os anos e estão entre as mais seguras do mundo", destacou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, em evento semana passada em São Paulo.
O gás natural poderá ampliar sua presença. Portaria da Agência Nacional do Petróleo (ANP) determina que, a partir de 2015, a queima de gás terá de ser apenas de 3% nos campos de petróleo. Isso se combina ao cenário do pré-sal, em que há gás associado ao óleo. "O gás terá de ser mais usado, mas existem algumas incógnitas, como o custo de transporte e a eventual adoção de novas regras ambientais, já que a emissão de dióxido de carbono poderá ser precificada nas fontes em algum momento do futuro, o que poderá ter impacto", destaca Mielnik, especialista da FGV Projetos.
Para Mielnik, é preciso ampliar a visão de como são analisados os projetos. Seria importante ressaltar o reconhecimento de externalidades positivas, em especial a não emissão de gases de efeito estufa no processo de geração de energia elétrica, além de levar em conta a criação de benefícios econômicos e sociais entre os critérios que determinam a escolha de fontes para a expansão da oferta de energia elétrica. (RR)

Valor Econômico, 02/09/2013, Especial, p. F4

http://www.valor.com.br/empresas/3254814/limite-ecologico-para-expansao

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