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Liderança kaxinawá agoniza em hospital

Página 20-Rio Branco-AC
Autor: Juracy Xangai
30 de Jan de 2006

Depois de voltar do estado de coma, perder a voz e o controle sobre o corpo, seu estado de saúde é estável

Deitado sobre o leito número 57 na enfermaria masculina do pronto-socorro de Rio Branco, o professor Edson Medeiros Ixã, pai de nove filhos respira e se alimenta por meio de um tubo enquanto seu corpo emagrece sob o olhar do pai e da mãe que deixaram a aldeia e dia e noite se revezam na vigilância do filho à espera que desperte num milagre derradeiro.

Nascido Ixã Huni Kuin conforme sua nação kaxinawá, foi um dos primeiros e mais destacados professores indígenas do Acre. Depois de meses de internamento, várias cirurgias e de ter ficado em estado de coma por vários dias, sofreu seqüelas cerebrais tão graves que já não pode falar, nem tem qualquer controle sobre os braços ou pernas e, ele vegeta sobre a cama.

Sua triste condição chocou ao mesmo tempo que revoltou as lideranças Banê kaxinawá militante da Associação dos Seringueiros Kaxinawá do Jordão e o tesoureiro da Organização dos Povos Indígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia (Opin) Sinvaldo Sereno Kaxinawá.

"Ixã está internado no hospital desde sete de setembro do ano passado, já não tem mais condições nem de se alimentar sozinho e suas pernas estão enroladas. Mas as entidades que dizem cuidar da saúde indígena não fazem nada para tirar ele daqui e levar para tratar num hospital mais moderno", denunciou Bane.

Sinvaldo confirma as palavras de Bane. "Estamos aqui para pedir que ajudem a salvar a vida do professor Ixã que sempre foi uma grande liderança e um exemplo para todos nós. Ele ajudou a melhorar a vida de muitas pessoas e hoje está praticamente abandonado pelas autoridades que dizem cuidar dos povos indígenas. Nós queremos que ele receba um tratamento adequado porque não é bicho, ele é gente também".

Bane e Ixã também reclamaram das péssimas condições de funcionamento da Casa do Índio de onde teria desaparecido há mais de dois meses uma jovem Kulina de apenas 12 anos, que havia vindo a Rio Branco para tratamento de saúde. "Ela nem falava português, mas a direção da casa nada fez para encontrá-la. Quando a gente vai perguntar ou pedir alguma coisa, o diretor da casa só falta bater na gente. Já o Luiz Alberto da Funasa vive dizendo que está tudo bem, mas a verdade é que nada está certo". Protestou Banê.

Funai desconhece problema

O índio Antônio Apurinã que dirige a Funai no Acre disse desconhecer essa situação relatada por Bane e Sinvaldo. "Conheço o Ixã faz muito tempo, soube quando ele veio para ser internado em Rio Branco, como não ouvi mais falar dele, pensei que tivesse ficado bom e voltado para sua aldeia. Ele é uma pessoa muito boa e vou pessoalmente ver o que é que pode ser feito para ajudá-lo". Apurinã disse ter ouvido falar sobre o sumiço da índia kulina, mas também pensava que ela tivesse sido encontrada.

Já Luiz Alberto Fernandes o diretor da Funasa no Acre disse ter conhecimento do caso de Ixã, mas argumentou que seu quadro de saúde é irreversível e que removê-lo para outro lugar o exporia a riscos desnecessários sem que tivesse chance alguma de melhora.

"O que aconteceu foi que o apêndice de Ixã estourou dentro da sua barriga. A mãe o segurou na aldeia por dez dias tratando com ervas porque pensava que era feitiçaria, quando finalmente ele foi levado para o Jordão e depois trazido para o hospital, a infecção tinha tomado conta de seu corpo. Ele foi submetido a várias cirurgias, entrou em estado de coma e seu cérebro foi muito prejudicado. Se houvesse alguma esperança para ele nós já tínhamos feito o que fosse necessário", garante Luiz.

O médico Edgar Troncoso que vem acompanhando o caso de Ixã na enfermaria do pronto-socorro explicou que foram necessárias várias cirurgias para controlar a infecção, ele entrou em coma e quando voltou já não falava mais nem tinha controle dos braços e pernas porque o cérebro foi seqüelado. "Fizemos uma cirurgia para colocar o tubo pelo qual ele respira e instalamos uma sonda através da qual lhe fornecemos a alimentação. Seu quadro de saúde é estável, tanto que o único medicamento que recebe é um antibiótico profilático, mas infelizmente, seu quadro é irreversível".

Amor dos pais - Francisco Medeiros Kaxinawá, o "Txanú", 70 anos, oito filhos, pai de Ixã, deixou a aldeia Pão Sagrado acompanhado da esposa para vir à Capital dedicar-se única e exclusivamente a cuidar de seu filho. Morando na Casa do Índio, ele passa o dia no hospital e ela, as noites. Velam o filho na esperança de que um milagre aconteça.

"Ele comeu banana cozida com amendoim verde, então começou a passar mal com muita dor assim, no pé da barriga. A gente ficou dez dias cuidando dele com remédio tradicional, mas não deu certo. Daí, descemos dois dias para chegar no Jordão e de lá veio aqui pro hospital", relata seu pai.

Quanto ao tratamento que o filho e ele mesmo vêm recebendo do hospital, esclareceu que: "Eles cuidam direitinho dele, dão banho, dão remédio, não falta nada, só ele não melhora. Eu estou bem como na aldeia. A mulher e os filhos dele estão lá, mas os parentes cuidam deles."

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