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Liderança reclama de "monopólio" do CIR durante reunião com Lula

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/
21 de Abr de 2010

A divisão dos índios que vivem na Raposa Serra do Sol pode ter sido evidenciada anteontem, durante visita do presidente Lula da Silva a comunidade do Maturuca, em comemoração ao Dia do Índio e ao primeiro ano de validação da demarcação da reserva pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Além dos integrantes da Sociedade em Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima (Sodiurr) terem se negado a participar do evento e ameaçado fazer manifestações contrárias - que não se confirmaram -, outras lideranças sentiram-se preteridas na festa.

Um dos indícios foi o número reduzido de participação dos indígenas. O Conselho Indígena de Roraima (CIR), um dos organizadores da festa e que comanda a comunidade Maturuca, esperava reunir no evento 18 mil índios, entretanto jornalistas e autoridades presentes à visita do presidente afirmam que o número de participantes não passou de cinco mil.

Dílson Ingarikó, presidente do Conselho do Povo Indígena Ingarikó (Coping), participou de todo o evento e da festa durante a visita de Lula. Apesar de avaliar como positivo o encontro, disse que "faltou à comissão organizadora dar o mesmo espaço de discussão de políticas públicas para as outras organizações".

"As discussões que encaminhamos ao governo federal tramitam muito devagar, enquanto isso sofremos com diversos problemas. E nós, Ingarikó, poderíamos ter falado sobre isso no encontro com o presidente, mas não nos pronunciamos. As falas foram muito regionalizadas, quando poderiam ter sido distribuídos espaços para pessoas de diferentes regiões se manifestarem", criticou, acrescentando que o desenvolvimento sustentável das comunidades é um tema que merecia destaque, mas que "passou batido".

Neste sentido, ele deu como exemplo a exploração sustentável do Parque Nacional Monte Roraima, que geraria renda para os índios e que, apesar de reiterados pedidos, a proposta nunca saiu do papel.

"Que sejam ações emergências, de médio ou longo prazo, mas que sejam implementadas. Este desejo já esgotou o nosso povo, que sempre que precisa de algo não é beneficiado por estar em uma região de difícil acesso, como alegam as autoriadades. Precisamos de alternativas para ajudar nossa comunidade que está muito necessitada", ponderou.

Dílson ressaltou que o ponto de vista do Coping, a falta de oportunidade para relatar as questões de seu povo ao presidente não representa um rompimento com o CIR, mas um alerta para que em outras oportunidades o debate seja ampliado e não monopolizado.

"Sempre apoiamos o trabalho do CIR, reconhecemos a importância dele, só que toda discussão, todo posicionamento, não pode ser monopolizado, pois isso pode acabar com as parcerias. Onde só um fala para representar todo um povo, às vezes não é bom. Me preocupa como no CIR tudo é monopolizado", enfatizou o líder Ingarikó.

Dom Roque Paloschi, bispo de Roraima, observa uma possível divisão entre os indígenas como algo natural, diante do processo conturbado que foi a demarcação da Raposa Serra do Sol. Ele participou da festa em comemoração ao Dia do Índio no Maturuca, mas não estava presente à visita de Lula à região.

"No processo da demarcação houve muitas feridas. É normal que eventualmente haja algumas rachaduras. Não vejo isso com olhos de desespero. Os partidos políticos, em eleições, passam por divisões e é visto com naturalidade. O processo é dos indígenas, vivemos uma situação onde é preciso entender que nossa sociedade é cada vez mais pluralista, onde devemos aprender a contemporizar as diferenças", destacou.

CIR - O Conselho Indígena de Roraima negou qualquer "racha" entre as organizações indígenas. Disse que a festa foi dividia em três partes, sendo na Raposa, no Maturuca e no Camará, porque não havia infraestrutura para receber os 18 mil índios num só espaço.

"Não havia banheiro nem transporte suficiente para fazer a locomoção dos indígenas, além de a estrada que dava acesso à região onde ocorreu a festa com o presidente Lula estar em péssimas condições. Por isso os índios foram divididos nestes três momentos, mas sempre receberam apoio, alimentação e transporte", informou assessoria de comunicação do órgão.

"Mesmo assim, só de convidados havia 3 mil, que não ficaram até o final da festa porque não levaram barraca e estava chovendo muito nestes dias. Mas, entre toda a festa, circularam cerca de 10 mil pessoas entre convidados e indígenas", explicou a assessoria.

O CIR acrescentou que "todas as entidades indígenas estavam representadas, e que antes de ocorrer a reunião com Lula todos concordaram quem deveria falar com o presidente, e que, por coincidência, todos os líderes do CIR também são moradores do Maturuca". (A.T.)

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