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Lideranças do Xingu aguardam com expectativa o Governo Itinerante

24 Horas News-Cuiabá-MT
22 de Out de 2003

As principais lideranças do Parque Indígena Nacional do Xingu aguardam com expectativa a visita histórica do Governo Itinerante de Blairo Maggi, que nesta sexta-feira estará no Posto Leonardo Vilas-Boas, para onde será transferida toda a estrutura de Poder. Durante todo o dia, Maggi vai despachar com secretários e conhecer in loco os problemas dos 4 mil índios durante um dia.

Desde terça-feira, caciques e familiares de 40 aldeias, representando as 17 etnias, se deslocam para o Posto Leonardo, localizado no centro do parque. Para se chegar ao local, são necessários, dependendo da distância da aldeia, até dois dias de barco pelo rio Xingu e seus afluentes. É uma área de 27 mil quilômetros quadrados, do tamanho da Bélgica, um imenso cinturão verde localizado no Norte de Mato Grosso, na divisa com o Pará.

A movimentação no parque e seu entorno é semelhante apenas à cerimônia anual dos mortos - o Kuarup - quando representantes de todas as aldeias do Alto Xingu são convidados para homenagear os membros falecidos da aldeia anfitriã. Sua representação consiste em um tronco de madeira que é totalmente decorado para tal fim. Trata-se de uma celebração de interaldeias que começa durante o dia e segue noite adentro sendo concluída, após a cerimônia das cinzas enterradas, com a luta intertribal dos homens xinguanos.

A equipe da Superintendência de Política Indigenista do Estado chega nesta quarta-feira à noite no parque, levando alimentos e combustíveis para o deslocamento de barcos das aldeias até o local onde será montado o gabinete itinerante de Blairo Maggi. A partir de quinta-feira até sábado serão preparadas três refeições ao dia para 200 pessoas. Estão à frente da organização do evento no parque o geólogo José Seixas e o professor Rômulo Carvalho. Eles saíram de Cuiabá na terça-feira.

Além do cardápio dos índios - peixe e biju - estão sendo levados para o local 90 kg de arroz, 60 kg de feijão, 15 kg de macarrão, 15 kg de carne, 15 kg de frango e 25 latas de óleo, temperos, condimentos e gás. Os mantimentos seguem em dois barcos - um com combustível e o outro com alimentos - pelo rio Koluene, que desemboca no Xingu. São seis horas de barco a partir de Canarana (803 km de Cuiabá). As chuvas e as ondas que se formam no rio atrasam a viagem em mais uma ou duas horas.

"Defendidas com bordunas, flechas e muita articulação, as sociedades indígenas que vivem no Xingu formam uma unidade política com características culturais bastante comuns", explica o superintendente de Política Indígena, órgão ligado à Casa Civil, Idevar José Sardinha.

"Cada sociedade indígena tem sua autonomia, sua unidade política e um território mais ou menos definido. Na realidade não existe um domínio de uma sociedade indígena sobre a outra. Existe na verdade uma espécie de pacto sócio-político que determina a união destas sociedades indígenas distintas", informa o indigenista.

O Parque Nacional do Xingu foi uma iniciativa de sertanistas liderados pelos irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Vilas-Boas (todos falecidos). Materializado em 1961 pelo presidente Jânio Quadros, para preservar a cultura, hábitos e costumes desses povos, ninguém dava nada pelo destino da reserva. Instalada em terras pertencentes à União, acabou vingando.

Xingu é um oásis preservado pelos índios a ferro e fogo. O desmatamento da periferia ameaça a mata e os rios. Índios denunciam pecuaristas e madeireiras que avançam sobre suas terras e devastam o meio ambiente.

Com a visita do Governo Itinerante, os povos do Xingu vão fazer reivindicações ao governador Blairo Maggi na tentativa de conter a ação dos brancos e cobrar assistência na execução de vários projetos que serão discutidos com as lideranças indígenas.

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