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Líder do desmatamento hoje defende o ambiente

OESP, Economia, p. B12
14 de Mar de 2010

Líder do desmatamento hoje defende o ambiente
Para mudar imagem, Blairo criou projeto de recuperação de áreas de reserva e proteção permanente

Absorvido pela política, o engenheiro agrônomo Blairo Borges Maggi acabou se distanciando da linha de frente da atividade em que havia se tornado um especialista: produzir grãos.

Durante mais de uma década, ele foi o maior produtor de soja do País, até perder a coroa para o primo Eraí Maggi Scheffer. Governador do Estado de Mato Grosso desde 2002 - foi reeleito em 2006 - ,Blairo deve deixar o cargo no fim deste mês para concorrer a uma cadeira no Senado.

Para se dedicar à carreira pública, repassou a gestão de sua empresa, o grupo André Maggi (Amaggi), a um conselho administrativo presidido por Pedro Jacyr Bongiolo. A empresa ficou na 14.ª posição entre as maiores exportadoras em 2009.

Embarcando para o exterior óleo, soja em grão, farelo e milho, a Amaggi respondeu por quase 1% do volume total exportado pelo Brasil e subiu 19 posições em 2009 em relação a 2008 no ranking de maiores exportadores - o crescimento foi de 41,9%. À frente do grupo de Blairo estavam grandes empresas como a Petrobrás e a Vale.

Ele diz que o grupo diversificou as atividades, mas continua sendo grande produtor agrícola. Na safra 2008/09, plantou 139 mil hectares de soja, 56,9 mil de milho e 10 mil de algodão, com produção de 781 mil toneladas de grãos e 17 mil de pluma. "Sou produtor e vamos continuar crescendo", afirmou.

Como governador, Blairo passou a defender o conceito de produção sustentável que adotou em suas fazendas, depois de ser apontado por ambientalistas como o "rei do desmatamento".

Ele criou o MT Legal, projeto de recuperação das áreas de reserva e proteção permanente, e levou à Conferência Climática de Copenhague (COP 15), em dezembro, a proposta de pagar ao produtor que, podendo desmatar, mantém a floresta em pé.

O governador abriu o diálogo com ambientalistas. "Comecei a levar essas entidades para a discussão aqui e fora do País. Essa mudança no setor de conservação ambiental foi importante e o Estado não perdeu. A produção continua crescendo até 5% ao ano e, num horizonte de 15 anos, vamos duplicar a produção agrícola no Estado de Mato Grosso, sem desmatamento."

A fórmula, segundo ele, é destinar para a agricultura parte dos 25 milhões de hectares disponíveis para pecuária. "O grande negócio do Estado é a produção de alimentos. De 2003 para cá, reduzimos 90% do desmatamento, mas também mais do que dobrou o PIB (Produto Interno Bruto) do Estado, de R$ 22 bilhões para R$ 49 bilhões."

Segundo Blairo, a produção agrícola não mudou muito, mas a verticalização cresceu. "Passamos a usar a produção agrícola para produzir proteína animal, mais frango, mais suíno, mais bovinos, que são abatidos, saem prontos para o consumo, com valor agregado. Isso gera empregos com mais qualidade."

Com a candidatura ao Senado, ele pretende discutir nacionalmente a questão ambiental. "As duas coisas, a produção e o meio ambiente, podem andar juntas e nosso Estado é o exemplo disso", afirma. "O meio ambiente precisa ser parceiro também do setor produtivo e o ambientalismo caminha para isso." Como Blairo, vários outros grandes produtores de soja estão ligados à política, como o gaúcho Otaviano Pivetta, dono do grupo Vanguarda, o deputado federal Odílio Balbinotti (PMDB-PR) e o senador Gilberto Flávio Goellner (DEM-MT).

OESP, 14/03/2010, Economia, p. B12

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