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Líder indígena adverte países

A Crítica, Cidades, p. C6.
28 de Ago de 2002

Mostrar ao mundo que é vergonhosa a disparidade entre os recursos financeiros alocados para grandes projetos e os efetivamente destinados ao desenvolvimento socioeconômico das populações indígenas no Brasil e, em particular na Amazônia. É esse um dos compromissos do gerente técnico do Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI), Gersem dos Santos Luciano, 39, da etnia baniua, da região do Alto Rio Negro, que chegou ontem a Johanesburgo, na África do Sul, onde participará dos debates da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, que se estenderá até o dia 4 de setembro.

Gersem integra, na condição de convidado do Governo brasileiro, o pequeno grupo de indígenas do País presente nesse encontro. "Nosso compromisso é de acompanhar as atividades, inclusive os eventos paralelos e contribuir, por meio de intervenções, para que os participantes tenham uma visão mais voltada aos problemas que as populações indígenas da Amazônia Brasileira e Continental enfrentam", diz ele.

A política mundial de alocação dos recursos financeiros, nesse contexto, precisa ser severamente questionada, defende Gersem indicando a cúpula de Johanesburgo como um espaço privilegiado que deve ser usado para se travar essa discussão. A disparidade, de acordo com ele, só existe porque uma visão economista, forte dentro das instituições, sobretudo daquelas multilaterais que financiam grandes projetos, continua agindo vigorosamente, embora com discursos de defesa de projetos onde o desenvolvimento socioambiental estejam contemplados.

"Há setores que consideram um grande negócio investir bilhões de dólares na plantação de soja, de arroz, exploração de minérios, construção de hidrelétricas do que financiar populações indígenas, projetos pequenos e de médio porte que vão, efetivamente, contribuir para a qualidade de vida dessas populações", ressalta.

Ativo militante do movimento indígena brasileiro, Gersem Luciano afirma, com base na experiência pessoal acumulada, que os grandes projetos desenvolvidos na Amazônia têm contribuído pouco para o avanço da qualidade de vida das populações da região. "São iniciativas que atendem muito mais às grandes campanhas eleitorais", comenta.

Gersem considera que a questão ambiental ainda é tratada de forma tímida dentro das discussões travadas nos projetos econômicos. "Na maioria das vezes, quando o tema entra na pauta de debate, constata-se que é insignificante o valor dado ao item populações", critica. Para ele, se não houver uma nova equação capaz de reduzir o desequilíbrio na destinação da verba, a garantia de sustentabilidade econômico-social-ambiental das comunidades está ameaçada. "Tem-se muito dinheiro para destruir a floresta e pouco dinheiro para as ações de conservação e manejo dos recursos naturais", denuncia Gersem.

O gerente-técnico do PDPI adverte que se a atual relação for mantida no mesmo ritmo, deixará as populações amazônicas convivendo com a miséria e, assim, ela mesmo contribuindo, mesmo que em pequena escala, para a atividade predatória.

A Crítica, 28/08/2002, Cidades, p. C6.

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