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Limite a captação de rios afeta agricultura

FSP, Cotidiano, p. C4
23 de Jan de 2015

Limite a captação de rios afeta agricultura
Medida da União e do governo de SP atingirá 42 cidades, 4 delas em MG, totalizando 4,4 milhões de habitantes
Governador Geraldo Alckmin admitiu também restrição do uso da bacia do Alto Tietê para irrigação

DE CAMPINAS DE SÃO PAULO DO ENVIADO A ROSEIRA

São Paulo e a União limitaram a retirada de água de rios do interior do Estado. A medida afetará tanto a agricultura quanto a indústria e as companhias de saneamento.
A redução será de 20% para empresas de água --incluindo a Sabesp e a Sanasa, de Campinas-- e de 30% para indústrias e produtores rurais que têm autorização para captar água diretamente de rios como Jaguari, Atibaia e Camanducaia.
Segundo a resolução publicada nesta quinta (22) no "Diário Oficial" da União, a medida só será adotada quando os rios atingirem certos níveis.
No caso da região do Alto Atibaia, por exemplo, ela ocorrerá quando a vazão for igual ou inferior a 4.000 litros por segundo. Atualmente, é de quase isso: 4,07 mil l/s.
No total, 42 municípios serão atingidos (são 3.000 autorizações de captação), quatro deles em Minas Gerais, totalizando uma população de 4,4 milhões de pessoas. Entre as principais cidades paulistas afetadas estão Campinas, Bragança Paulista, Hortolândia, Limeira, Sumaré, Americana, Nazaré Paulista, Serra Negra, Valinhos e Vinhedo.
ALTO TIETÊ
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) também admitiu a hipótese de restrição do uso de água da bacia do Alto Tietê para irrigação.
O secretário da Agricultura, Arnaldo Jardim, disse em entrevista ao jornal "Valor Econômico" que o corte afetará 3.000 produtores de hortifrúti em todo o Estado. Em evento em Roseira (a 169 km de São Paulo), Alckmin afirmou, porém, que esse número ainda está sob avaliação.
O corte de água na irrigação, numa situação de crise, já havia sido defendido pelo atual presidente da Sabesp, Jerson Kelman, antes de ele assumir o cargo.
A medida, disse ele à época, deveria ser adotada mesmo que haja necessidade de indenizar os agricultores.
Segundo seu raciocínio, a água para consumo humano tem fonte limitada, enquanto a produção agrícola pode ser trazida de outros locais.
Alckmin vem tomando uma série de medidas para socorrer o sistema Alto Tietê, que ontem operava com 10,1% de sua capacidade.
Nesta quinta, ele disse que vai retirar, a partir da próxima semana, água do rio Guaratuba e levá-la para a bacia do Alto Tietê. "Equivale a colocar água para 150 mil pessoas."
Outra ação foi voltar a utilizar água do sistema Cantareira, que já atende a 6,5 milhões de pessoas, para abastecer bairros da zona leste, como Tatuapé, Carrão e Penha.
Com a crise, parte do abastecimento da região havia sido transferida para o Alto Tietê. Agora, com a decisão, o Cantareira "ganhará" mais 1 milhão de consumidores.
Para o governador, isso não demonstra que o Alto Tietê enfrenta situação mais crítica que o Cantareira. "Isso mostra que temos boa integração entre os sete sistemas."
Na quarta-feira (21), Alckmin também havia anunciado que vai usar parte da represa Billings para abastecer o Alto Tietê.
(VENCESLAU BORLINA FILHO, ARTUR RODRIGUES, FABRÍCIO LOBEL E FELIPE SOUZA)

Verduras vão ficar mais caras, diz agricultor

MONIQUE OLIVEIRA DANILO VERPA DE SÃO PAULO

O produtor Mário Tanaka, 41, afirma que a falta de água para a irrigação certamente fará o preço de verduras e legumes subir para o consumidor.

Tanaka planta alface, rúcula, vagem, pimentão e tomate em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo) e é fornecedor de famosos restaurantes e de supermercados da capital.

Hoje, diz ele, 200 g de verdura higienizada custam R$ 2,80. "Mas, se faltar água mesmo, pode chegar a bem mais que o dobro."

Em seu sítio, Tanaka utiliza água do Alto Tietê que, segundo ele, está com um volume bem mais baixo nos últimos meses.

"Em janeiro agora, era para estar com bem mais água que isso", diz. "Os últimos meses foram bem mais secos."

A solução para a falta de água, segundo o produtor, será diminuir a área de plantio ou investir em um sistema de reserva da água da chuva --o que aumentará o preço.

Ele explica que um agravante é o forte calor, que exige mais água para as plantas. "É como a gente, ser humano. [No calor] A planta também precisa de mais água."

O estrago, afirma Tanaka, só não será maior porque há anos ele vem desenvolvendo sistemas alternativos para diminuir o custo com a água.

"Instalei o sistema de gotejamento, que irriga só a raiz da água, e nebulizadores, que irrigam com vapor", explica.

'SANGUE'

Além dessas inovações, Tanaka construiu dois poços e investiu na hidroponia, técnica de cultivo em água, sem o uso de terra.

"Na hidroponia, a mesma água irriga várias vezes a mesma planta e outras. É um sistema fechado em que a planta tem contato apenas com a água que precisa", explica Fernando Seike, 35, gerente de produção.

"Mas não tem jeito", diz ele. "A água é o sangue de toda a plantação. Se faltar, acaba com tudo."

FSP, 23/01/2015, Cotidiano, p. C4

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/205181-limite-a-captacao-de-…

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/205182-verduras-vao-ficar-ma…

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