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Lideranças indígenas temem que beribéri se alastre nas comunidades

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/
Autor: Yana Lima
05 de Dez de 2011

O surto de beribéri nas comunidades indígenas do município de Uiramutã, ao norte do Estado, tem preocupado as lideranças que temem que a doença se alastre para outras comunidades. Após requerimento do deputado federal Paulo César Quartiero (DEM), o assunto foi tema de audiência pública realizada na semana passada, em Brasília. A denúncia que gerou o requerimento foi publicada na coluna Parabólica, meses atrás.

Em entrevista à Rádio Folha, no programa Agenda da Semana, apresentado ontem pelo administrador Marcelo Nunes, o presidente da Sociedade dos Índios Unidos de Roraima (Sodiurr), Lupedro Abel, salientou que o surto da doença se deve ao fato de a terra indígena Raposa Serra do Sol, assim como todas as comunidades, estar abandonada pelo poder público. "O governo federal precisa olhar para os indígenas como seres humanos que podem ajudar o país a se desenvolver", disse, ao salientar que os indígenas têm medo que a doença atinja outras comunidades, uma vez que a assistência tem sido negligenciada pelas autoridades locais.

Ao embasar sua solicitação de audiência pública, Quartiero justificou que quatro mortes de indígenas foram constatadas em 2007 e outras duas mortes em 2008, ano em que foram identificados 90 casos de pacientes suspeitos com os sintomas.

"Em 2011 já foram constatadas ao menos duas mortes na etnia Ingaricó, que vivem isolados ao sopé do Monte Roraima, onde só é possível chegar de avião, o que dificulta em muito o socorro a essas comunidades", diz a justificativa do requerimento.

Atuando no município há seis anos, a médica Silvia Regina explicou por telefone que há indícios de beribéri na região há mais de 20 anos e há indicativo de que esteja presente em todo o Estado. A princípio, os profissionais da região verificaram os sintomas na população local - da qual 98% são formados por indígenas. No entanto, foi necessária a vinda de técnicos do Ministério da Saúde para a comprovação do beribéri na região.

Regina explicou que a doença é causada pela falta de vitamina B1 no organismo, mas todos os pacientes apresentavam a falta de outras vitaminas e alto índice parasitário (vermes). "Então começamos a entender que não era só a vitamina que resolveria a questão. Tratava-se de um problema ocasionado pelas condições de saneamento básico e saúde como um todo", disse.

Para a médica, a mudança na sistematização da saúde indígena é preocupante. Ela afirma já ter presenciado o serviço de saúde prestado por diversas organizações, mas nenhuma delas atingiu o resultado alcançado pelo Programa de Saúde Indígena (PSI).

O programa é dividido em três equipes que se dividiram entre as 96 comunidades. Já a cobertura aérea é de responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). "Nunca havíamos tido essa organização na saúde aqui no município. Acreditamos que com a Sesai [Secretaria Especial de Saúde Indígena] assumindo, vamos retroceder", preocupou-se.

BERIBÉRI - A vitamina B1 (tiamina) é de grande importância para o bom funcionamento cerebral, relaxamento do sistema nervoso e fortalecimento do músculo do coração. Quando há carência no organismo, desenvolve-se a patologia conhecida como beribéri.

Os sintomas característicos são: insônia, cansaço e fraqueza nos músculos, mal-estar, perda do apetite, problemas respiratórios, dificuldade na memória, em alguns casos, o aumento no ritmo do coração, taquicardia ou até mesmo algum tipo de insuficiência cardíaca.

Para o tratamento adequado do beribéri é indicado o consumo da vitamina B1 para que assim a sua carência possa ser revertida. Com simples cuidados no consumo alimentar, pode-se evitar grandes problemas relacionados à alimentação inadequada.

http://www.folhabv.com.br/noticia.php?id=120531

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