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Líderes exigem o seu direito à propriedade

Diário Catarinense-Florianópolis-SC
Autor: Angela Bastos
16 de Ago de 2001

Os caciques de Brasília batem cabeça sobre que tipo de obra será feita no Morro dos Cavalos. Túnel ou viaduto? Cada dia anunciam uma coisa. Fazem reuniões, audiências, vistoriam, gastam dinheiro público e tempo. Na aldeia do Morro dos Cavalos, onde vivem cerca de 100 Guarani, as lideranças não são contra a obra, mas exigem os direitos sobre a propriedade. Os Guarani aproveitam o tempo bom para fazer uma casa de bambu e barro. Parece estranho a troca da madeira e o telhado de amianto. Deu uma tempestade de pedra e as crianças ficaram muito assustadas, explica o cacique Artur Benites, 59 anos. Tratar bem as crianças faz parte da cultura indígena. Mas Benites tem mais um gol de vantagem: se casou quatro vezes, tem 16 filhos e 33 netos. Falando em gol, ontem também foi dia de expectativa na aldeia. Vamos assistir ao jogo do Brasil contra o Paraguai pela televisão e torcer pelo nosso país, dizia. Mas qual país? Afinal, o Paraguai é Guarani? O país onde vivemos, onde plantamos, cantamos e rezamos, respondeu Benites. Entre os 16 filhos da maior liderança no Morro dos Cavalos está Dunga Benites, sete anos. O menino foi batizado com este nome em homenagem ao capitão da Seleção Brasileira que, em 1998, levou o tetra nos Estados Unidos. Estou feliz aqui. Meu povo também, resumia Benites. Antes de Palhoça, a família de Benites vivia em Itajaí. Começaram com esta história da duplicação e tivemos que sair. Este assunto mexe com a gente de novo. Os Guarani plantam banana, limão e bergamota. O terreno íngreme não é dos melhores, mas dá milho e mandioca. Um dos orgulhos é o galpão com cerca de 100 pintos. Marcelo Benites, 22 anos, fez curso de agente de saúde, lê receitas e aprende com os mais velhos a fazer chás. Ele também herdou dos ancestrais o gosto pelos animais, como a ave arakwã (no Tupi) que abriga em casa. O branco chama este bicho de jacu, explicava Marcelo. Talvez o índio não saiba, mas gente que bate cabeça também pode ser chamado de jacu. Mesmo que não viva no mato. Técnico diz que Funai quer ganhar tempoO Ministério Público está preocupado com a sustentabilidade das comunidades indígenas depois que o trecho estiver em movimento. A antropóloga Dorothea Post Darella pensou em sugerir que um percentual do pedágio seja revertido às aldeias. No início de julho, um documento com novas ponderações sobre as medidas mitigadoras foi encaminhado ao Ibama. Um técnico do Ibama reclama de todo esse processo. A Funai quer ganhar tempo para negociar e receber mais verbas porque conta com poucos recursos no orçamento. O Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) aprova as verbas para as comunidades indígenas, ainda mais dentro de um projeto de duplicação de US$ 870 milhões. Mas um técnico comenta a falta de praticidade de algumas exigências como a compra de um trator para uma comunidade que não sabe operar a máquina e de acompanhamento técnico na implantação de projetos no trecho norte, já duplicado. A procuradora da República Ana Lúcia Hartmann afirma que muitos acordos para garantir segurança às comunidades do trecho norte não foram cumpridos, como sinalização adequada. No caso do trecho sul, a procuradora propôs que seja criada uma comissão de fiscalização para aplicação dos projetos, englobando Funai, DNER e Ministério Público. Quanto ao sucesso da implantação dos projetos previstos para os índios do trecho norte, a antropóloga admite que também depende da organização das próprias comunidades.

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